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leis civis, politicas e economicas se oppoem radicalmente a este extraordinario augmento. Concedámos por tanto que só cresce por metade, e damos-lhe muito: terá em 100 annos 4 milhoens de habitantes com o capital que entrou de 1 milhaõ de brancos. E que hé isto para a immensa extensão do Brazil? Teria ainda só, neste cazo, 26 habitantes brancos por legoa quadrada; e por consequencia seria ainda tanto mais fraco do que Portugal, quanto vai de 26 para 833 habitantes que este ultimo presentemente pode contar. Parece logo mui verdadeiro o principio que estabelecemos;-que o Brazil nao poderá por seculos defender Portugal. E deste mesmo principio se segue, que a Sede da Monarquia no Brazil nao serve de proveito algum a Portugal, antes de ruina; por que esse mesmo vagoroso crescimento do primeiro se fará sempre particularmente á custa do segundo.

Poderá porem neste intervallo Portugal defender melhor o Brazil? Isto hé indubitavel; porque se elle hé actualmente muito mais forte, e deve sê-lo ainda por seculos, uma vez que sistematicamente se nao enfraqueça antes sim sistematicamente se fortifique e vigore; será sempre capaz de defender o Brazil, se á esta sua defeza fizica ajuntar a defeza moral, isto hé, fizer com que o Brazil se governe por leis racionaveis, moderadas, e justas.

Nós já dicemos que o Brazil nao pôde soccorrer Portugal nos seos ultimos desastres, mas podemos agora dizer de facto que Portugal tem forças para defender e auxiliar mui vigorosamente o Brazil. Quem entrou Monte Video, e guarda a magem oriental do Rio da Prata? As tropas de Portugal. E quem poderia sufocar a rebeliaō de Pernambuco, se ella nao tivesse sido tao insignificante. As tropas de Portugal; que talvez mais

de pressa
ainda la podessem chegar do que as
poucas e mui inferiores que se podessem mandar
do Rio de Janeiro. Felizmente o cazo de Per-
nambuco nao foi se nao uma mera estulticia de
meia duzia de loucos, auxiliados por algumas
tropas descalças e esfarrapadas, e por isto pôde
momentaneamente ser suffocado pela pouca
gente mandada da Bahia. Mas se o caso fosse
mais serio; e se a revolução em vez de rebentar
em Pernambuco, provincia falta de meios, reben-
tasse em outra qualquer Capitania, aonde tinha
o Brazil forças para sufocala? Havia necessaria-
mente de recorrer á Portugal e á Lisboa; o que
tudo prova que Portugal pode defender o Brazil,
e que este nao pode defender Portugal, como
bem o mostrou já em a nossa guerra dos sete
annos contra a França.

Temos visto como do Brazil nao pode vir
defeza para Portugal, e que deste muito melhor
a pode haver o Brazil; vejamos agora que influ-
encia pode ter na segurança do Brazil a perma-
nencia da Corte do Rio de Janeiro.
Ös pro-
veitos que ella pode dar ao Brazil sao unica-
mente locaes, e nao duvidâmos, que o Rio de
Janeiro e seos habitantes talvez prosperem .com
ella. Mas que influencia pode ter esta prosperi-
dade local nas outras partes tao remotas do
Reino? Nao houve já a insurreiçaõ de Pernam-
buco depois que a Corte está no Brazil? E por
ventura sufocou-se esta tao de pressa porque a
Corte lá está? Certamente nao: sua insignifi-
cancia produzio sua queda immediata. Ora,
assim como houve já esta insurreiçao, nao podem
haver outras muitas? Seguramente podem ;
porque se a existencia da Corte no Brazil nao
impedio esta, tambem nao impedirá outras se
lhes chegar a sua hora. E quando desgraçada-
mente as haja, donde tirará a Corte do Rio de

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Janeiro forças respeitaveis para as sufocar? Nao há de ser de Portugal e Lisboa? Logo para organisar e mandar ́estas forças hé melhor estar em Lisboa do que no Rio de Janeiro.

A Corte no Rio de Janeiro está situada em tal posição para com todo o Brazil, que mais dificilmente pode de lá communicar-se com muitas Capitanias do que se estivesse em Lisboa: Logo a Corte para estas Capitanias nada vale no Brazil, e vale mais em Lisboa. Alem disto as Capitanias distantes sao regidas por governadores, que em geral sao dispoticos em seos governos, e tratáo os brancos, como estes tratao os negros ; tal hé o impulso do exemplo da servidao: E neste cazo que mais importa aos habitantes do Brazil soffrer injustiças e despotismos perpetrados por governadores mandados do Rio de Janeiro ou de Lisboa? Para elles o mal hé igualmente pezado; e tanto sofrem com elle, quer venha de uma parte, quer de outra. Por conseguinte, nao será a Corte no Rio de Janeiro que hade manter a segurança do Brazil: haō de ser as boas leis, há de ser a imparcialidade e justiça com que forem executadas, e hao de ser os bons termos e rectidao de todos os governadores que forem mandados governar suas provincias, quer elles para la vao por ordens da Corte do Rio de Janeiro ou de Lisboa. Sendo isto pois indubitavel, parece sem replica nosso ultimo principio, em que estabelecemos, que-Lisboa, topographica e politicamente considerada, merece ser preferida para Capital do Reino Unido Portuguez.

Alem do que fica dito a respeito da insuficiencia do local do Rio de Janeiro para influir na segurança de todo o Brazil, acresce nao ser ponto central para vivificar todas as partes da monarquia. Nem mesmo todas as partes do Reino do Brazil pode elle vivificar melhor do que o de Lisboa pelo que já fica dito, e por ser assas sabido

de todos, que para muitas Capitanias do Brazil muito mais facil hé hir de Lisboa do que do Rio de Janeiro. Mas há outras circunstancias a que particularmente se deve atender, e que mui judiciosamente forao ponderadas pelo auctor dá Memoria. A Monarquia Portugueza nao se compoem só de Portugal e Brazil; compoem-se mais de muitas e importantissimas ilhas no oceano, de extensissimos dominios nas duas Africas, e ainda de mui importantes restos de nossa grandeza na Asia. Assim a cabeça de tao vasto imperio deve ser no lugar que mais commodo for para vivificar todas as suas partes. E quem poderá entao negar que Lisboa seja mais acomodada para isso do que o Rio de Janeiro? Nós sobre este ponto pouco nos demoraremos, por ser tão claro que nem merece discussaō; e só aconselharemos nossos Leitores, que ainda disso possao duvidar, que olhem para um Mapa do mundo por onde está disperso o Reino Unido Portuguez, e acompanhem este exame geographico com a leitura do nosso Luis Mendes de Vasconcellos, citado na Memoria, de que estamos tratando. Isto hé quanto basta pará mostrar a preferencia topographica que tem Lisboa sobre o Rio de Janeiro.

Mas alem desta preferencia local há ainda outra nao menos atendivel,-a preferencia politica. E quem della poderá duvidar? Quem hé que desampara um antigo e illustre solar para hir viver em outra habitaçao novamente adquirida, ainda que mui bella e mui rica? Nao hé Portugal essa terra classica de todos os Portuguezes, sempre famozos na paz e na guerra depois que se escreve a historia do mundo? Naō hé elle esse paiz de heroes que já arrojaram os Mouros desde o Douro até o Guadiana; o Sceptro de ferro Hespanhol desde Lisboa até Madrid; e os exercitos de França Moderna desde o Tejo

até o Garona? E nao será emminentemente impolitico hir sepultar tanto patriotismo e tanta gloria nos bosques e ermos do Brazil entre Indios e Pretos? Se a Corte se fixa por uma vez no Rio de Janeiro, que estimulos se deixaráõ ao povo Portuguez para elle continuar a considerar-se como naçao, e a estar pronto a morrer por seo Rey e por sua patria? Com o seo amor proprio offendido, e um coraçao lacerado de saudades pelo Monarca da sua escolha, nao será possivel que elle se entregue a freneticos delirios, e que até venha uma epocha em que de todo se esqueça da quillo que mais tem amado, e porque tantas vezes tem vertido seo sangue?

Nós até receâmos tratar mais amplamente este ponto; e por prudencia somos forçados a empregar mil reticencias, que todavia sao bem entendidas por todos. Nem mesmo teriamos entrado na discussão de materia tao melindroza se nao estivessemos bem persuadidos que nisto fazemos algum serviço á nosso Rey e nossa patria. Assim vamos terminar quanto antes estas nossas já mui longas reflexoens, que só nos resolvemos a fazer por que este grande ponto politico ainda nao está decidido, e Lisboa ainda hé de direito a Sé le da Monarquia Portugueza. Se elle porem se decide, e contra Portugal, entao acrescentâmos que melhor sorte se lhe deve dar do que aquella que elle tem prezentemente.

que

Primeiro tudo esta decisao deve ser, segundo nos parece, a mais pronta que for possivel; porque nada há que mais aflija o espirito humano do que uma longa incerteza do futuro. Em quanto ella dura, a imaginaçao nao poem limites a seos sustos, suas agonias, e seos dissabores; e muitas vezes concebe projectos desesperados. Neste cazo parece que a prudencia exige que por uma vez, e o mais brevemente

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