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mento da saudade.* Todo o Portuguez esperava a volta do Soborano, o Pai de Familia para encher o mundo de gritos de filhos ternos, e agradecidos. Sim, o Portuguez esperava que seu Soberano viesse a Portugal, para desenvolver entao quanto hé grande, e proprio deste nome.t No entanto certo desgosto, desleixo, (e de que se nao faz çazo!) se apoderou do publico: Portugal foi sem futuro; o dia de hoje só se aproveitou no que importava ao particular de cada um. Quando os Principes sahiao Dias Santos, cavalgavaō; Todos seus povos os viao, Elles viaō, e ouviaō Todos quantos lhe fallavao. Ninguem pode ser querido De quem nao hé conhecido ; Que os olhos haō de olhar, Para o coraçao amar, O que tem visto, e sabido.

Era Portugal o cume,

Agora por máo costume

Se perdeo em poucos annos.

GARCIA DE RESENDE, na Miscellanea,

que vem no fim da Chronica d'El-Rey D. Joaō II.

+ Ninguem conheceo isto como o Senhor Rei D. Joao II. quando tomou por sua deviza um pelicano ferindo o peito para alimentar seus pintos, com esta letra-Pela Lei, e pela grey. Este Soberano, esperto observador da naçao, procurou dar lhe todo o desenvolvimento possivel; a sua Chronica por Garcia de Resende disto nos offerece as maiores provas.A Historia da minha Patria me há occupado desde os meus primeiros annos: eu lhe tenho dado estudos, que sempre restaráō no escuro.-Suscita-me porem agora a lembrança uma anecdota que nao deixarei de referir, pois hé propria para illustrar este lugar, como caracteristica de qual seja o genio da naçao.

Pela acclamação do Senhor Rei D. Joao IV. o Portuguez foi como despertado do lethargo da escravidão para a vida da liberdade, e independencia: esperava volver aos dias passados! Logo depois de tao feliz acontecimento, atravessava a Serra da Estrella D. Gastao Coutinho, e outro

Fieis ao que dispunha um tao desavantajoso systema, Ministros, e Homens de Estado, meditárao os inconvenientes de nossa situaçao: o brado do valor Portuguez: o mundo cheio de suas proezas, e nobres feitos, forao nullos: nao lhes merecêrao uma vista d'olhos, que tanto moderaria seu voto, e desalento. O cantor da naçao debalde celebrou suas gentes; nao foi escutado, nem o podia ser."

A grandeza de Castella, a pequenes de Portugal, como abafado nos Estados de um vizinho tao poderoso, foi o que unicamente virao-A existencia da naçao considerada, assim precaria, nao cuidárao em consolida-la e estabelece-la; alias a expozeraõ, e trouxeraõ mais de cedo á desconjuntar-se, e perder-se.

Diz-se, que ao Snr. Rey D. Sebastiao se annunciára, e propozera a mudança da Corte para a terra de Santa Cruz, ou Brazil, onde estabeleceria imperio, grande como suas ideas dezejavao.† Se eu não duvido de ter havido um tal Conselho, porque em fim, os peores sao os que pelo commum se offerecem aos Soberanos; de boamente com tudo, nao acredito que o grande Pe Antonio

fidalgo: um pastor cahido em annos desafogava os affectos do seu verdadeiro Patriotismo, fazendo retumbar os cobêllos da Serra com vivas ao Senhor Rei D. Joao IV.-Aquelles dois cooperadores da publica ventura, á um semelhante espectaculo estremecem enternecidos: párao e dizem ao velho:-Sim, com que o haveis defender? O velho encaraos; larga o cajado, e seguro, e mui inteiro lhes torna :-Com que Senhores? Com estes braços, e com este Peito Portuguez! * Nao foi assim o actual Soberano quando fez tirar dos Luziadas do grande Camoens letra, e deviza com que premiou os corpos do seu exercito, que tiveraō a fortuna de alcançarem occasiao de mais se poderem distinguir na ultima guerra. Esta lembrança do nosso Soberano hé um novo laurel que enfeita a urna das cinzas do Immortal Camoens.

+ Veja-se a Restauraçao Portugal Prodigiosa do Dr. Gregorio d'Almeida, aliás o P. Manoel de Escobar.

Vieira fosse tambem de um semelhante voto ao Senhor Rey D. Joao IV.. No que nao pode porem haver duvida bé que o Senhor D. Antonio, Prior do Crato, foi aconselhado por D. Pedro da Cunha, Bisavô do celebre D. Luis deste appellido, a tomar refugio, e fundar Reino no Brazil Ora para que este Conselho nao mereça os gabos, e louvores que D. Luis da Cunha lhe dá; para que se conheça que não podia ser senao igualmente nocivo ao Senhor D. Antonio, basta haver idea do que entao era o Brazil: basta recorrer á sua historia, bein como á do tempo, e observar ahi a falsa posiçao, em que hé considerado o Brazil, e Felippe Prudente de Hespanha, antagonista de Prior do Crato.

Todavia D. Luis da Cunha foi de opiniaõ e parecer semelhante,† chegando a dizer exagerativamente, " que El-Rey de Portugal jamais poderá dormir descançado e seguro, porque sempre

correrá o risco de os Cartelhanos invadirem seus Estados, cuja conquista, (avança), hẻ negocio de uma campanha.‡

Este nosso Ministro Diplomatico, bem celebre pela sua dexteridade, e de quem se pode dizer, pela maior pratica, e Conselho que teve nas negociaçoens, ser e Mentor dos Embaixadores e Enviados daquelle tempo, constituindo-se por isso, como Oraculo do Governo de Portugal nos dictames, e conselhos, que deixou escritos, veio, com a authoridade de seu nome, a consolidar, e

Veja-se no volume 1o do Investigador, No. 2, pag. 399, a carta de D. Luis da Cunha a Marco Antonio de Azevedo, Secretario d'Estado.

+ Em dois papeis differentes de D. Luis da Cunha há semelhante voto; na carta acima citada, e na outra de Instrucção geral que escreveo para o dito Marco Antonio d'Azevedo, mas que depois mandou a seu Sobrinho, tambem chamado D. Luiz da Cunha, que foi Secretario d'Estado.

Veja-se o Investigador Portuguez, vol. 1o, pag. 400.

estabelecer aquella opiniao.As maximas de D. Luis da Cunha tendo servido de norma aos Secretarios de Estado que vieraõ depois, dellas se formou, pela mudança da Corte para o Brazil, a unica razao, e fundamento da estabilidade da Monarchia Portugueza: tanto assim, que o Snr. Rey D. Joze, na guerra de sessenta e dois escolhia os Estados do Brazil para refugio, quando estes nao podiao defender-se, a resistir á invasao Castelhana; pois conquistada a colonia do Sacramento, entrada a Capitania do Rio Grande de S. Pedro, eraõ taladas as terras de S. Paulo, nao obstante o valor indomito de seus naturaes." De tal modo se achava arraigada, e prevalecia aquella opiniaō do gabinete Portuguez, de que as consequencias ainda forao mais desgraçadas:Portugal foi predio de que se litigava a posse, e de que o uso fructo, temporariamente, só era permittido nada de avanços pela melhoria, e restituiçao ao natural esplendor.-As riquezas que produzia o trafico feito em seus portos com os productos do Brazil; a interposição, que dava ao contrabando com os da America Hespanhola, erao mais promptas, e baratas; enchiao mais as medidas: a Agricultura, Pesca, Navegaçao, Commercio, e Artes, davao trabalho; haviaõ mister estudo, para terem, e se julgarem rendozas, e de lucro. Nao se advertia 'porem que as outras riquezas com o mesmo Brazil, sua defeza vinhao a ser dependidas; e que das rendas proprias do Reino hé que o Reino se mantinha.t Pelas mercadorias Americanas

Ainda doze annos depois succedeo isto mesmo, quando foi tomada a colonia, Ilha de Sta. Catharina, invadidas as terras do Rio Pardo, &c.: isto foi em 1774 por diante.

+ Ommittimos aqui maior discussao em prova deste argumento; pois isso quebraria o fio ao discurso, que bem despensa semelhantes particularidades.

vindas á nossos Portos, dávamos homens, que em actividade, e trabalho sao o verdadeiro, ou antes, unico valor, e riqueza dos Estados. Deste modo o Reino precisando colonias para sua povoaçao, abatia a mesma povoaçao por cauza das colonias. Os Céos tivessem, nao duvidamos dize-lo, os Céos tivessem permittido, que na Acclamação do Senhor Rey D, Joao IV, o Brazil, ou tivesse restado por Castella, ou tivesse sido Conquista da Hollanda, ou corrido outra fortuna! Sim Portugal teria, de necessidade, na sua glorioza Restauraçao, vindo á energia dos brilhantes, e heroicos dias do Senhor Rey D. Joao I. Portugal teria voltado á grandeza, que lhe pode competir em razao de sua situaçao, e que seus naturaes lhe procurariao com uma patria, e tendɔ. . . . tanto por onde se estenderem.

Vejamos sempre porem, qual hé o pezo que merece quanto diz D. Luis da Cunha.-Se examinasse qual fosse a authoridade que compete a este Ministro, diria que individamante e sem a menor reflexao, foi abraçado, e acolhido seu voto, ao qual se nao poz limite ou restricçao. Verdade hé que D. Luis fôra um atilado, e esperto Negociador; mas nao hé isto o que constitue a essencia e merito de um consumado Politico: assim hé que um bom Negociador muito deve saber de Politica, e Statistica; mas, estas sciencias nao fazem a sua, que mais se reduz a dexteridade, subtileza, e marcha no tratar de qualquer negocio, para que recebe instrucçoens competentes, do que aos conhecimentos esclarecidos da força, circunstancias, e natureza dos Estados, e suas particularidades todas, que hé o que forma o saber, e sciencia do Stadista, ou verdadeiro Politico. Para se mostrar que D. Luis da Cunha nao estava verdadeiramente no primeiro caso,

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