Sivut kuvina
PDF
ePub

seos projectos passados, e sebs projectos futuros. Como ella fez em mim uma extraordinaria impressao, por isso estou certo que a relato com a mais escrupuloza exactidao. O que domina em toda ella hé o temor dos apupos de que se via perseguido em vez desse hosanna continuo, que resoava na Europa havia quinzé annos. O orgulho do conquistador, e a vaidade do poeta apupado estao-se vendo desde o principio até o fim desta conversaçao, e caracterizao perfeitamente aquelle homem, cujo amor proprio temeo sempre mais um epigrama do que um batalhaō."

66

O Corpo Diplomatico chegou a Varsovia poucos dias depois da passagem de Buonaparte, e o Duque de Bassano chegou com a sua comitiva no dia 16 de Dezembro. No dia seguinte, diz M. de Pradt, entreguei lhe um Memorial a cerca dos inconvenientes da demora da Embaxada naquella cidade; e no mesmo The expunha claramente os motivos de desgosto qué tinha, declarando-lhe ao mesmo tempo, que naquella epocha havia sofrido physica e moralmente mais que em nenhuma outra da minha vida. Na conversação que se seguio a entrega do Memorial me queixei de que sem respeito pelo meo caracter me houvessem metido em uma missão que tinha um lado revolucionario mui vizivel; e conclui dizendo-lhe, que estava firmemente determinado a naõ me meter para o futuro em negocios concebidos sem o meò voto, e derigidos contra o meo modo de ver, e obrar, que me reduziriao ao estado de um instrumento meramente passivo. O Duque aprovou a minha resoluçao de deixar a Em baxada, è me auctorizou a retirar-me debaixo do titulo que mais me conviesse, tendo a delicadeza de nao me fallar de um artigo de uma carta, que Napoleaō lhe escrevêra depois de sahir de Varsovia, que dizia assim:

"Vi em Varsovia o Abade de Pradt, que me dice "mil couzas; parece-me que nao tem nenhuma das qualidades necessarias para o lugar que occupa. "Nao lhe dei a entender nada; podeis manda-lo em❝ bora."

66

“Parti no dia 27 de Dezembro, e logo que cheguei a Paris sube que o Moniteur tinha publicado, no dia immediato á chegada do Imperador, o Decreto que me tirava o lugar de Esmoler-mor. Achei em minha caza LL

VOL. XV.

uma Carta do Ministro da Policia, e outra do Ministro dos Cultos, ordenando-me que lhes fosse fallar prontamente. O primeiro dice-ue em termos geraes, que o Imperador nao estava satisfeito comigo, e me recomendou que nao apparecesse diante delle: o segundo mostrou-me a ordem do Imperador para partir para a minha Diecese, o que immediatamente executei.

"Tal hé a narraçao fiel da minha Embaxada de Polonia, escripta com a maior exactidao, e composta no meio de grandes perigos, que tornavao mais importante a conservação dos materiaes de que a formei. Seja-me licito exprimir o dezejo de ver apparecer todos os outros que podem servir para esclarecer a historia do nosso tempo. Até agora nao tem apparecido ainda senao romances, satiras, ou hymnos. Em taes obras nao temos visto nem verdade, nem moderaçao, nem ligação de acontecimentos; e muito menos sua origem, sua filiaçao, e o verdadeiro caracter dos actores. O prisma das paixoens e dos interesses diversos tem transtornado tudo; e a pomba, ao sahir da arca, nao se vio certamente mais embaraçada do que se vê qualquer no meio da aluviao dos escriptos extravagantes, de que até agora se compoem a historia da revoluçao. Nao sabe a gente por onde há de caminhar. Assim, nunca poderá haver boa historia sem a reuniaō de materiaes similhantes, podendo afirmar de antemaō, que os, que a souberem somente pelos Jornaes ou historiadores Francezes, teraō motivo para entao ficar mais admirados do que Epimenides quando acordou de seo somno.”

*

Como se tem fallado mui diversamente na Europa a cerca da co-operaçao do exercito Austriaco na guerra da Russia, penso que os leitores folgaráo de saber o que a este respeito diz M. de Pradt.

"Vi dominar na Polonia, a respeito do exercito Austriaco, prejuizos, que a justiça me obriga a dissipar neste escripto, como procurei sempre fazer em todo o tempo da minha embaxada. Os Polacos nem sempre forao justos sobre este ponto: cuidavao que elle devia reputar-se por mui feliz de trabalhar pela cauza da Polonia, ainda apezar de todos os riscos que corria de poder vir a perder a Galicia.

"Era um espetaculo bem notavel ver trabalhar a

Austria para engrandecer a Polonia, já composta de seos despojos,* e destinada ainda a custar-lhe bem caro. Porem mais notavel ainda era ouvir o que a este respeito diziaō alguns Francezes, e de que modo se exprimiao a cerca do que mais deviaō respeitar. Pelo Tratado de Aliança tinha-se obrigado a Austria a fornecer 30,000 homens debaixo das ordens de um commandante nomeado por ella. A sua escolha recahio sobre o Principe de Schwartzemberg, que dava todas as garantias necessarias. O exercito juntou-se nas fronteiras da Polonia, composto das melhores tropas da monarquia, e completamente equipado e provido de tudo. Marchou para a Lithuania por pedido do Imperador, e estava já em Ighumen quando a invasao do General Tormansow o obrigou a retroceder para unirse com o exercito Saxonio, do qual se nao separou mais. Juntos ambos os exercitos, repeliram os Russos na Vollinia, ganharam brilhantemente a 12 de Agosto a batalha de Padubrié, e sustiveram o inimigo até a chegada do exercito Russo da Moldavia. O exercito Austriaco salvou duas vezes o Ducado de Varsovia; servio com uma habilidade e perseverança que nada poude vencer nem abalar; e o seo digno chefe o derigio e susteve com aquella lealdade e franqueza que tanto distinguem seo nobre caracter. No espaço de sete mezes, que me achei em contacto com este exercito, nao notei uma só couza em que elle, nem por sombras, mostrasse separar-se da linha de fidelidade a mais completa, e das obrigaçoens contrahidas pelo seo gabinete. Este exercito nunca procurou modo ou occasiaō alguma de poupar-se, e pelejou pela Polonia como teria podido pelejar pela Austria."

Na paz de Vienna de 1809 cedeo a Austria uma parte das suas possessoens na Polonia em favor do Ducado de Varsovia.

Consideraçao Politica e Religioza á cerca da Representação dos Venerandos Bispos da Belgica, feita ao Rey dos Paizes Baixos.* Dedicada aos Principes do Seculo e da Igreja.

In patientia vestra possidebitis animas vestras.—Lue, xxi. v. 19. Homo, quis me judicem constituit aut divisorem super vos?-xii. v. 14.

INTRODUCÇAO,

Um Catholico Portuguez, que na serie dilatada dos seus avoengos pao conta um só, que nao tenha aquelle sangue e profissao originaria, levanta agora a vôz contra os respeitaveis Bispos da Belgica: os principios destes venerandos oraculos sao inteiramente oppostos á prosperidade e engrandecimento Politico, e aos dictames, que nos prescreve a suavidade do Evangello e a doçura da Religiao, por isso eu vou combatelos nestas curtas linhas a face da Europa inteira.

Intolerancia e influencia do Clero no temporal saō as maximas, que aquelles respeitaveis varoens poêm na presença do seu Rey. Tolerancia, e separaçao do Clero das couzas Seculares sao as luzes, que vou renovar na Europa, e em todo o Mundo Politico e Religiozo, para que espalhadas en toda a sua extençao cheguem até a essas respeitaveis Mitras da Belgica, para bem se conhecer os verdadeiros interesses dos Estados, e as doces maximas de uma Religiao toda espiritual.

Eu direi pouco, cingindo-me' aos limites do meu proposito, nesta minha consideraçao, porem em poucas linhas se comprehenderao verdades de grande vulto, e da primeira grandeza no Imperio e na Igreja; attenda um e outro as minhas vistas, que tem por fim a sua firme estabilidade, e reciproca uniao.

A tolerancia, terror dos fanaticos, e arreigado escandalo dos ignorantes nao teria produzido tantas, e tao funestas discordias no meio do Imperio e da Igreja, se os espiritos, perdendo o calor com que se tem batido, entrassem no verdadeiro conhecimento de uma ma

Foi publicada na Gazeta de Lisboa, No. 244, em Outubro de 1815, e foi assignada pelos V. Bispos em 28 de Julho deste anno.

[ocr errors]

teria tao seria pela sua grandeza, e melindroza pelas fatáes consequencias, que a sua má intelligencia tem trasido ao meio do repouzo, e tranquillidade dos poyos, a quem por vezes tem perturbado.

Todo o homem, que sem prejuizo, e sem fanatismo for ver ladeiramente instruido nas saudaveis inaximas do Evangelho, e nos sinceros dictames espalhados pelo Catholicismo, deve confessar, que os erros, que os invertao, nao podem já mais ser tolerados, mas antes combatidos com todas as armas espirituaes, que saō proprias da alçada do nosso animo, e conforme aos principios da verdadeira religiao do Crucificado. Porem o homem Catholico será taōbem obrigado a declarar á face dos mesmos principios, que os professos naquelles erros devem ser tolerados politica e religiosamente, Eisaqui uma distincçao mui clara, que poderia ter evitado tantos inconvenientes, e tantos males, que a patetica historia da religiao nos refere, se a ella se tivesse dado assenso; eisaqui uma distincçao, que poderia ter evitado as perigosas lembranças dos venerandos Bispos da Belgica, as quaes, sendo improprias das luzes do s. 13, podem trazer ao mesmo os tristes, e infaustos dias das eras passadas, perturbando o temporal e espiritual das familias; e hé por isso, que eu, ainda longe do perigo, me cousidero obrigado a evitar o mal quanto couber na alçada da minha penna, cujos traços vao já patentear-se ao publico.

TOLERANCIA POLITICA.

Todo o Estado, que nao quizer perder as fontes do seu augmento, e engrandecimento deve admittir no centro da sociedade ao cidadao, que regula as suas acçoens conforme a lei, e que pelo exercicio do seu saber, da sua arte e industria fas uma parte da geral felicidade do edificio social. Esta verdade hé da primeira evidencia para o candidato, que apenas tem um vizlumbre dos interesses da sociedade, e hé ella, que conduz por uma verdadeira estrada ao conhecimento da proposição, que eu pertendo de mostrar.

Os homens pois, sobre quem recáhe a tolerancia, tem mostrado por todos os principios, filhos da historia e da experiencia, que sao bons vassallos, que

« EdellinenJatka »