Sobre semelhantes monarchas hé, que o Todo Pederozo vigia, e lança as suas bençaos; hé nos seus estados, que o Senhor dos exercitos conserva a fraternidade, e abundancia; hé Deos quem muda os reinos* de um povo para outro em castigo das violencias, e injustiças, que se commettem; hé elle quem concedeo aos Romanos serem senhores de uma grande parte da terra,† em premio da moderaçao, e equidade do seu governo; concedendo as virtudes puramente humanas, prémios que tambem o erao: hé elle quein chama os monarcas de Babilonia para castigar a prevaricaçao do seu povo: hé elle quem conduzio como pela maō o Principe de Média § para punir a soberba dos Assirios, e libertar Judá. Hé pois este Deos, que as principes devem respeitar, e obedecer, abrigando igualmente os grandes, e pequenos; os ricos, e os pobres, como se explica a Escritura Sagrada comparando o throno a uma arvore grande e robusta, cujos ramos sobem ao céo, e parece estender-se até as extremidades da terra, que coberta de folhas, e carregada de frutos serve de ornamento, e felicidade ao campo; que offerece uma sombra agradavel, e seguro agazalho a todos os animaes; á cuja sombra os mais mimozos, e os mais ferozes se abrigao; cujos ramos dao morada ás arves do céo, e aonde todos os viventes achaō o precizo alimento.|| Sendo semelhantes a esta árvore hé, que os principes agradaō ao autor da existencia, conciliao o amor dos povos, e conservao os seus estados: hé por esta razaō que os Portuguezes virao com socego depôr do throno D. Sancho Segundo, ao mesmo tempo que achavaō pouco dar a vida pela existencia de D. Joao Segundo. Em toda a Historia do Mundo nao há noticia de um estado cujos monarcas nao fossem um dia sacrificados, ou perseguidos pelo seu povo á excepção de Portugal; parece logo que nao há um povo tao digno de ser estimado pelos seus principes como os Portuguezes. toda esta historia para se citar de boa fé. Trajano nao foi hereje era um bom Pagao, e melhor que muitos Christaons.—Nota dos Redactores. Ecclesiastico, 10, 8. + S. Agostinho. Tratado da Cid. de Deos, l. 5, c. 19, 20. Com effeito os Portuguezes sao hoje aquelles mesmos Luzitanos, que responderam a Decio Bruto que tinhao herdado armas para defender a patria de Tiranos, e naõ dinheiro para comprar a liberdade a homens ambiciozos. Sao aquelles mesmos a quém o grande Metridates, Rei do Ponto, mandou embaixadores,† pedindo-lhes soccorro para resistir á potencia Romana: sao aquelles mesmos, que ensinaram aos Francezes a arte da guerra,‡ e os auxiliárao contra Cezar: sao aquelles mesmos, que senaō satisfizeraõ sem entregar prezo & D. Sancho Rei de Castela, a seu irmao D. Garcia Rei de Portugal: saõ aquelles mesmos, que se tem libertado por muitas vezes da sujeiçaõ estrangeira: sao aquelles mesmos, que puzeraō no throno de Portugal a Serenissima Caza de Bragança: sao aquelles mesmos, que tem abrilhantado a Historia do Mundo com as suas acçoens : sao finalmente uns povos, capazes de sustentar no solio a Dom Joao o Sexto. Replica "ponto por ponto" ao Relatorio Especial dos Directores da Instituiçaõ Africana, por R. Thorpe. (Continuada da pag. 24 do No. LVII.) Nao declara por ventura o Acto de Parlamento feito para se encorporar a Companhia de Serra Leoa;"Qué a Companhia nao deveria por modo algum, tanto directa como indirectamente, por meio de agentes, creados, ou autros quaesquer individuos, commerciar em escravos, ou possuir, conservar, e empregar em seo serviço alguma pessoa ou pessoas em estado de escravidao?" E nao tem a confissão de seos proprios creados, patente nas suas mesmas publicaçoens, junto com os documentos que hei apresentado, mui claramente comprovado que os ditos creados comprárão escravos, que os possuirao, e empregáraó como taes; e que apezar disso os Directores desta Companhia fomentárao pro * Valerio Maximo, 1. 6, c. 4. + Plutarco in vita Sertor. Lucio Floro, l. 3, c. 22. Paulo Orozio, 1. 6, c. 8. Commentarios de Cezar, 1. 3. 8 Hist. Geral de Hespanha, p. 4, c. 2. tegérao, e promovérao os interesses desses mesmos creados? Acaso não ordena o Acto Parlamento do quadragesimo septimo anno do reinado do presente Rei, capitulo 44, secçao 4-" Que nao será licito á quaesquer pessoa ou pessoas, que residirem ou se acharem, ou que para o futuro venhao a residir ou estar na dita peninsula ou colonia de Serra Leoa, já directa ou indirectamente commerciar em escravos ou dar o menor auxilio á hum tal trafico, tanto na dita Peninsula como em outra qualquer parte?" E nao obstante isso, nao confessa o Governador Ludlam, que elle comprára quarenta escravos para o serviço do governo das carregaçoens da xalupa Americana Baltimore, e Escuna Eliza, as quaes forao levadas á Serra Leoa, pelo navio de guerra Britannica Derwent, sem que porem nunca houvessem sido condenadas? E não confessa o dito Governador Ludlam, que consentira e auxiliara a venda e compra de escravos das preditas carregaçoens na colonia de Serra Leoa, já depois de haver passado o Acto? E nao foi Ludlam, depois deste acontecimento, promovido por intervenção dos Directores á hum emprego com hum salario de mil e quinhentas libras por anno? Nao foi o grande amigo desses mesmos Directores, Mr. A. Macaulay, irmao e agente de Mr. Z. Macaulay, quem nesta occasiao comprou escravos, e. prestou todos os auxilios necessarios aos captores? Naō. foi Mr. Smith tambem hum dos compradores neste. mesmo mercado; e apezar disso nao foi elle recommendado ao Capitao Columbine por alguns dos Directores para que este lhe desse o meo lugar de Juiz do Tribunal do Vice Almirantado? Nao fizeraō elles com que Lord Bathurst mandasse dar ao mesmo Smith setecentas libras do meo salario? E nao fecharam elles os olhos ao seo iniquo procedimento em quanto presidio nesse tribunal? Em uma palavra nao se tem elles esforçado por palliar esta nao menos abominavel que illicita venda e compra de escravos, por amparar, e auxiliar todos os seos antigos creados, que nella se acharao implicados? Nao declararao os principaes Directores da Companhia, que considerávao o commercio de escravos como injusto e deshumano? Nao julgarao elles ser insufficiente a simples pena pecuniaria e nao alcançarao por tanto hum Acto de : Parlamento que diz ser crime capital o traficar en escravos, ou o auxiliar por qualquer modo este commercio, quer seja por meio de creados, agentes, feitores, &c.? E apezar disso nao tem o Governador Ludlam e outros mais admittido, que os agentes, e feitores da Companhia compravao escravos na Africa e os transportavao para Serra Leoa, onde os faziaõ trabalhar sem lhes dar a mais pequena remuneraçao, e os assalariavao por certas somas? Nao confessa o mesmo Relatorio Especial que os creados da Companhia suppriao as feitorias e donos de navios de escravatura com todos os artigos de que estes precisavaō para mercar escravos? E nao era isto auxiliar e promover este illicito commercio ? E nao obstante isto os mesmos senhores, cujos creados, commetiao tao grande falta sao chamados "os intelligentes, resolutos, e fervorosos adversarios deste trafico;" e estes mesmos creados que compravao escravos e os empregavao como faes, e suppriao com mercadorias escolhidas do armazem da Companhia individuos, que por espaço de dezeseis annos as claras commerciavao em escravos, sao mesmo agora protegidos pelos Directores! Estes senhores talvez tenhao até o presente gozado. da fama de imaculados; o publico porem parece-me que nao continuará a considera-los tao innocentes se elles continuarem a apatrocinar, promover, e elogiar aquelles, que confessao e procurao justificar tal procedimento: e até sou de parecer, que elles seraō antes tidos por fautores, e complices naquelle mesmo crime que elles sempre tao altamente professárao abominar, apezar do Relatorio assegurar-nos que os Directores sobre este ponto estao assaz convencidos da sua innocencia: mas isto nao basta, hé necessario que se apresentem provas de maior pezo, do que meras palavras. Eu muito sinto ter sido forçado a expor publicamente tao duras verdades. Eu trabalhei por preservar a fama e popularidade daquelles que eu considerava realmente dignos de respeito e contemplaçao; e me esforcei por persuadi-los á que puzessem em execuçao as suas declaraçoens e promessas a respeito da Africa: se elles porem obstinados perzistirem em illudir o público, ou por soberba, ou por algum sordido inte 奧 resse; verao que prejudicao a si mesmos, ao passo que procurao opprimir-me: toda a perseguiçao que hei soffrido nao me hé inexperada, a pezar de haver sido mui violenta. Na minha carta escrita á M. Wilberforce a pag 37 disse. "Eu repetidas vezes faço pauza ao escrever esta, e pondero se fama, riquezas, e influencia podem a temorizar-me de que prosigua na investigaçao da verdade; considerando porem no caracter Inglez recobro forças e continuo;" e esta mesma reflexaō hé a unica coiza que até esta hora me tem animado. Passo agora a replicar á resposta que a junta dos Directores da Instituiçao foi servida dar aquellas partes da minha carta que lhe dizem respeito; e em primeiro lugar seja-me permittido declarar que aquella carta foi escrita em termos os mais respeituosos quanto á Instituiçao Africana; e espero que se me faça a justiça de que a fiz por motivos os mais disinteressados. Eu julgáva ser a Instituiçao composta dos melhores individuos da naçao, que possuiao talentos, informaçao, e influencia, e que erao guidos pelos mais puros principios. Eu sincero anhelava a civilizaçao d'Africa, e universal aboliçao do trafico de escravos, e suppuz que o maior favor que podia conferir aos membros imparciaes da Instituiçao era mostrar-lhes o modo como tao importantes fins se podiao realizar; o como elles haviaō sido illudidos; que as suas protestaçoens e promessas naõ haviaõ sido desempenhadas: que os seos fundos se haviao consumido; e que a sua repu taçao soffreria consideravelmente se consentissem em que se fizessem falsas representaçoens, sanccionadas pelos seos nomes; e ao mesmo tempo assegurei-lhes que estava muito prompto para auxiliar os seos philanthropicos esforços com aquella informaçao, que possuia sobre os principaes objectos da Instituiçaō fructo de uma assidua attençaõ á esta materia por espaço de oito annos. "6 O Relatorio procura defender os membros da Instituiçao, dizendo que os Directores, afiançados na liber rálidade do publico, calculárao com obter fundos que os habilitassem para com fervor proseguir na execução de certos objectos que desejavao promover." Eu porem nao tenho a menor duvida de que os fundos erao assas sufficientes para elles terem dado principio aos varios objectos que professavao querer realizar; |