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nosso bom Principe, nós rogámos pois ao Ministerio Portuguez, que ponha todo o côbro em vigiar que os seos subalternos nunca mais tornem a perpetrar actos de tao funesta arbitrariedade: se elles se repetem, desacreditaráō indelevelmente o governo da nossa patria. A' nós mesmos, que aqui vivemos em terra estranha, se nos tingem as faces com vergonha quando prezenceâmos taes factos.

Este cazo nos faz lembrar outro, que nos foi contado estando ainda em Portugal. No anno de 1808 estava em Pernambuco um navio da Praça de Lisboa, chamado S. Caetano. Por acazo entrou tambem naquelle porto uma não ou uma fragata Portugueza desarvorada, e fazendo-lhe conta os mastros e velame do dito navio 8. Caetano, sem mais cerimonia, como se aquillo fosse como vulgarmente se diz-roupa de Francezes, foraō á bordo delle, tirarao-lhe a mastreaçao, e o navio mercante ficou perdido sem poder fazer mais viagem, por que ali nao havia mastros de que se refizesse. A consequencia deste procedimento foi que o dono do navio sofreo uma perda horroroza, andou por muitos annos em requerimentos com o governo para lhe resarcir aquella violencia, e a final só recebeo uma insignificante quantia, e quando o navio já estava pôdre, e para nada servia. Os restos desta embarcação ainda se conservao, suppomos nós, no porto de Pernambuco ; e de certo nao sao Padrao mui honrozo para atestar o respeito que tem o Governo Portuguez à propriedade dos cidadaons. Com este, e outros procedimentos, taes como os que houverao com o navio Fama, o commercio Portuguez nao pode ser respeitado nem vantajozo; com elles se destruirao as primeiras e mais, ricas fontes da prosperidade nacional, e se ganhará uma bem triste reputaçaõ entre as naçoens estrangeiras.

PRUSSIA.

Até o governo militar da Prussia começa a conhecer a necessidade da Liberdade da Imprensa! Com effeito seria o cumulo da ingratidao, e do desprezo para com os homens, se depois de se ter visto o que fez a im

prensa na cauza da liberdade contra a tirania, e o que fizerao os subditos na cauza dos Soberanos, por fim se pertendesse apagar esta grande luz, que illuminou os governos e os povos, e privar os homens deste poderozo meio e estimulo de instrucçao, só com o miseravel pretexto que a Imprensa livre tem abuzos! E quantos nao tem a imprensa escrava? Calculem-se uns e os outros, e ponhao-se em juizo; e entao se verá quem ganha a demanda nao em tribunal de Inquisidores, mas no tribunal da imparcialidade e da justiça!

WURTEMBERG.

As finanças mal calculadas, e mal administradas saõ a morte das familias assim como dos governos. El Rey de Wurtemberg, esquecido de todas as calamidades e miserias, porque tem passado o seo povo, pertende esmaga-lo com novos tributos, e eilo ahi, por assim dizer, em guerra com os estados do reino. Ordinariamente, quando nao há conta exacta de receita e despeza, busca-se ter dinheiro a torto e a direito; e sem saber-se se os contribuintes podem ou nao pagar vai-se a um termo fatal, em que ou o povo fica de todo exhausto e miseravel, ou se encontra uma contradicçao nao esperada, que as vezes naõ só transtorna todos os planos pecuniarios, mas até destroe as primeiras bazes sociaes. Que nao teria dado o antigo governo de França (fallamos do governo que existia em 1789) se as suas rendas publicas nao tivessem chegado a uma desorganisação completa, e se o povo já não estivesse enfastiado de arbitrariamente pagar sem nenhum pezo nem medida? Já nao hé tempo de repetirmos os sermoens encomendados do Abbade Barruel, que na sua doutrina (propria do tempo) quiz inculcar ao mundo que a Revoluçao Franceza era obra dos Filosofos ou dos Pedreiros livres. A Revoluçao Franceza foi obra do governo de França, que tendo gasto mais do que podia e do que tinha, perdeo o seo credito, e se vio em circunstancias de pedir esmolas ao povo, que até ali havia sem piedade esfolado. Este entao vingou-se, como desgraçadamente quaze todos os homens se yingao, quando passaõ de repente do estado de servos

ao estado de senhores. Sim, as guerras de ambiçao do longo reinado de Luis, XIV. (9 Buonaparte dos Bourbons); os tempos escandalozos da Regencia; e as novas guerras e desperdicios de Luis XV. vomitaram todas as desgraças, que fizerao com que Luis XVI., o melhor dos homens, fosse o mais desgraçado dos Reys.

Cuidem, portanto, todos os governos em serem economicos, e nem se persuadao que a paciencia e as bolças do povo sao inexhauriveis. Em uma palavra, nao imitem o que ainda agora está fazendo o governo de Wurtemberg. A experiencia hé a primeira, e a mais util de todas as sciencias humanas.

FRANÇA.

O negocio mais importante que agora se trata entre o Governo e as Cameras hé o do Budget; e hé na realidade importante, porque a sua decisao marcará um triumfo para o Ministerio ou para os Deputados. Estes parecem estar em guerra com o primeiro, e nao lhe querem ceder couza alguma; aquelle vê-se em circunstancias meliadrozas, porque ou será obrigado a dimitir-se, ou fara com que El Rey dissolva as Cameras. Mas o primeiro forte combate que já houve, quando se tratou da lei de amnistia, decidio-se por uma especie de composiçao entre os dois partidos, e isto mesmo hé de crer que tambem agora succeda pelo que se passou na Camera dos Deputados, na Sessao de 23 de Março. Nós vamos transcrever o seo re

zumo:

"M. de Corbieres, Relator da Commissaō para discutir o Budget, recapitulou todos os debates relativos as dividas atrazadas do Estado, e declarou que a Commissaō estava firme no seo parecer, isto hé-de nao se alienarem os bosques.

"Entao o Conde Corvetto, Ministro das Finanças, dice, que El Rey havia ordenado que se lhe fizesse uma exacta exposição de todas as propostas debatidas na Assemblea, e que em consequencia disto havia determinado que um novo Projecto fosse aprezentado a Camera.

"Leo-se o novo Projecto que deo cauza, a que se

discutissem muitos dos seos artigos, e nesta discussao M. Corbieres defendeo sempre o parecer da Commissao. Mas o debate ficou interrompido com a chegada do Duque de Richelieu, portador de uma Mensagem de El Rey.

"O Ministro dice, que El Rey o havia incumbido de communicar a Camera o immediato cazamento do Duque de Berry com a Princeza Carolina das duas Sicilias, descendente de Luis XIV., e de Maria Thereza, que tao illustre fôra entre as mulheres illustres como grande entre os grandes Reys. O Ministro concluio o seo discurso, aprezentando um Projecto de lei para que se desse aos noivos uma renda annual de um milhaō de francos (400 mil cruzados). Porem ao mesmo tempo declarava, que esta renda seria reduzida durante 5 annos, a metade, e que só findos elles se pagaria por inteiro."

Quanto a tranquilidade actual do Reino pode-se formar idea pelo Decreto de El Rey á cerca dos successos de Tarascon, que deixámos copiado. As noticias particulares confirmao ainda, que o espirito publico em França naō hé muito favoravel ao prezente governo. Em nossa opiniao, o fanatismo politico e religiozo das Cameras hé um dos grandas e poderozos motivos das inquietaçoens, que ainda se experimentaō em França. A maior parte d'aquelles, que concorrêram emminentemente para a revoluçao de 1789, bem pouco ou nada tem aprendido das energicas liçoens da experiencia.

HESPANHA.

Uma das boas acçoens de El Rey, isto hé-a suppressao dos Tribunaes Especiaes, durou bem pouco tempo. Tal hé o destino das couzas humanas, que o bem dura sempre menos que o mal!

Mas se El Rey nao hé assás firme e coherente nas suas boas resoluçoens (o que nao será a melhor couza para elle) la tem o seo Inquisidor Geral, que bem desempenha no caracter e officio de exacto Inquisidor. O Edicto Inquisitorial, que transcrevemos neste Artigo, ainda que de antiga data, hé um bello monumento de

caridade Christam e de Politica humana. O respeitavel Ministro da Fé, com toda adoçura e sensibilidade Evangelica, diz:-que a desolação das provincias, das cidades, das aldeas, e das familias hé uma verdadeira ninharia, uma bagatella, em comparação de outro mal, ainda peor com que a divina Providencia castigou os peccados de Hespanha, e que hé a perda da Fé, ou por outras palavras, a herezia. A pezar disto, o que elle toma como castigo do Céo, quer que seja um crime nos Hespanhoes, e portanto lhes ordena, que se denunciem a si e aos outros para nao perderem seos bens ou serem queimados no proximo anno de 1816! Que sancta theologia, que religioza dialectica! Os desgraçados Hespanhoes sao punidos pela Providencia com a perda da Fé, e o bom Inquisidor ainda os quer punir outra vez por elles se deixarem castigar pela mão de - Deos! Hé certamente o mesmo que se qualquer individuo pertendesse castigar segunda vez um escravo, por este nao ter podido resistir ao primeiro castigo que lhe deo seo Senhor. Ora quando se querem os bens, a liberdade, e a vida dos homens hé preciso saber dar melhores razoens.

Outra do mesmo lote, e verdadeiramente Inquisitorial, hé a que elle da, quando diz:-" Para isto temos sido movidos pela pratica da Igreja, que frequentemente tem sido indulgente, e ha mitigado o " Isto rigor das penas quando os réos sao numerozos.' hé o mesmo que dizer-Quando a Igreja, ou para mais correctamente fallar, nós os Inquisidores somos mais fracos, perdoâmos; porem quando temos mais força, sem piedade encracerâmos, atormentamos, e queimâmos. Mas quando se nao sabe o que se há de fallar, promulgao-se estas e outras boas maximas moraes e christans.

O que concluimos de tudo isto hé, que o Edicto Inquisitorial foi uma isea lançada em 1815 para pescar bens e corpos de Hespanhoes no anno de 1816. Agora que as minas do Potosi começaõ a estar exhaustas hé preciso recorrer a outras, e o Inquisidor deo com ellas. Se Robespierre dizia que a guilhotina cunhava moeda, porque recusará a Inquisição de Hespanha empregar o mesino engenhozo maquinismo? As boas invençoens nao escapaō aos intelligentes.

VOL. XV.

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