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sempre dao a conhecer nelle uma forte agitaçaõ de alma, pronunciou estas próprias palavras: Pobre homem, que quer diplomatizar comigo! . . . ." E depois, continuando com mil expressoens de desprezo, que lhe sao familiares, se voltou para nós com um ar que ninguem poderá nunca exprimir, e dice:-" Hẻ uma bem grande prova da fraqueza do espirito humano o pensar de poder luctar comigo!" Nao, nunca palavras algumas me fizerao tanta impressao como estas ; e nada as poderá riscar já mais da minha memoria! Nabucodenosor, o Soberbo, devia certamente ser um modelo de humildade á vista de um homem, imbebido em taō copioza dóze de amor proprio!

Na minha chegada a Dresda o Imperador se informou com muita attençao do estado da minha saude; e quando eu lhe disse que tinha resistido á fadiga da jornada, respondeo elle:-" Ora ahi tem as mentiras que se contao: hontem, no quarto da Imperatris, se dice, que vos tinhao posto dois vesicatorios no peito." Certifiquei-lhe que nao era assim, o que pareceo darThe muito gosto. Eu nao sabia a que houvesse de atribuir esta ternura tao desusada de Napoleaō. Bem suppunha que nao era o dezejo de cumprir com as observancias religiozas que tinha motivado a minha jornada nesta occasiao. Pensei mesmo, que o Imperador tinha suas vistas sobre o Clero de Polonia, e era a supposição que me parecia mais provavel; mas nem per sombras podia lembrar-me do papel para que estava destinado. Finalmente, no momento competente declarou-se comigo da maneira seguinte.

No domingo 24 de maio mandou-me chamar, acabada a missa, e de pois de me haver novamente fallado a respeito da minha saude, me communicou as vistas que tinha em mim, sem todavia se explicar claramente: foi só em caza do Duque de Bassano que eu sube o titulo e a natureza da minha missaõ.... Elle fallou só de mandar-me á Polonia, dizendo-me:-"Hide " trabalhar; eu vou experimentar-vos. Já bem deveis "saber que naō hé para dizer missa que vos mandei aqui vir. Hé preciso que vivaes em grande appaLizongeai as mulheres, que hé o essencial naquella terra. Ja deveis conhecer a Polonia, porque já lestes Rhulieres . . . . Dentro de quinze dias

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"podeis ter cozinheiros . . . Eu vou bater os "Russos o tempo passa. Hé preciso ter aca"bado para o fim de Setembro, e talvez que já tenha perdido tempo. Enfastio-me de estar aqui "há oito dias que estou fazendo de galan, e de pequeno "Narbonne a o pé da Imperatris d'Austria." Nao sei que aversaō elle tinha concebido contra aquella Princeza; mas hé certo que se explicou a seo respeito em termos que a decencia me nao deixa referir. Fazendo-lhe algumas perguntas sobre o modo como devia portar-me em Polonia a respeito das potencias que a dividiram e que eraõ agora suas alliadas, respondeome vagamente, porem sempre de sorte que mui bem me deixou perceber, que depois de acabar com a Russia saberia tambem acabar com a, Austria, obrigando-a a aceitar a Illyria ou a passar sem ella. Dice claramente, que nao sabia ainda a quem daria o reino de Polonia, restituido á sua primeira integridade. Quanto a Prussia, a sua sorte estava bem clara:-ser absoluta e completamente despojada da Silezia e da Prússia propriamente assim chamada. Napoleaō exprimia-se sempre a respeito desta potencia com o mais profundo desprezo.

Declarou-me entao que o Papa tinha chegado a Fontainebleau, acrescentando, que a apparicao de alguns vazos Inglezes na bahia de Savona tinha servido de pretexto para a sua tresladaçao. Depois continuou dizendo: "Vou a Moskow, e uma ou duas batalhas "farao a festa. O Imperador Alexandre há de por-se "de joelhos; eu mando queimar Thoula, e ahi fica a "Russia desarmada. Já la me esperao: Moskow he o coração do Imperio: alem de que, eu hei de fazer

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a guerra com sangue Polaco. Quero deixar 50 mil "francezes em Polonia; fazer de Dantzik um Gibral"tar; dar 50 milhoens de subsidio annual aos Polacos

porque elles pao tem dinheiro, e eu sou bastante"mente rico para isso. Sem a Russia o sistema con“tinental hé uma tolice. A Hespanha custa-me bem "caro; se nao fosse ella já eu estava senhor da Europa, "Quando isto acontecer, meo filho nao preciso mais que de saber conservar-se: para isso nao hé precisa grande esperteza. Hide fallar com Maret." Tal foi, palavra por palavra, a sua conversaçao; bem importante sem davida pelas poçoens que dá dos seos $

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planos. Elle adoçou tudo isto com alguns elogios á minha pessoa, do genero daquelles que mui bem sabe dar quando o seo interesse o exige, mas que nos momentos de colera com muito prazer torna a tomar : entao nao há para elle senaõ tôlos e patétas.

Napoleaō contava com o exito mais completo da sua empreza; e a dizer a verdade, esta confiança era geral em todos os que estavao perto delle, tanto nacionaes como estrangeiros. Toda a mocidade militar de Paris olhava para a expediçaõ da Russia como para uma grande partida de Caça de seis mezes. O exercito todo corria para esta empreza com a segurança de um resultado feliz, com os dezejos de adiantamento, e com a voracidade das dotaçoens. Todos queriaõ ser da partida; e os que o nao eraõ queixavaō-se da sua má estrela, ou da justiça do Imperador.

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.M. de Pradt conta o desgosto que lhe cauzou esta sua nomeaçao; os obstaculos que teve para arranjar os preparos para ella; as difficuldades que achou em obter uma audiencia do Duque de Bassano; e depois continua assim.

Nao quero deixar Dresda sem fallar de algumas outras observaçoens que fiz quando ali estava. Podiase applicar a estada de Napoleaō em Dresda o que Phædra dice de Hypolito:

"Même au pied des autels, que je faisais fumer,

"J'offrais tout à ce Dieu...."

Com effeito, Napoleaō era o Deos de Dresda, o Rey entre todos os Reys, que ali appareceram,-O Rey dos Reys! Era sobre elle que se fixavao os olhos de todos; era em sua caza, e em torno delle, que se reuniao os Augustos hospedes, que habitavao o palacio d'El Rey de Saxonia. A afluencia dos militares, cortezaons, e estrangeiros; a chegada e partida dos correios que se cruzavao em todas as direcçoens; a multidao que concorria á porta do palacio, ao menor movimento do Imperador, correndo em chusma atraz delle com esse ar que inspirao a admiraçao e o pasmo; a expectaçao dos acontecimentos, pintada nas cáras de todos; a confiança de um lado, a anciedade de outro; este todo, variado e grande, apresentava o quadro mais vasto e mais delicado, e o monumento mais brilhante da gran

deza de Napoleao. Foi o seo mais alto ponto de gloria: bem podia contentar-se com elle, porque excedê-lo parecia impossivel.

El Rey de Prussia chegou bastantemente tarde. A sua entre vista com o Imperador excitava vivamente a curiosidade, por ser entre duas pessoas, que se achavaō em tao diversa posição; tao ameaçadora de um lado, e tao constrangida do outro! Correo porem no palacio que El Rey sahira della contente; e devo confessar que isto deo prazer á todos, sem excepçao, Allemaens e Francezes.

Todos estavamos impacientes por ver apparecer a Imperatris d'Austria. Sempre me há de lembrar a impressao que esta Princeza fez quando atravessou as grandes sallas do palacio, preceai pelo Imperador Francisco! Como toda a gente corria para encontrarse com ella! Como todos os olhos se fixavao sobre este novo espetaculo! Caminhava com a mais engraçada magestade, vestida á Hungara, traje, que realçava a beleza de seo rosto, e et, obria o que lhe faltava de gordura. Sem os ouvir, nao se faz idea dos aplauzos respeituozos, que se propagavao pornde ella passava, nem do que cada um dizia a cerca da impressao, que The tinha feito esta pessoa verdadeiramente Real! O encanto cresceo ainda quando ella deo audiencia (como todos os outros Soberanos) aos estrangeiros reunidos em Dresda. O bom senso das suas perguntas, o decoro de suas expressoens, a graça de seo porte e de suas palavras, sempre cheias de bondade, encantaram a todos; e se esta Princeza podesse ler no fundo dos coraçoens entao veria, que nenhum tinha deixado de ganhar. Cada um de nós se sentio conçolado pelo longo eclipse que tinha sofrido a Realeza, ao vê-la brilhar com um resplendor tao puro nesta admiravel Soberana.

O Auctor passa a contar como recebeo em fim as suas mesquinhas Instrucçoens da mao do Duque de Bassano, e partio para Varsovia. Eis o que elle diz da sua viagem, e entrada em Polonia.

Nao posso exprimir o que senti desde que passei o Elbo, e comecei a subir para as montanhas que dominao a margem direita deste rio. Quando atravessava os negros bosques, que logo começao nos arrabaldes de

Dresda, cobrem suas alturas, e estendem o crepe de sua funebre verdura até o fundo das terras septentrionaes; cada arvore se me figurava um cipreste. Ao passar o Elbo parecia-me, que entrava em um mundo novo, e que os laços que me prendiao ao que deixava se rom> piao, despedaçando-me o coraçao. Achava-me igualmente consternado pelo que deixava para traz de mim, e pelo que se me aprezentava em frente; pelo que perdia, e pelo que hià buscar. A Europa se me reprezentava acabada ao passar o Oder. Ali começaō uma lingoagem estranha, e costumes differentes dos da Europa. A povoaçao Judaica, que se distingue muito da natural do paiz, trajando sempre a moda da Asia, dá a aquella terra um ar Oriental mui assignalado. A Polonia ainda nare Asia, mas já naõ hé Europa: seo terreno hé estif, sua cultura está ainda na infancia. Estava-mos no mez de Junho, fazia um tempo admiravel, e a terra se conservava triste. Os animaes me pareciaō hideondos e enguiçados; o povo coberto de farrapos, e os Judeos de tragos nojentos. Os homens de raça Polaca sao altos em belas cores, mas sem As cazas sao outros expressao algum no olhos. tantos azilos da mise a, da porcaria, e dos insectos: as aldeas parecem esmagadas debaixo do pezo do Côlmo e enterradas em lama: as villas e cidades, construidas de madeira, sao desprovidas de ornatos e de todas as provisoens, que estao a cima das mais grosseiras necessidades. As cazas nobres sao feitas à proporção: os alimentos repugnao ao gosto e ao cheiro: e as bebidas sao nauseantes ou damnozas. Tudo isto nao podia pois diminuir os tristes pressentimentos que me acometiao: e quando perguntava á mim mesmo, se uma naçao tao pouco adiantada, era susceptivel do que se The pertendia fazer, uma resposta mortal ressoava no fundo de meo peito

(O fim destes Extractos se dará em o No. seguinte.)

Extractos de uma Memoria intitulada: "Dissertação Historica e Politica de Portugal."

A prosperidade de Portugal pende absolutamente d'uma reforma Económica, e Politica: a destruiçaõ do

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