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de escravos; que conversei com os mais intelligentes de entre elles; e que li a correspondencia particular de milhares de individuos tanto da costa d'Africa para o Brazil, como do Brazil para a costa d'Africa, em que vinhao expostas com a maior individuação muitas circunstancias respectivas ao commercio dos negros em ambos os paizes: Eu vizitei quasi todos os estabelecimentos de nota desde Senegal até Annobom, ao sul da linha: e os Directores parece-me que admittirao, que eu tenho prestado alguma attençaõ á materia desde a minha volta; mas nao obstante estar por espaço de sette annos e meio á procurar de todas as fontes que pude descobrir, todas as informaçoes possiveis relativas á colonia, á costa occidental d'Africa em geral, e ao commercio de escravos em particular; com tudo as sentao esses senhores, que nao posso communicar noçoens algumas relevantes; e que só um traficante. interessado, que há vinte annos estêve uma so vez em Sera Leoa dois annos, e que nao tem idea alguma de outro qualquer parte de Africa, ou do commercio da escravatura, pode dar informaçoens exactas á toda a Inglaterra sobre objectos Africanos, tanto geraes, como particulares!!

(Continuar-se-há.)

Extractos das Cartas de Joze da Cunha Brochado, escriptas de Lisboa ao Conde de Viana.

(Continuados da pag. 168, do No. LVIII.)

Carta de 22 de Setembro, de 1708.

Com differentes luminarias se vio alumiada esta cidade em toda esta noite, e madrugada, por que ardeo e se consumio pelo fogo todo o Mosteiro da Trindade sem ficar mais que a igreja, e a torre, triste e formidavel objecto para os olhos e para a contemplaçao, e ainda mais para esta do que para aquelles, por que vê mais, e de mais longe. Deos, no tempo da lei escripta, mostrava a sua ira permitindo ou que se roubasse a arca, ou se destruisse o templo: queira a sua misericordia que nos incendios das cazas de S. Francisco e

da Trindade, que tambem sao arcas e templos da lei da graça, se nao verifique algum misterio occulto da sua justiça.

Da nossa frota nao temos ainda noticia alguma; com tudo a chegada destes navios nunca foi nem mais importante nem mais necessaria assim para o commum como para El Rey, por que há mais de um mez que para a sua cozinha se compra sem dinheiro, e todos os meios, arcas e cofres estao esgotados, e se querem vender fidalguias, habitos, e officios. A caza das obras tem consumido somas inumeraveis de dinheiro; os aprestos da Caza Real naõ vaō sendo de menos despeza. Estes Senhores, pelo principio destas coizas, naõ atenderam o fim dellas, facilitaram a despeza, e naō ouzaõ agora impedir-lhe o progresso, nem confessar o erro, que ainda será maior quando Vier a Rainha, em cuja caza se não acha dinheiro algum, antes quarenta mil cruzados de divida; e creia V. Ex que se nao vio nunca a Caza Real em tao miseravel e pobre situaçao.

Hoje, houve Conselho de Estado que devia ser sobre a Campanha deste anno, para a qual se hao acha um alqueire de trigo em toda a provincia, nem fóra della, ainda que El Rey o queira comprar a preço de pataca o alqueire. Lisboa, &c. &c.

Carta de 30 de Setembro, 1708.

1

S. M. rezolveo mandar um embaxador extraordinario a Roma, e quem ouvir esta resoluçao entenderá que Portugal quer interpor a sua mediação nas differenças que há entre a Corte de Roma e a Imperial; porem oiço que nao hé este o fim de tao apressada resoluçao. Neste patacho que veio da Bahia chegou um Pe da Companhia, Italiano e Missionario na China, e vem queixar-se do Visitador Geral que o Papa mandou, haverá tres annos, a conhecer da grande questao que há na China entre os Padres da Companhia e os mais Missionarios sobre o culto de Confucius, de que V. E. tem perfeita noticia, e sobre que tem feito um grande numero de livros, em.que a razao theologica está pelos missionarios; porem os Padres da Companhia, para se fazerem agradaveis ao povo e aos Senhores da China tem sua razaõ particular. E porque hé contra a sua con

servaçao que o Visitador Geral comece a averiguaçao desta grande disputa, fizeram com que em Macau o detivessem ou prendessem, e para se justificarem, querem meter nos seos interesses a Corte de Portugal, resuscitando a queixa que temos contra a congregaçao " de Propaganda fide," e outras cousas de ciume dos missionarios Francezes. Estas razoens pareceram a El Rey da ultima consequencia, e sem embargo de que S. Ignacio cedeo o seo lugar a S. Felipe Neri, com tudo obtiveram os Padres que a sua defensa em Roma se cobrisse com as representaçoens de um embaxador extraordinario. Esta disputa dos Padres, ainda que hé a primeira vez que veio a presença de S. M. já se tinha feito e repetido de ante de El Rey que Deos tem, e que escreveo uma carta ao Pontifice, que se acha impressa e respondida pelos Missionarios em papeis que vierao ao Padre Sebastiao de Magalhens no mẹo tempo. Se esta materia me fôra comunicada, poderia ser que eu informasse a estes Senhores do que ella continha, porem nem a minha ignorancia nem a minha pessoa merecem consideraçao alguma.-Lisboa, &c. &c.

Carta de 6 de Outubro, de 1708.

Por outro modo quer Deos ensinar-nos e hontem entrou um Patacho de avizo com a nova de que as 12 fragatas Francezas, que cruzavao entre as Ihas desembarcaram 500 homens na de S. Jorge, e a pilharam e a tomaram, e dizem que com animo de fazer o mesmo as outras. Estes navios esperaō a frota, e para que o façao mais a seo salvo partio Gaspar da Costa para este reino com os navios da sua esquadra, e diz que a buscar mantimentos, e tambem porque ouvira dizer que a frota nao vinha neste anno. Tornaō a mandalo, e parece que á manham; e por mais que El Rey pedio ao Inviado de Holanda um ou dois navios de guerra, nao foi possivel até hoje ao meio dia alcançar resposta positiva; nem eu culpo o Ministro, porque nas suas instrucçoens naõ cabem similhantes ordens.

Este hé o ultimo estado em que nos achâmos a respeito do maior perigo em que nunca esteve a Coroa de Portugal e a substancia de seo negocio, e tudo nasce dos poucos homens que El Rey tem em seo serviço,

quero dizer:-que ninguem sabe fazer a sua obrigaçao por não haver nem disciplina, nem doutrina, nem escolla. Nem sabemos mandar, nem sabemos obedecer; os governadores das provincias, assim maritimas como do reino, apenas sabem ler e escrever, e sem mais experiencia de que a recomendaçao de quem os protege, entrao nos lugares de que dao tao boa conta. Perdoe V. E. a dureza desta critica, que sou nella tao obstinado, que nao explico a minima parte do que entendo, e tudo se justifica pelo commum erro que publicamente se comete em todo o genero de occupaçao, seja ecclesiastica, civil, politica, ou militar, e tudo tambem na fé que nunca queremos ser discipulos, nem conhecer que a sciencia entra com sangue e trabalho. Cuidamos que com uma pouca de dissimulaçao e de reserva, com que fallâmos em toda a materia, cubrimos a ignorancia que della temos, mascarando por este modo a insuficiencia que conservâmos na nossa poltro. naria. Torno a pedir perdaó a V. E., mas como fallo diante de um ministro que hé o lente de prima desta verdade e doutrina, refiro a V. E. o mesmo que de V. E. aprendi.-Lisboa, &c.

Carta de 27 de Outubro, 1708.

Hontem 26 entrou a Rainha com sete dias de via

gem, e ficou em S. Joze a rogo seo para se remeter um pouco do enjôo do mar, e hoje pelo meio dia se fez o navio á vela, chegou diante do Forte pela uma hora, e El Rey depois dos cumprimentos ordinarios a foi buscar um pouco tarde, e nao sei a razao, nem a etiqueta. A Rainha hé mais de que ordinario parecer, com magestade e bastante soberania. Falla latim, Italiano, Francez e Hespanhol; tem muita piedade e muita religiaō; ama a caça e o exercicio que ella traz comsigo. Todo o Paço se encheo de capas negras, forradas de ló, que pareciam as estolas dos nossos reverendos Conegos. Apareceram algumas cazacas da comitiva do Embaxador que honravao a festa. Finalmente, Senhor, tudo se fez como se costuma fazer, sempre correndo e sempre a pressa, como quem naổ sabe o o que faz. Houve questao com as Damas sobre a precedencia da Duqueza, e porque se rezolveo contra

ellas, quizeram recolher-se; mas oiço que cederam algumas ou todas. As pessoas Reaes hao de cear em publico, e eu me nao atrevi a esperar pela funcçao, esperando em outro dia lograr esta honra. Para o correio proximo direi mais alguma individuaçaõ desta grande festa.-Lisboa, &c.

Carta de 3 de Novembro, 1708.

Acabaram-se as luminarias, mas nao se acabaram as festas e as demonstraçoens de alegria, porque até hoje se nao abriram os tribunaes, correndo o expediente da justiça pela mao larga dos alvorôços da graça. Dizem que teremos o primeiro dia de toiros em 10 do corrente, è que passada esta festividade birá a Rainha a Metropoli a render vassallagem a Deos; porem como este acto deve ser o primeiro antes de aparecer em publico, suponho que os toiros ficarão para o fim do mez, espe rando que os arcos se aperfeiçoem, apezar dos ataques do inverno que naõ deixa continuar a obra. Algúns dos toureiros, a imitaçao da embaxada, toireaō com tezoureiro. Em terça feira passada forao os tribunaes beijar a maō a El Rey e depois a Rainha que estava em uma bella caza debaixo de um docel rico, assistida de Damas, umas bem parecidas, e outras de menos que ordinario parecer, principalmente as duas Allemans que, por fazer honra a Rainha, sao de uma excellente fealdade, mas nem por isso deixaráo de ser bem dotadas. A Rainha tem todas as virtudes que saō necessarias para fazer e constituir uma perfeita Magestade; e assim parece que o mostrou na controversia das Damas. Nao tem aquella elevaçao Austriaca, Augusta, Cesárea, que costuma dominar nas Princezas da sua Caza, antes parece docil, e benigna com um grande fundo de equidade e temor de Deos, e entendo que tem Portugal uma Rainha, que El Rey merecia, e que os Portuguezes nao merecemos. Até agora nao sei circumstancia ou novidade alguma da nossa Corte que communicar a V. E. Tudo no Paço hé grande e profuzo; muito jantar e muita Cêa em publico; e cada um interpoem o seo parecer, e cada um julga como lhe vai na festa.

O Snr. Marquez de Cascaes teve a direcçaõ da si+

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