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Chegando Sua Magestade ao Throno depois de Saudar a Rainha Nossa Senhora, e a S. S. A. A. R. R. occupou a cadeira, que lhe estava preparada.

Logo o Excellentissimo Secretario de Estado fez signal ao Rei d'Armas Portugal para dar recado ao Illustrissimo Desembargador do Paço Luiz José de Carvalho e Mello, para subir, e fazer a practica á Sua Magestade. Subindo o mencionado Desembargador ao estrado grande da parte esquerda, disse o Rei d'Armas Portugal --Ouvide, ouvide, ouvide, estai attentos. Entao o dito Desembargador, feita a devida reverencia a S. M., recitou uma eloquente e energica pratica: finda a qual, e feita a reverencia, se retirou para o seu lugar.

Prontamente subio o Excellentissimo Marquez de Castello Melhor ao estrado pequeno, e pôz diante de Sua Magestade uma cadeira raza com um panno de brocado de ouro, e sobre ella uma almofada da mesma tela com borlas e guarniçoens de ouro: aos Pés do mesmo Senhor pôz outra similhante cadeira para ajoelhar. Entao o Excellentissimo e Reverendissimo Bispo Capellao Mor. recebendo dos Mestres de Ceremonias da Real Capella o Missal rico aberto, e sobre elle o Crucifixo de prata dourada, o collocou sobre a almofada sobreposta a cadeira, e ficando junto á mesma, ajoelhou defronte de S. M., e o mesmo fizeraō os dois Excellentissimos Bispos, o de Azoto, Prelado de Goyazes, e o de Leontopoli, Prelado de Moçambique e Rios de Sena, como testemunhas do Real Juramento. Chegou-se ao mesmo tempo o Excellentissimo Ministro e Secretario de Estado á Cadeira de S. M., e lhe deu recado para fazer o juramento. S. M. ajoelhou sobre a almofada, que estava a Seus Pés, mudou o Sceptro para a maō esquerda,

e pondo a maõ direita sobre a Cruz e Missal, fez o juramento que lhe foi lendo o Ministro e Secretario d'Estado, tambem de joelhos junto a dita Cadeira.

Feito o juramento, S. M. tornou a sentar-se na Cadeira, e se levantarao o Excellentissimo e Reverendissimo Bispo Capellao Mór e mais Bispos, que voltarao para os seus lugares, e o Excellentissimo Ministro e Secretario d'Estado. Este desceu logo ao estrado grande, e no meio delle leu em voz alta a formula do juramento, preito e homenagem, que se devia prestar a S. M. Lido o qual, subirao ao estrado pequeno o Excellentissimo e Reverendissimo Bispo Capellaō Mór, e o Excellentissimo Reposteiro Mór, e affastarao para o lado da parte esquerda o primeiro a Cruz e o Missal, e o segundo a Cadeira.

Logo e Serenissimo Senhor Principe Real se chegou a fazer o juramento, lendo lhe as palavras o Ministro e Secretario d'Estado tambem de joelhos: passando depois S. A. R. a beijar a Maõ a El-Rei Nosso Senhor. Seguio-se o Serenissimo Senhor Infante D. Miguel, que ajoelhando, mudando o estoque para a esquerda, fez o juramento, e passou a beijar a Mao de S. M.

Desenrolou entao o Excellentissimo Alferes Mór a Bandeira Real, e o Rei de Armas Portugal convidou os Grandes Titulos, Nobreza &c. a prestar o juramento na precedencia; e assim o fizerao os Titulos Seculares e Ecclesiasticos, Ministros dos Tribunaes, Fidalgos e mais pessoas da Nobreza.

Findo este acto, o Excellentissimo Ministro Secretario de Estado se chegou á Cadeira de Sua Magestade, que acceitou a juramento, e assim o publicou o mesmo Ministro.

Logo o Excellentissimo Alferes Mór, desenro

lada a bandeira Real, disse em alta voz-Real, Real, Real, Pelo Muito Alto, e Muito Poderoso Senhor Rei D. Joao VI Nosso Senhor. O que foi repetido pelo Reis d'Armas, e pessoas da Varanda, tangendo os Ministreis e mais instrumentos mencionados.

Feita reverencia a Sua Magestade, desceu o Excellentissimo Alferes Mór com a Real Bandeira, acompanhando-o os Porteiros da Cana e Maça, Reis d'Armas, Arautos e Passavantes, e chegando ao meio da Varanda, onde havia um balcao e um estrado pequeno de tres degráos, subio a elle, e juntamente os Rei d'Armas Portugal; e voltando se ambos para o Povo, fez este a mesma advertencia, e o Excellentissimo Alferes Mor em voz alta acclamou outra vez a Sua Magestade, seguindo-se as mesmas formalidades.

Entao salvarao as fortalezas e os navios de guerra surtos neste porto, e se elevarao muitos fogos de artificios, que arremedavao um regular fogo rolante com perto de dois mil tiros. Foi neste affortunado momento que o immenso concurso do povo, que estava em frente da Varanda, e que atulhava as ruas contiguas, rompeu em unanimes e nao interrompidos vivas, que mostravao da maneira a mais evidente o prazer que trasbordava no coraçao de todos. Multiplicavaō-se os brados, e os seus echos erao encontrados pelas vozes dos espectadores, que ornavaō as janellas, e até occupavao os telhados, as torres das Igrejas e todos os lugares eminentes, donde nao podendo presenciar a Augusta Cerimonia, aproveitavao soffregamente o momento de desafogar os seus sentimentos, pospondo o perigo á que se arriscavao aos sagrados deveres que a lealdade inspira. Viáo-se ondear os lenços naɔ̃ só nos lugares proximos, mas em grandes dis

tancias, ouvindo-se distinctamente as vozes que acompanhavao estes movimentos. Naō hé possivel que as nossas expressoens retratem fielmente esta scena, cuja recordaçao sómente alvoroça os coraçoens. Pulando de jubilo parece que estes queriaõ supprir o que faltava aos sons já cançados, dando uma muda mas energica demonstraçao da sua fidelidade. Quando porem parecia que o enthusiasmo chegára ao cumulo, veio um novo espectaculo redobrár ainda, senao a affecto, as demonstraçoens. Apressemo-nos. Finda a segunda Acclamaçao, notificou o Rei d'Armas Portugal a Ordem de Sua Magestade que o accompanhassem só as pessoas, que haviao tido igual honra ao entrar na Varanda. Seguio entao a accompanhamento ao som dos instrumentos referidos, e vimos com prazer inexplicavel o Nosso Augusto Soberano com a affabilidade, o riso, e alegria em Seu Real semblante, receber benigno os applausos, que tao justamente se lhe tributavao, e tirando o chapeo nos differentes arcos, parar no portico algum tempo, repetindo o mesmo honrozissimo obsequio, e recebendo em troca novos votos, tao sinceros como bem merecidos. Não podendo fielmente expressar quanto sentimos, confeçamos todavia que a tao interessante vista nao podemos deixar de recordar, e repetir os versos do nosso Camoens:

"De um Rei potente somos tao amado,
"Tao querido de todos e bem quisto,
"Que nao no largo mar com leda fronte,
"Mas no lago entraremos de Acheronte."

Proseguio Sua Magestade para a Real Capella, á porta da qual o estava esperando o Excellentissimo e Reverendissimo Bispo Capellao Mór, revestido em Pontifical, e acompanhado do seu Cabido tambem ricamente paramentado, com a preciosa reliquia do Santo Lenho nas inaos,

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debaixo de um rico pallio: e chegando Sua Magestade, ajoelhou sobre uma almofada, e o Excellentissimo Bispo lhe deu a beijar a Sagrada Reliquia, notavel pela sua grandeza, e adornada de preciosissimas pedras. Feita depois a aspersao, seguio processionalmente para a Capella Mór, accompanhado Sua Magestade até o sitial, aonde ajoelhou, e fez Oraçao. Adiante de Sua Magestade ficou S. A. R. o Principe Real; adiante e immediato a Este o Serenissimo Senhor Infante D. Miguel com o estoque na mão levantado, e um pouco mais adiante o Alferez Mór com a Bandeira.

O Excellentissimo Capellao Mór poz no Throneto cercado de immensas luzes a sagrada Reliquia, e subinado ao Solio, entoou o Te Deum, que cantarao os musicos da Real Camara e Capella, dirigidos pelo celebre Marcos Portugal, Mestre de SS. AA. RR., Compositor daquella excellente Musica.

Apezar da sua grande extensao, a Piedade de Sua Magestade superou todos os obstaculos, que oppunha o incommodo que soffre há tanto. Assistindo em pé quasi todo o tempo, que durou o Hymno findo o qual, o Excellentissimo Capellao Mor recitou um verso e duas Oraçoens, analogas ao objecto, e chegando ao meio do altar, deu com a Cruz a triplicada Bençao Pontifical, abatendo o Serenissimo Senhor Infante o estoque e o Excellentissimo Senhor Conde Alferes Mor a Real Bandeira.

Reposta no Throneto a Cruz desceu o Excellentissimo Capellao Mór, saudou a S. M., e se retirou. Sua Magestade com todo o seu acompanhamento passou á Varanda, e dali ao Real Paço.

Por falta de espaço reservamos para outro lugar as outras demonstraçoens de prazer neste

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