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metria dos pratos, em que fez singular serviço a El Rey, e queira Deos que se lembre delle para a Embaxada de Roma. O Conde de S. Vicente hé prezidente do Concelho Ultramarino com grande contentamento do povo e nobreza. O Marquez de Minas teve um prezente da Rainha de Inglaterra, que se compunha de uma joia com o seo retrato, que uns avaliaō assim e outros assim, e eu sem a ver tambem a pudera avaliar. Esta liberalidade da Rainha respeitou á grande atençao com que o Marquez tratava as tropas e os officiaes daquelle reino. V. E. dezejava saber as pessoas que vieraõ com a Rainha a Portugal, e no livrinho incluzo do mez de Agosto achará V. E. os seos. nomes e as suas qualidades.-Lisboa, &c.

Carta de 10 de Novembro, 1708.

Eu sigo a Corte de longe, louvo as suas maximas, e rogo a Deos que tudo succeda á medida das suas proposiçoens. Tudo continua a ser magnifico,-muita despeza e muita abertura: continua o concurso, e S. M. fez entender que o queria. Cuida-se em que haja jogo, e nao falta quem diga que assim se faz nas mais Cortes: eu oiço tudo, nao afirmo por nao mentir, mas nao sei se minto por calar. No Paço houve reforma dos trajes ou das caudas, e outras advertencias de que nao estou bem informado; porem El Rey N. S. cujas ideas sao grandes, quer que se imite o que hé bom, e que tudo se dirija pelas cortes estrangeiras, em cuja pintura cada um debuxa como se lhe antoja; e assim a reforma hirá em augmento Cezáreo-Gallico-Anglico, com mescla de antigo Portuguez nas.donas de honor. Os Allemaens, que vierao com a Sra. Rainha, fazem o petit Maître, comem bem, mas nao sei se fiado. O Snr. Conde de Redondo na despeza desta meza fez crescer a gloria de El Rey, em grande satisfacçao dos ventres Tudescos, que em recompensa hirao dizer de nós o que custumao dizer de todos. Oiço que os Viadores antigos da Caza da Rainha renunciaram esta honra, e que o Duque padece novas melancolias. Queriaõ que o primeiro dia de toiros fosse em 12 deste mez, mas a chuva contramanda esta ordem, e temo que esta festa se mal-logre, naõ VOL. XV.

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pela perda publica, mas pela falta particular da propina, que hé o que tiro desta gloria.

Entraram duas naus da India, uma de Gôa com o ViceRey, e outra de Thimor com bastantes loiças, segundo dizem. A frota do Rio ficou sem comboy, e a de Pernambuco ficou em trabalho, porque deo com Francezes, e nesta hora estará toda rendida, como diz um navio da sua conserva que hoje entrou. Queira Deos Queira Deos que nao tenha a mesma sorte a do Rio, que tras o lastro de oiro. Nos navios, que tem chegado, se achao mais de 500 arrobas de oiro; mas esta abundancia hé a maior esterilidade daquelle Estado, sobre cujos interesses se cuida mui pouco na prezente conjunctura, em a qual baixou um Decreto ao Concelho Ultramarino para que no seo palanque tivesse assento o irmao de Diogo Luis, ainda que nao tivesse voto. Tambem veio outro ao Concelho da Fazenda para se venderem os officios de Provedor dos Armazens, da Moeda, Almoxarife dos fornos, e Provedor da Fazenda do Rio; e esta resoluçao se venceo contra o voto do Snr. Marquez velho que instou fortemente contra a venda dos officios.Lisboa, &c.

(Continuar-se-haõ.)

LITERATURA ALLEMAM.

As Analogias de Carolina Pichler.

XXI.-As Regioens do Outomno.

O Outomno reina já sobre as nossas regioens. Com tudo as arvores ainda estaō linda-e espessamente folhadas, e com a gentil mistura de seos diferentes verdes corôao as rentes-ceifadas campinas; mas já de quando em quando alguma pallida folhinha se despega e cahe ondeando sobre a relva, nao mais vecejante. Amarellos e sem graça estao os restos dos vegetaes, e crestados pelo estivo ardor do Sol inclinao suas múr

chas cabeças para a terra, e se aproximao do seu tumulo. Nenhuma ave chocando construe agora occulto ninho na espessura de abastecidos ramos, nenhuns pintainhos chamao os pais com seos clamorosos, e bem-aceitos guinchos, requerem a sua comida e despertao nos coraçoens senciveis a imagem da ventura domestica. Somente o azulado Ratinho vaguea solitario pelo bosque, luctuoso precusor do proximo inverno.

Quanto tempo ainda este verde ornamento deverá cobrir a espessura? Quantas vezes deverá o Sol inda vê-la no seu esplendor? Quanto tempo hade ainda orvalhar o arroio suas verdes sombras? Vem, vem chegando os dias do inverno, as risonhas horas vôao com perfida ligeirera, e chamao para ao pé de nós o inexoravel destruidor d'alegria.

Estas arvores vaō ser desfolhadas, e luctuozas erguerse do frio chao, este arroio vai petrificar-se como gelo, e alem sobre aquellas montanhas, que agora cobre variada verdura, pousará só neve com morta uniformidade, e só despidos rochedos interromperáo o branco deserto. Entao, sem ser saudado pelo canto das aves, e pelo rabil dos pegureiros, se ergue do mar o sol solitario, mal-olha as invernosas regioens, que outrora vira em seu lustre, e coberto de nevoa se enlucta por esta mudança e fugida do estío. Com tudo, eu só provo uma ligeira magoa n'auzencia de tantas bellezas, pois sei, que depois do frio inverno torna uma primavera, que hade reverdecer estas arvores, desatar esta torrente, e reproduzir os amores das aves. Entao vem o sol da joven primavera com ridente aspecto, e folgando de tornar a ver a terra embellecida, derrama sobre ellá a sua mais bem-fazeja influencia.

Assim vecejamos nós em a flor da mocidade; e tudo se ri para nós em roseo lustre; mas os dias da velhice chegao, chega a omni-dissolvente morte, e no véo juvenil trazemos nós já comnosco o germe da nossa destruiçao. Quanto tempo, oh querida Amiga! quanto tempo andaremos ainda de maons dadas? Quanto tempo hao de enthusiasmar-nos ainda os objectos, que hoje fazem a nossa dita? Talvez brotáraó já as violetas immediatas aos nossos jazigos; entao vem o sol da primavera, que nos despertára tantas vezes para novos

praseres, e nao achando mais os nossos vestigios, raia tam bello nas gotas de orvalho, que tremem sobre as flores da nossa campa como raiava outrora nas lagrimas de prazer, que borbulhavao em nossas faces. Mas nao gemamos de lucto! A lem da estreita e nocturna morada, alem do invernoso tumulo, nos surri uma melhor primavera, uma primavera, cujas mais nobres flores nunca murchao, cujos mais bellos sóes nunca passao. Entao rompe o veo invisivel a liberta mariposa; todas os suas forças e faculdades, que eraō mui grandes para este mundo, se dezenvolvem como suas azas, seus dezejos insaciaveis de felicidade se preenchem, e o ente enobrecido fluctua continuamente de bemaventurança em bemaventurança.

XXII.-O Cume da Montanha.

Que dominante e immensa vista se offerece d'aqui aos nossos olhos! Quam desmedida se estende a terra diante de nós! La jazem os lugares da habitaçao dos homens-uma grande e tumultuosa cidade; innumeraveis aldeas, cercadas de jardins e viçosos campos; castellos reaes, que levantao excelsos os circumspicientes eirados; elegantes quintas, que anunciao a prosperidade e o commodo! E lá no fundo da pintura a magestora torrente, que em varias tortuosidades, enrosca seos braços azues pela encantadora paizagem ! Tudo vive, tudo se move lá em baixo, carruagens se vem rodando pelas ruas da cidade, homens hindo é vindo, e promovendo seos empregos; o operario e artista nao trabalhao, sem estrepito; carros carregados estrondeaō pelas estradas; a bulha, a assuada, a occupaçao poem em movimento e perturbao as enormes capitaes.-E aqui! qué socego, e magestoso silencio! Até este elevado cume nao remonta a multidao, nem se eleva o mais pequeno rumor! Os sons mais altos resoao pelas tranquillas faldas da montanha; e só as vozes da natureza, só o murmurio das fontes e o gorgeio das aves interrompem esta solemne taciturnidade, e se misturao nos doces accentos d'amizade, que voluntaria habita nas sombras deste arvoredo.

Naō te faz, minha amiga, o tope desta montanha e a sua solidao lembrar a virtude, que em perpetua luz

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pura, sobranceira ás paixoens aos interesses, e a todas os inquietos esforços, e ordinarias pertençoens dos homens, habita em silençio e em venturoso descanço? Na sua sublime elevaçao os objectos e suas relaçoens se lhes mostraō em proporçao da sua realidade. A ambiçao nao levanta para ella a sua voz offerente; os atractivos da voluptuosidade nao tocao o seu alto assento, nenhum illusorio caprixo perturba seu repouso, e as exigencias de todo o sentimento ignobil sôaō debalde e sem sentido no baluarte inabalavel da sua verdadeira felicidade. A natureza somente lhe falla com todas as suas doces mas potentes vozes; ella descança nos braços da amizade, e na sua altura sente avesinhar-se ao parente Céo.

XXIII. O Jardim em Septembro.

Já por detraz da montanha se poem o Sol mais cêdo, já mais cêdo se alastrao as sombras sobre a planicie; e frescas viraçoens soprao em torno das medas, e encrespao a meos pés as murchas folhas que aqui e ali cahiram das arvores. Apenas agora o derradeiro brilho da tarde avermelha os escurecidos topes das arvores, cujo animado verde a estas mesmas horas já brilhára em todo o lustre do Sol. Acabou-se o risonho tempo da vivificante alegria, e d'abundancia; desaparecêram os bellos e longos dias do estio; de mil e mil flores que adornavao o jardim há poucas luas, nem uma so existe. O anno tem passado a sua juventude, e já se aproxima na virilidade ao cadente Outomno. Mas a bemfazeja Natureza naō deixou este periodo sem graça, e sem gozos. Onde outrora se accumulavao flores sobre flores, e entumecidos gommos desabroxavao, amadurecem agora preciosos fructos. Ali dos ramos carregados se curvao as doces pêras até á mao colhedora; aqui as ceruleas ameixas, como entrelaçadas, começao a sazonar-se, e as maçans ostentao suas varias cores, e alem reluz o pecego por entre as cobridoras folhas. De um Ceo azul-escuro raia o Sol brando e animador, uma temperatura doce e uniforme coze a seiva dos vegetaes e perfettamente a sazona. O homem sem ser opprimido pelo calor, anda pelos fructiferos contornos, goza com pleno

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