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Austria para engrandecer a Polonia, já composta de seos despojos,* e destinada ainda a custar-lhe bem caro. Porem mais notavel ainda era ouvir o que a este respeito diziaõ alguns Francezes, e de que modo se exprimiao a cerca do que mais deviao respeitar. Pelo Tratado de Aliança tinha-se obrigado a Austria a fornecer 30,000 homens debaixo das ordens de um commandante nomeado por ella. A sua escolha recahio sobre o Principe de Schwartzemberg, que dava todas as garantias necessarias. O exercito juntou-se nas fronteiras da Polonia, composto das melhores tropas da monarquia, e completamente equipado e provido de tudo. Marchou para a Lithuania por pedido do Imperador, e estava já em Ighumen quando a invasao do General Tormansow o obrigou a retroceder para unirse com o exercito Saxonio, do qual se nao separou mais. Juntos ambos os exercitos, repeliram os Russos na Vollinia, ganharam brilhantemente a 12 de Agosto a batalha de Padubrié, e sustiveram o inimigo até a chegada do exercito Russo da Moldavia. O exercito Austriaco salvou duas vezes o Ducado de Varsovia; servio com uma habilidade e perseverança que nada poude vencer nem abalar; e o seo digno chefe o derigio e susteve com aquella lealdade e franqueza que tanto distinguem seo nobre caracter. No espaço de sete mezes, que me achei em contacto com este exercito, nao notei uma só couza em que elle, nem por sombras, mostrasse separar-se da linha de fidelidade a mais completa, e das obrigaçoens contrahidas pelo seo gabinete. Este exercito nunca procurou modo ou occasiaō alguma de poupar-se, e pelejou pela Polonia como teria podido pelejar pela Austria.”

Na paz de Vienna de 1809 cedeo a Austria uma parte das suas possessoens na Polonia em favor do Ducado de Varsovia.

Consideraçao Politica e Religioza á cerca da Representação dos Venerandos Bispos da Belgica, feita ao Rey dos Paizes Baixos.* Dedicada aos Principes do Seculo e da Igreja.

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In patientia vestra possidebitis animas vestras.-Luc. xxi. v. 19. Homo, quis me judicem constituit aut divisorem super vos?—xii.

v. 14.

INTRODUCCAO,

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Um Catholico Portuguez, que na serie dilatada dos seus avoengos nao conta um só, que nao tenha aquelle sangue e profissao originaria, levanta agora a vôz contra os respeitaveis Bispos da Belgica: os principios destes venerandos oraculos sao inteiramente oppostos peridade e engrandecimento Politico, e aos dictames, que nos prescreve a suavidade do Evangello e a doçura da Religiao, por isso eu vou combatelos nestas curtas linhas á face da Europa inteira.

pros

Intolerancia e influencia do Clero no temporal sao as maximas, que aquelles respeitaveis varoens poêm na presença do seu Rey. Tolerancia, e separaçao do Clero das couzas Seculares sao as luzes, que vou renovar na Europa, e em todo o Mundo Politico e Religiozo, para que espalhadas em toda a sua extençao cheguem até a essas respeitaveis Mitras da Belgica, para bem se conhecer os verdadeiros interesses dos Estados, e as doces maximas de uma Religiao toda espiritual.

Eu direi pouco, cingindo-me aos limites do meu proposito, nesta minha consideraçao, porem em poucas linhas se comprehenderao verdades de grande vulto, e da primeira grandeza no Imperio e na Igreja; attenda um e outro as minhas vistas, que tem por fim a sua firme estabilidade, e reciproca uniao.

A tolerancia, terror dos fanaticos, e arreigado escandalo dos ignorantes nao teria produzido tantas, e tao funestas discordias no meio do Imperio e da Igreja, se os espiritos, perdendo o calor com que se tem batido, entrassem no verdadeiro conhecimento de uma ma

Foi publicada na Gazeta de Lisboa, No. 244, em Outubro de 1815, e foi assignada pelos V. Bispos em 28 de Julho deste anno.

teria tao seria pela sua grandêza, e melindroza pelas fatáes consequencias, que a sua má intelligencia tem trasido ao meio do repouzo, e tranquillidade dos poyos, a quem por vezes tem perturbado.

Todo o homem, que sem prejuizo, e sem fanatismo. for ver ladeiramente instruido nas saudaveis inaximas do Evangelho, e nos sinceros dictames espalhados pelo Catholicismo, deve confessar, que os erros, que os invertao, nao podem já mais ser tolerados, mas antes. combatidos com todas as armas espirituaes, que saō proprias da alçada do nosso animo, e conforme aos principios da verdadeira religiao do Crucificado. Porem o homem Catholico será taōbem obrigado a declarar á face dos mesmos principios, que os professos naquelles erros devem ser tolerados politica e religiosamente, Eisaqui uma distincçaõ mui clara, que poderia ter evitado tantos inconvenientes, e tantos males, que a patetica historia da religiao nos refere, se a ella se tivesse dado assenso; eisaqui uma distincçao, que poderia ter evitado as perigosas lembranças dos venerandos Bispos da Belgica, as quaes, sendo improprias das luzes do s. 13, podem trazer ao mesmo os tristes, e infaustos dias das eras passadas, perturbando o temporal e espiritual das familias; e hé por isso, que eu, ainda longe do perigo, me considero obrigado a evitar o mal quanto couber na alçada da minha penna, cujos traços vaō já patentear-se ao publico.

TOLERANCIA POLITICA.

Todo o Estado, que nao quizer perder as fontes do seu augmento, e engrandecimento deve admittir no centro da sociedade ao cidadao, que regula as suas accoens conforme a lei, e que pelo exercicio do seu saber, da sua arte e industria fas uma parte da geral felicidade do edificio social. Esta verdade hé da primeira evidencia para o candidato, que apenas tem um vizlumbre dos interesses da sociedade, e hé ella, que conduz por uma verdadeira estrada ao conhecimento da proposição, que eu pertendo de mostrar.

Os homens pois, sobre quem recáhe a tolerancia, tem mostrado por todos os principios, filhos da historia e da experiencia, que sao bons vassallos, que

vivem em tranquillidade, e promovem o interesse commum; logo o Chefe do Estado deve cobrir com o mesmo manto da sua protecçao a todos esses, que assim se conduzem.

Sendo pois admittidos e protegidos os homens na sociedade porque saõ bons e uteis, deve por uma necessaria consequencia ser admittida a sua religiao e o seu culto; por quanto hé um principio indubitavel em toda a politica, que homem sem religiao nao hé bom vassallo, nao hé bom cidadao, porque nao tem vinculo algum, que o faça sugeito, e obediente á lei humana: logo se o tolerado se considera bello cidadao e digno vassallo, hé porque as suas acçoens sao filhas dos principios da religiao que professa; tirada esta, em que elle firmemente crê, e vedado o seu culto, esfriará e acabará de momento a momento o verdadeiro germen das virtudes sociaes, e o forte movente, que o induz á sua pratica; hé pois evidente a vista destes principios, que sendo admittidos, como uteis na sociedade, os individuos de diversa religiao, o seu culto deve de necessidade ser tambem admittido.+

Se uma verdadeira reflexaõ e discurso politico fás persuadir a necessidade da tolerancia, ella hé ainda levada a o maior gráo pelas funestas consequencias, que tras ao meio da sociedade o seu inteiro abandono.

Os homens, rigidos defensores da religiao em que nascerao, chocando-se primeiro em ideias, renovaráð depois as tristas scenas, que a historia nos conta com horror; o nao tolerado atacará fortemente a religiao daquelle, que o nao soffre, elle a considerará, como tyranica, elle fará por isso a guerra a mais perigoza, e fatal. O nao tolerado dirá ao Catholico com enthusiasmo, e colera-tu exclues da sociedade o culto da minha religiao, eu excluo tambem o teu.-Tu privas a sociedade dos meus serviços, que sem religiao sempre sao perigosos, tu nao poderás tambem exercitalos entre os nao tolerados. Estas e outras expressoens

* Observe o politico essas naçoens famosas, compostas de Reformados, e de differentes seitas, eveja a sua duraçao e estabilidade; observe taõbem os grandes homens, que tem sahido deste gremio.

† A religiaõ do tolerado ainda que falsa aos olhos do Catholico, nao tem a mesma consideraçao na crença do professo, e por isso hé o unico garante para o Estado obter a obediencia das suas leis.

farao decahir o famoso edificio social; uma ideia perdida destruirá o contrato de uniao, que felicita os homens no seio da sociedade; e a superstiçao armará milhares de braços fanaticos, que com indiscreto zello levarao o terror e a morte ás pequenas, e grandes povoaçoens, e faráō a monstruosa e terrivel guerra da religiaō.*

O'Superstiçao, O' Fanatismo, até quando inimigos crueis do socego e do repouso haveis levar o estandarte da desuniao e discordia ao mêio dos povos tranquillos? Até quando inimigos, inseparaveis da ignorancia, haveis aterrar com a ruina e a morte ainda as mais reconditas habitaçoens dos homens ? Se vosso coraçao de ferro nao está ainda saciado, deixai pelo menos refolgar a humanidade das frescas calamidades deste seculo e gozar das primicias da paz, que o mesmo The offerece. Cessai pois defazer tremer ainda a Europa pela vossa causa, muito mais fatal do que essas que, deixando atromentado o Seculo 18, passáraō rapidamente para o 19. Se as luzes da minha politica sao mui limitadas, ouvi as do Evangelho e da Igrêja Catholica, que tem em si toda agrandeza e vehemencia para persuadir, e convencer.

Tolerancia Religiosa.

Tenho exposto em succinto quadro os principios de tolerancia, que se achao debaixo da esfera da melhor politica: uma voz mais sublime e mais brilhante vai agora renovar-se aos venerandos Bispos da Belgica e de todo o mundo: a philosophia do Evangelho, a verdadeira doutrina do seu Author, que inspirados e illuminados Pregadores, obedientes á vôz do Mestre, espalháraō pelo universo, será o farol d'esta tarefa do meu discurso.

Hé sabido entre os Catholicos, que uma das báses da sua religiaō, tantas vêzes ensinada no seu codigo

Se os homens da Belgica forem considerados, por um pouco, Cidadaons d'um Paiz Protestante, nao quereraõ elles a tolerancia da sua religiaō? Nao levaráõ a mal todo o procedimento intolerante? Logo elles podem ser accusados de inconsequentes na sua conducta, e do pouco conhecimento do magestozo principio→ Quod tibi non vis, alteri ne facias.

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