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flor de seos officiaes ou banida de seu paiz natal, ou definhando-se em masmorras; e já tem visto outros vertendo seu sangue nos cadafalsos, por vaos esforços para obter alguma diminuta porçao de liberdade para um paiz, que há tao pouco tempo, e tao valorosamente, defenderam contra a agressao Gallica.

Sou, Senhor, vosso obediente Criado,

UM PORTUGUEZ, Amante de seu Rey e de sua Patria.

REFLEXOENS SOBRE ALGUNS ARTIGOS DESTE NUMERO.

"Vitam impendere vero, et reipublicæ patriæ." ("Empregaremos a vida em defender a verdade, nosso Rey, e nossa Patria.")

LITERATURA PORTUGUEZA E ESTRANGEIRA.

Começámos este Artigo com a importantissima Memoria, que tem por titulo-Consideraçoens sobre a Séde da Monarquia Portugueza; e damoslhe o epiteto, de importantissima, porque ella trata um assumpto de que na verdade dependem todos os destinos futuros do vasto Reino Unido Portuguez, disperso pelas quatro partes do mundo. Se depois da nova jerarquia a que se elevou o Brazil, e de sua agregaçaõ á monarquia, como Reino, se tivesse logo designado com esta ordem de couzas outra capital para o Reino Unido Portuguez, nao seria já hoje conveniente, politicamente fallando, discutir esta questao. Mas

este grande ponto politico nao só está ainda por decidir, mas segundo todas as publicas declaraçoens de El Rey, Lisboa, hé ainda, de direito, a capital de toda a monarquia. Sim El Rey, o declarou quando, ausentando-se para o Brazil, disse aos seos povos da Europa, que sua ausencia seria temporaria; declarou-o ainda depois na resposta que deu as suplicas destes mesmos povos; e o mandou em fim declarar officialmente ao Governo Britanico pelo seo Ministro, o Marquez de Aguiar, em a Nota datada em 15 de Janeiro de 1815, a qual se acha transcripta no Investigador de Agosto de 1817, Vol. 19, pag. 211. Todavia se, por todas estas razoens, Lisboa hé de direito a capital do Reino Unido Portuguez, naỡ o hé, com tudo, prezentemente de facto; e como este facto se possa converter em direito, bem hé que esta materia amplamente se discuta, antes que se tome qualquer final resoluçao, pois que ella tanto interessa ao Rey como ao povo.

Confessâmos que nossa particular opiniao sobre esta materia, tem sido modificada, senaõ de todo alterada, por subsequentes reflexoens nascidas da marcha dos successos; e que se em outros tempos propendemos para o dezejo de vermos a capital da Monarquia estabelecida para sempre no Rio de Janeiro, hoje, todavia, somos de diverso parecer, e nesta parte nos conformâmos com o auctor da Memoria. Nossa presente opiniao funda-se nos principios seguintes, que brevemente desenvolveremos:

1. O Brazil nao poderá, talvez por seculos, defender Portugal.

2. Portugal, pode melhor neste intervallo, defender o Brazil.

3. A capital no Rio de Janeiro nada pode influir para a segurança do Brazil, nem hé ponto

central para vivificar todas as partes da Monarquia.

4. Lisboa, topographyca e politicamente considerada, merece ser preferida para capital do Reino Unido Portuguez.

Quando a nossa opiniao era que para os interesses de El Rey e do seo Reino Unido convinha que a corte se estabelecesse para sempre no Brazil fundava-se na persuasao em que entao estavamos de que o Brazil poderia defender Portugal, e que este nao poderia defender o Brazil. Esta persuasao nascia do vulto que fazia em nossa imaginaçao um immenso paiz, mui rico em producçoens da natureza, e da enorme extensao de 150,000 legoas quadradas. Todavia, nem a extensao, nem a riqueza local de um terreno formaō a sua força, quando este terreno nao tem braços bastantes, nem facilidades para communicar-se. Isto suposto, Por tugal hé mais forte do que o Brazil, porque ainda que seja infinitamente menos extenso, tem igual fertilidade de terreno e uma mui superior proporcional povoaçao, tal como a que vai de 26 habitantes para 833 por legoa quadrada. Se Portugal hé pois fisicamente e até moralmente mais forte, porque nao só tem maior porem melhor numero de habitantes, logo nao pode elle para sua defeza esperar auxilio algum do Brazil, pela razaō de que á Hercules nao daria auxilio uma criança em qualquer de seos terriveis combates.

*

Dois factos importantes da nossa historia moderna provao nossa proposição. Que auxillio teve Portugal, quer em homens quer em dinheiro, durante a heroica guerra de sete annos em que

O epiteto melhor hé só aqui aplicado á povoaçao negra e de cores.

pelejou contra a França? Se alguma vez Portugal necessitou ser auxilliado foi certamente nesta guerra tao desigual, em que seo patriotismo luctou contra todo o poder do mais forte e mais poderoso conquistador dos tempos modernos. Apezar disto, o Brazil nao lhe deu socorro algum, e de certo porque nao lho podia dar, porque seria fazermos grande injuria a nossos irmaons Brazileiros, suppor que tinhaō deixado de auxiliar-nos, podendo.

Mas não só o Brazil nao nos pôde dar soccorro na hora critica de nossa condemnaçaõ a uma morte politica, porem ao mesmo tempo ainda recebia de nós grandes soccorros pecuniarios. Os que tinhao propriedades em Portugal recebiao delle constantemente suas rendas; e assim Portugal sempre dava tudo e nada recebia. pois, se o Brazil, em tao tristes circunstancias, nao só nao pôde dar-nos nada, mas antes recebia, bem claro e evidente hé nosso primeiro principio em que estabelecemos, que elle nao poderá defender Portugal.

Ora

Pode com tudo dizer-se que o Brazil hé um paiz novo, que está em toda a força de sua adolescencia, que rapidamente cresce e se vigora, e que em bem curto periodo de tempo nos poderá prestar grandes soccorros. Isto hé uma grande illuzao. O auctor da Memoria diz que o Brazil já conta 4:000,000 de habitantes; nos porem temos este calculo por exagerado, e muito será quando tenha 3 milhoens e meio de habitantes. Supponhamos porem que tem 4 milhoens: nao sao dois terços negros e mulatos, escravos ou forros E com esta povoaçao hé que em poucos annos se há de roborar o Brazil? Alem disto, o Brazil importa annualinente couza de 50,000 negros e augmentará com elles a sua força? Augmenta a sua fraqueza; porque quantos mais VOL. XXI,

ST

escravos importar mais embaraços oppoem á um solido vigor. Ainda quando sua povoaçao actual de quatro milhoens, ou tres milhoens e meio fosse toda de brancos e homens livres, que annos lhe seriaō necessarios para formar uma povoaçao proporcional á povoaçao de Portugal; isto hé, em quantos annos passaria de 26 habitantes por legoa quadrada a 833, como ainda pode contar Portugal, apezar de todas as suas perdas e desgraças? Attenda-se para um exemplo moderno, e delle se poderá concluir para o Brazil. Os Estados Unidos da America, no tempo da sua independencia tinhao mui poucos escravos, e a sua povoaçao toda era boa, e uniforme. Escancararam, por assim dizer, suas portas ao genero humano, e adoptaram leis civis e politicas as mais proprias para augmentar a povoaçao nacional e atrahir a estrangeira. Tem ampla liberdade de consciencia, nao pagaõ dizimos, e nao tem feudos, nem tributos directos sobre suas terras: em razao disto sua povoaçao tem crescido em proporçao verdadeiramente. extraordinaria. Mas qual hé esta proporçaō? Quando elles proclamaram sua independencia, contavao a penas 2 milhoens e meio de habitantes, e no espaço de 40 annos, terao crescido pouco mais ao menos até 9 milhoens. Logo vê-se, que com todas as vantagens, que ficao apontadas, a povoaçao dos Estados Unidos cresceu, desprezada a fracçao, milhao e meio de habitantes em 10 annos. O Brazil nao pode contar hoje mais de um milhaõ de homens brancos pouco mais ao menos, e suppondo que sua povoaçao branca podesse crescer na mesma proporção da dos Estados Unidos, augmentaria cada 10 annos 600,000 habitantes; em 40 annos 2 milhoens e 400,000 almas; e em 100 annos, 6 milhoens pouco mais ou menos. Mas o Brazil nao pode crescer nesta proporçao, porque suas

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