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Londres cercada e corrida de tropas, como se fosse uma cidade tomada de assalto, e o povo ainda d'essa vez nao proclamou a victoria. Mas se por muitas vezes lhe derem occasiao para combates, lá virá um dia em que elle possa ser vencedor, e entao quaes seraά os resultados? Nós estremecemos só com d'isto nos lembrar-mos. Toda a politica está em nunca permitir que o povo exercite as suas forças: o ficar por uma vez vencido nao hé sinal de fraquez: dehé só falta de exercicio ou de experiencia, que nunca se lhe deve deixar adquirir. As questoens, que agora se trataō em Parlamento sao taes, que ainda podem influir grandemente na sorte futura de Inglaterra.

Na Sessão do dia 15 fez Mr. Brougham uma proposta na Caza dos Coinmuns, que sem ter relaçao immediata com os interesses Britannicos, foi esperada e ouvida com uma avidez extraordinaria por todas as classes do povo. Ella com effeito emminentemente honra nao só o illustre Membro, que a concebeo e que a fez, porem o Augusto Senado aonde foi exposta. Fallamos da moçao a favor dos Patriotas Hespanhoes perseguidos. Hé todavia para lamentar, que o generoso Orador, que tomou à seo cargo tao honrosa empreza, a desempenhasse tao mal, em nossa opiniaō. Esta questao era assas delicada, e todas as forças oratorias se deviao derigir ao coraçao e nao ao entendimento. Precisavao-se nao tanto razoens, como fortes movimentos oratorios, que movessem e arrastrassem; em uma palavra convinha empregar a lingoagem energica do sentimento e das paixoens generosas, e cuidar pouco em ostentar argumentos. Quando se pertende empregar razoens em discursos, cujo effeito deve ser persuadir e mover, estas devem ser poucas, e taes que sobre ellas nao se excite a mais pequena duvida. Quando o Orador Romano tentou vencer a obstinada tenacidade de Cesar contra Ligario nao se occupou em distrahir-lhe a attençao com argumentos ou exemplos, feż todas as suas pontarias a alma do Dictador, inflamou-lhe o coraçao, alienou-lhe as faculdades, e o yenceo. Como se houve porem na causa dos Patriotas Hespanhoes o Orador Britannico? Começou por estabelecer um principio assas delicado,-o da ingerencia de um governo em os negocios do outro; quiz prova-lo Q

VOL. XV.

com muitos exemplos, e logo mostrou assim a fraqueza da causa. Passou depois a mencionar cousas ainda mais delicadas, como o comportamento das Cortes, e dos Patriotas que nellas figuraram; e com isto trouxe á memoria o pouco affecto, que as mesmas Cortes haviaō mostrado para com os Inglezes, destruindo assim qualquer bom effeito que as boas intençoens do seo discurso poderiao produzir. Um só movimento verdadeiramensua oratorio, em pregado por Mr. Brougham, a pezar de nao tirar d'elle todo o effeito que podia produzir, foi aquelle em que fallando do illustre Arguelles, dice:" Esse malfadado Cavalheiro, que nunca empregou seos grandes talentos senaō na "defeza da sua patria, e que taō heroicamente conseguio das Cortes a aboliçaõ do commercio de escravatura que estava a ponto de decretar-se, está agora "condemnado por Fernando a servir de soldado razo "na guarniçao de Ceuta, e em uma prizao pestilencial "da costa d'Africa, e a vista da nossa propria fortaleza "de Gibraltar!" Com effeito, esta idea feliz faz-nos lembrar a passagem de Cicero, em que, accusando Verres, diz pouco mais ou menos:" E até para maior insulto, um cidadao Romano hé crucificado á borda do mar, e em frente das terras de Roma, pára que a mesma vista do paiz da liberdade fosse um dos seos mais dolorozos tormentos!” A proposta de Mr. Brougham foi a final regeitada por 123 votos contra 42, que unicamente teve a seo favor.

Lord Castlereagh respondeo-lhe mui vigorosamente, e talvez porque a cauza o ajudava. Nós transcreveremos algumas passagens do seo discurso, que hé bem nao se risquem da memoria, porque talvez ainda venha occasiao em que, sem lembrar-se do que entao disse, nao faça reparo de as contradizer na pratica. A principal força das suas respostas consistio pois em mostrar, quanto era incompetente que um governo pertendesse interferir em os negocios puramente domesticos de outro governo, e a este respeito, disse, entre outras cousas, o seguinte:

"Nao há couza mais singular do que ver o honrado Membro, recomendando no seo discurso a interferencia do nosso Governo em os negocios do Governo de Hespanha, e ainda mesmo sem previamente saber se

neste negocio temos dado alguns passos, e quaes elles tenhao sido. Mas toda a politica do honrado e sabio Membro se limita em geral ao sistema de interferencia, sem se recordar que esta, em vez de ser preveitoza, seria talvez antes bem prejudicial para aquelles em beneficio de quem se empregasse. Se elle na realidade suppunha que alguma interferencia, em que naб entrasse a força das armas, podia ser de utilidade aos individuos de quem se tratava, de certo era impossivel que dentro dos muros da salla se tivesse ouvido em tempo algum um discurso tao pouco proprio para estabelecer a opiniao do honrado Membro. Porque; quaes haviaō sido os seos mais vigorozos argumentos? imputaçoens, e accusaçoens pessoaes contra o Monarca de Hespanha. Se o sabio e honrado Membro estava persuadido que a Caza tinha direito de julgar do mere cimento ou desmerecimento de qualquer independente Soberano da Europa, estava de certo altamente enga. nado; e por tanto a elle (Lord Castlereagh) se fazia preciso nesta occasiao fazer algumas observaçoens a cerca da qualidade de interferencia que em alguns cazos poderia utilmente praticar a Gram Bretanha. De boa mente admitia que nada era mais proprio da liberdade, e mais conveniente para o melhoramento da Europa, e progressos do espirito humano, do que o discutirem-se no Parlamento Britannico as grandes questoens de politica geral, para cuja discussaō elle era competente. Mas, ao mesmo passo, nao podia deixar de fortemente protestar contra a sua ingerencia em julgar os Soberanos independentes da Europa, e em decidir entre elles e os subditos questoens, nao puramente Britannicas, naõ de natureza geral, como-a aboliçaõ da escravatura, mas questoens particulares que só pertencem as auctoridades locaes dos paizes; em uma palavra, questoens que estao ligadas com a interna administraçao da justiça.

"Verdade era que, levada algumas vezes do seo forte impulso moral, a Gram Bretanha havia transgredido nesta parte os limites que a prudencia prescrevia, porem tambem era certo, que talvez estas transgressoens houvessem salvado o mundo; e á vista das suas circunstancias bem se podia prezumir, que as maçoens da terra justificaria os factos a que elle

alludia. Sim, era preciso confessar, que tinhaõ havido occasioens de bem injudicioza interferencia em os ne gocios dos outros paizes; e que se esta nao fosse repremida, muito viria a perder a Gram Bretanha d'aquella consideraçao e caracter, em busca do qual taō nobremente e depois de tanto tempo trabalhava. Era impossivel, que qualquer homem que houvesse estado no continente, e que soubesse o que ali se havia passado, e ainda se passava (elle Lord Castlereagh naó pertendia com isto individuar nimguem, nem facto algum particular), nao fosse sensivel ao ver o tom de interferencia, de commando, e até de desprezo, que os Inglezes mostravao em tudo que se nao comformava com as suas instituiçoens. Ora pois, se em taes praticas nao houvesse emenda, grande prejuizo sofreria a Gram Bretanha; e em lugar de gratidao, da parte d'aquelles entre quem isto acontecia, era muito para temer que nascesse grande falta de admiraçaõ e confiança. Com tudo podia certificar ao sabio e nobre membro (ainda que nao julgava conveniente aprezen tar as peças justificativas do que dizia), que se o governo de S. M. tinha cometido alguma falta nesté ponto, era de se haver intrometido n'elle muito mais que o seo dever lhe permitia. . . .”

Transcrevemos esta parte do discurso de Lord Castlereagh, nao só para mostrar que ao Governo Britannico nao tem sido indifferentes as perseguiçoens e os trabalhos dos infelezos Patriotas Hespanhoes; porem para conservar-mos em lingoagem Portugueza umà parte mui interessante das Confissoens politicas deste celebre Ministro. Ellas podem ser mui uteis, e até dellas tambem ainda se poderao fazer mui concludentes applicaçoens.

Mas de tudo o que se tem dito e passado em Parlamento no curto espaço desta Sessao nada nos parece tao extraordinario, e tao digno de ser mencionado, como o Protesto seguinte de Lord Holland :

Protesto de Lord Holland contra os Agradecimentos em approvação dos Tratados, agora aprezentados em Parlamento.

"L Pois que os Tratados e Contractos incluem em si uma directa garantia do actual Governo de França

contra o povo d'aquelle paiz; e na minha opiniao tambem incluem uma geral e perpetua garantia de todos os Governos Europeos contra os governados: Eu tenho por illegaes estes procedimentos; creio que sao impraticaveis; e recordando-me dos principios, em que estao fundadas a Revoluçao de 1688 e a suc cessao da Familia de Hanover, nao posso sanccionar com o meo voto um sistema, que, se houvesse prevalecido n'aquelles tempos, teria privado o Reino de todos os beneficios, que tem rezultado de um governo nacional, e de uma livre Constituiçao.

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(Assignado) "VASSAL HOLLAND."

Assumpto novo.

No Artigo Correspondencia do nosso No. 56, pag. 557, respondemos nós ao Leitor Constante, que se tinha muito empenho em saber quaes erao os nossos sentimentos á cerca das materias politicas á que allu dia, no proximo No. teriamos occasiao de o satisfazer. Este hé por consequencia o ponto de que agora vamos tratar, e quaze por uma especie de obrigaçao, depois que lemos em o No. XXII. do Portuguez de Fevreiro, a pag. 411, as seguintes expreçoens :-" E quem disse ao Leitor Constante que nao sao os Investigadores sequazes do nosso Credo?" Os Redactores do Investigador nenhuma força tem que os obrigue a mani festarem sempre as suas opinioens, portanto podem calar-se quando assim o julguem conveniente; mas uma vez que francamente as ennunciem, podem estar certos os seos Leitores, que dizem sempre o que na realidade pensao da materia de que tratao. Podem enganar-se, podem ter ideas que se nao comformem com as de muitos que os lerem; mas isto hé bem natural que assim succeda, uma vez que no mundo nao pode haver infallibilidade nos factos humanos, nem hé possivel que exista uma opiniao exactamente universal. O que vamos dizer hé por tanto a expressao, e copia fiel dos nossos pensamentos.

O Portuguez de Janeiro No. XXI. pag. 195, disse: Eu tenho um respeito santo e religiozo por todas as revoluçoens da natureza, e tambem por as da politica, se estas

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