Sivut kuvina
PDF
ePub

Papel-moeda hé um dos primeiros problemas, que devem resolver-se para est fim. Esta proposiçao hé susceptivel de diversas soluçoens: Um Secretário d'Estado dirá, que se augmentem os tributos, se diminua o exercito, e os tribunaes: hum grande da Corte dirá, que se publique huma bancarrota: um cidadao patriota dirá que se estabeleça a economia desde o Soberano, até ao particular; porêm um sabio nao adoptará nenhum destes pareceres; um sabio, como funda todos os seus projectos na Humanidade, na Moral, e na Ethica indagará o meio de destruir a Moeda papel sem perjuizo de um so vassallo, nem do Estado, e ponderará as utilidades, e desconveniencias deste partido. Em tempo de El Rei D. Joao Quinto, criarao-se trez cunhos novos de moeda de oiro ;-o de 6400, de 12,800, e de 24,000 reis. Portugal nao continuou a uzar das duas ulsimas moedas, talvez, porque conheceo que da qui lhe resultáraõ perjuizos notaveis: ora se entao foi util destruir estes cunhos; porque se nao há de agora destruir o primeiro, sendo necessario? Eisaqui o meio de matar a Moeda-papel. Toda a moeda assim de oiro, como de Prata tem 20 per 100 de prestaçaō; a moeda de 6,400 tem seis mil reis de pezo como oiro de 25 quilates, logo devia ter 1,200 de prestaçao; mas tendo so hum cruzado, segue-se, que o Estado tem deixado de lucrar tantas vezes dois cruzados, quantas sao as moedas de 6,400 que se tem cunhado; por consequencia tem direito a resarcir esta perda logo que seja necessário. Suppe que em Portugal haja 30, ou 40 milhoens de moedas de 6,400 fazendo-as entrar no Erario para se dar o seu equiva lente em moedas que tenhao 20 por 100 de prestaçao, lucrará o Estado 60, ou 80 milhoens de cruzados, menos 24 per 100 (pouco mais, ou menos) pois tanto perderá a oiro deste toque tornando ao fogo.

Para este fim hé precizo que no Erario haja huma somma em moedas miudas capazes de cambiar a primeira porçaõ de moedas de 6,400 que se apresentar; por que depois estas mesmas tornando ao fogo, e desfeitas em moedas menores sustentao o giro até extinguirém nos cofres particulares. Outra utilidade maior do que o consumo do Papel-moeda se tira deste procedimento, que hé o ficar a exportaçao da nossa

moeda de oiro. Todos os Politicos tem conhecido quam necessario seja vigiar rigorozamente sobre esta prohibição; e o Marquez de Pombal na carta em que pedio satisfaçao á Gran Bretanha de se ter queimado a Esquadra Franceza defronte de Lagos, lhe mostrou qual seria a sua decadencia se Portugual uma vez impedisse esta exportaçao, e naõ quizesse por este meio concorrer para os interesses da Inglaterra.

Notaveis sao as utilidades deste plano, e bastantes os seus inconvenientes; porêm todos remediaveis: em os penetrar, e prevenir hé que se deve empregar a politica, querendo-se adoptar este projecto. Conseguido que seja por este meio o resgate do Papelmoeda, Portugal tem dois partidos a seguir :-ou tornar a cunhar a moeda de 6,400, e conservar-se no Estado em que está, fazendo consistir a sua estabilidade no commercio pobre; ou tomar uma nova forma, e constituir-se formidavel, e os seus cidadãos. O primeiro hé mais suave (por ora) ao Soberano, á Corte, e a uma parte dos magistrados; mas quasi insuportavel ao corpo do Estado: O segundo pelo contrário será desagradavel á quelles, e aprazivel a estes. O primeiro nao hé util a ninguem; o segundo hé necessario a todos: As consequencias do primeiro seraō infalivelmente desgraçadas; e as do segundo de certo hao de ser felizes. Se o Ministerio Portuguez, estende as vistas alem do presente, deve adoptar o segundo partido; deve reformar o Exercito, a Marinha, e os Tribuna deve enviar colonias, deve destribuir os empregos, nao amontoalos em poucos sujeitos; deve promover a agricultura, animar as manufacturas, e obrigar os nacionaes a consumir os effeitos do paiz; porêm se estes procedimentos parecem pezados, e rigorosos; se o Governo Interior, Economico, e Politico de Portugal nao pode deixar de ser derigido por alguma naçao da primeira ordem, entao será melhor estabelecer um tributo positivamente para fundos de Amortizaçao do Papel-moeda; bem entendido que sem uma regulação da despeza do Estado, sem profundar, e cortar bem pela raiz as cauzas do nosso alcanse publico, nenhuma determinaçao será de algum effeito.

Quaesquer que sejaō as resoluçoens do nosso Ministerio em reparar as desordens Economicas, e Poli

ticas, que estao diariamente demolindo o estado, ellas devem ser tomadas quanto antes. Luiz Quatorze disse que a França precizava de uma revoluçaõ; mas por satisfazer-se de impedir que succedesse no seu tempo, vieraō os seus netos a ser victimas desgraçadas do furor popular.

Nós somos obrigados por direito natural, e divino a concorrer para a conservaçao, e prosperidade dos nossos filhos, e dos povos, que a Providencia nos subordinou. Este dever nao se cumpre preparando-lhes hum seculo desgraçado: Que homem (digno deste nome) deixará de sacrificar o seu gosto, os seus interesses, e ainda a sua existencia pelo bem do estado? A beneficencia, e a humanidade sao virtudes capazes de nos adquirir o amor dos homens, e a protecção da Providencia: Alexandre Magno hé mais louvado quando chora por ver a infeliz familia de Dario despojada da sua soberania, do que quando alaga a terra com o sangue dos seus semelhantes: O. Imperador Otho Silvio nao seria elogiado eternamente se naỡ escolhesse antes a morte do que conservar-se no throno a custa de immensas vidas: Cosseio Nerva vendeo quanto tinha de valor para comprar campos, que dividio pela gente pobre, dizendo:-"Assim como todos sustentao o estado do Imperio com Os seus tributos, assim o Imperador deve sustentar a todos com o mesmo que elles lhe dao." Com effeito este sensato Imperador conheceo bem, que os soberanos nao saō mais do que huns depozitarios das rendas do estado para as destribuir sem avareza, nem prodigalidade.

Constantino grande sendo ainda pagao quiz antes, viver enfermo toda a vida, do que fazer derramar o sangue de muitos Innocentes para banhar-se: Trajano commetteo tantos actos de humanidade, que o Papa S. Gregorio lastimado por se ter perdido um homem de tantas virtudes pedio, e conseguio de Deos a salvaçaõ daquelle hereje § morto haviao mais de 500 annos !||

Suetonio in Otho. c. 11. + S. Izidoro de Imperatori.
Socrates Histor. Ecclesiast. l. 1, c. 1.

§ S. Thomas 1 e 4, das Sentenças. S. Antonio p. 2, t. 12, c. 3. Nós respeitamos tanto as virtudes de S. Gregorio Papa como a auctoridade de S. Thomas: todavia parece-nos bem exquisita VOL. XV.

U

Sobre semelhantes monarchas hé, que o Todo Pederozo vigia, e lança as suas bençaos; hé nos seus estados, que o Senhor dos exercitos conserva a fraternidade, e abundancia; hé Deos quem muda os reinos* de um povo para outro em castigo das violencias, e injustiças, que se commettem; hé elle quem concedeo aos Romanos serem senhores de uma grande parte da terra, em premio da moderaçao, e equidade do seu governo; concedendo as virtudes puramente humanas, prémios que tambem o erao: hé elle quem chama os monarcas de Babilonia para castigar a prevaricacao do seu povo: hé elle quem conduzio como pela maō o Principe de Média § para punir a soberba dos Assirios, e libertar Juda. Hé pois este Deos, que as principes devem respeitar, e obedecer, abrigando igualmente os grandes, e pequenos; os ricos, e os pobres, como se explica a Escritura Sagrada comparando o throno a uma arvore grande e robusta, cujos ramos sobem ao céo, e parece estender-se até as extremidades da terra, que coberta de folhas, e carregada de frutos serve de ornamento, e felicidade ao campo; que offerece uma sombra agradavel, e seguro agazalho a todos os animaes; á cuja sombra os mais mimozos, e os mais ferozes se abrigao; cujos ramos dao morada ás arves do céo, e aonde todos os viventes achaō o precizo alimento.||

Sendo semelhantes a esta árvore hé, que os principes agradao ao autor da existencia, conciliao o amor dos povos, e conservao os seus estados: hé por esta razaō que os Portuguezes virao com socego depôr do throno D. Sancho Segundo, ao mesmo tempo que achavaō pouco dar a vida pela existencia de D. Joao Segundo.

Em toda a Historia do Mundo nao há noticia de um estado cujos monarcas nao fossem um dia sacrificados, ou perseguidos pelo seu povo á excepção de Portugal; parece logo que nao há um povo tao digno de ser estimado pelos seus principes como os Portuguezes.

toda esta historia para se citar de boa fé. Trajano nao foi hereje era um bom Pagao, e melhor que muitos Christaons.-Nota dos Redactores. * Ecclesiastico, 10, 8.

+ S. Agostinho. Tratado da Cid. de Deos, l. 5, c. 19, 20. § Ibid. 45, 13, 14.Valerio Maximo, l. 6, c, 4.

Izaias, 5, 25, 30, 10.
Daniel, 4, 7, 9.

Com effeito ós Portuguezes sao hoje aquelles mesmos Luzitanos, que responderam a Decio Bruto que tinhao herdado armas para defender a patria de Tiranos,* e nao dinheiro para comprar a liberdade a homens ambiciozos.

Sao aquelles mesmos a quem o grande Metridates, Rei do Ponto, mandou embaixadores,† pedindo-lhes soccorro para resistir á potencia Romana: sao aquelles mesmos, que ensinaram aos Francezes a arte da guerra,‡ e os auxiliárao contra Cezar: sao aquelles mesmos, que senaō satisfizeraō sem entregar prezo § D. Sancho Rei de Castela, a seu irmao D. Garcia Rei de Portugal: sao aquelles mesmos, que se tem libertado por muitas vezes da sujeiçao estrangeira: sao aquelles mesmos, que puzeraō no throno de Portugal a Serenissima Caza de Bragança: sao aquelles mesmos, que tem abrilhantado a Historia do Mundo com as suas acçoens : sao finalmente uns povos, capazes de sustentar no solio a Dom Joao o Sexto.

Replica "ponto por ponto" ao Relatorio Especial dos Directores da Instituiçaõ Africana, por R. Thorpe.

(Continuada da pag. 24 do No. LVII.)

Nao declara por ventura o Acto de Parlamento feito para se encorporar a Companhia de Serra Leoa;— "Que a Companhia nao deveria por modo algum, tanto directa como indirectamente, por meio de agentes, creados, ou autros quaesquer individuos, commerciar em escravos, ou possuir, conservar, e empregar em seo serviço alguma pessoa ou pessoas em estado de escravidao?" E nao tem a confissão de seos proprios creados, patente nas suas mesmas publicaçoens, junto com os documentos que hei apresentado, mui claramente comprovado que os ditos creados comprárao escravos, que os possuirao, e empregárao como taes; e que apezar disso os Directores desta Companhia fomentárao pro

* Valerio Maximo, 1.6, c. 4.

+ Plutarco in vita Sertor. Lucio Floro, l. 5, c. 22.

+ Paulo Orozio, 1. 6, c. 8. Commentarios de Cezar, 1. 3. § Hist. Geral de Hespanha, p. 4, c. 2.

« EdellinenJatka »