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anhello de um tepido ar puro, e com silencioso regozijo deleita os olhos no complemento de todas as promessas, que lhe apontára a vecejante primavera.

Tu queixas-te, minha Amiga! da fugida da nossa mocidade e de seos prazeres. Hé verdade, acabou-se o tempo da nossa jovial liberdade, e de nossos exaltados sentimentos. Muitos cuidados, muitas laboriosas occupaçoens tem encurtado os vôos da nossa phantasia, e reconduzido o nosso espirito á fria realidade; a dança, e estrepitosos prazeres já naõ encantao nossas almas sérias; sobre as nossas faces se desbotaō as rosas da mocidade; um pequeno desfalque, uma visivel decadencia em nosso semblante mostraō, que nenhuma plethora mais entumece nossos musculos; e o enxame dos mancebos passa por nós indifferente. Cedo começao a murchar-se as Donzellas, que nós conhecemos crianças.

Mas deveremos por isso amargurar-nos, minha cara? Nao tem a Natureza com prodiga mao reparado tudo quanto nos tirou? De boa mente esquece a mulher feliz, no circulo de seos filhos, os enfeites e elegantes sociedades, e acha mais doce nas horas silenciosas da noite ver o farto succador infante adormecer no seio materno, do que formigar no labirintho e tumulto das mascaradas. A terna consideraçao de um espozo nao diminue, porque o tempo, e os maternaes deveres tem apagado os primeiros attractivos de nossas faces; e bons e contentes filhos saltaō a roda de nós, se já nenhum galante nos ladêa. A experiencia, e cuidados domesticos tem sazonado o nosso caracter, comfirmado os nossos principios ; e na alegre serenidade do espozo, na muda sofreguidao, com que volta á noite para sua socegada caza, nas virtudes da crescente especie, colhemos nós mil vezes os fructos que a risonha primavera nos prometteo.

XXIV. Os, Botoens no Outomno.

Desaparecerao todos os prazeres do Jardim. Desfolhados estao os arbustos, destruidos os canteiros; o pomar despojado de seos thesouros, e os ramos sem folhas estendidos no turbido ar de Novembro. Apenas aqui e ali florece o purpureo Chrysanthemo, e o dou

rado Heliantho raia por entre o nebuloso véo com suas flamantes estrellas. Como tudo está calado em torno de mim! Tudo exprime apartamento e descanço depois dos activos prazeres do verao. Ali cobre o jardineiro o tenro pimpolho de mais doces zonas, a figueira, com abrigador tapigo-aqui jaz o jasmin e o clematis debaixo de coberta, e defendido contra a geada.-Exhausta e cansada espera a Natureza a chegada do inverno, e o ferreo profundo somno. Mas por estas aridas circumvesinhanças passeio eu alegre, e, em quanto os prazeres deste anno caminhao para o sepulchro, noto as esperanças do futuro aqui, nos vermelhos botoens vecejantes do cortado Platano, ali nas verdes pontas do prematuro sabugueiro, e particularmente nestes redondos e lanosos botoensinhos de arvores fructiferas, que se accumulao nos troncos, e promettem novas flores, e doces prazeres, que haō de reproduzir-se aos brandos raios do Sol da Primavera. Quam bello tornará a ser o jardim! Que gratas horas naō passaremos á sombra das arvores reverdecidas em familiar conversaçao e animado recreio !

Onde está agora o inverno com seos terrores? Onde estao as sombrías imagens de apartamento e morte?— esquecidas á este prospecto de vindouros prazeres, extinctas ao brilhante esplendor da esperança! Tao potente hé o seu encanto, tao benefica e sabia a ordem da Natureza, que ainda quando nao pode trazer-nos a rialidade, nos mostra os botoens de futuras flores! Nao só na primavera da vida, em que o grande mundo se franquea á vista prespicaz, brilha aos contentes olhos a amiga esperança, tambem nos ferventes dias da idade adulta, e nas horas tristes, liga ella por occultos laços o deleite da existencia, e a força ao magoado coração; e no seu magico espelho deixa ao encanecido, para quem este mundo se tornou vam sombra, ver resurgir outro mais bello, e o consola na lisongeira esperança de tornar a ver os extinctos objectos do seu amor.

XXV.-O Vento do Outomno.

O rouco vento do outomno zune pelar arvores, lança por terra suas mal-pegadas folhas, e sopra agudo pelos prados, que já nenhuma flor adorna. Com rapidos

passos nos affastâmos das frias sombras, e buscamos os lugares livres, onde o baixo Sol ao meio dia vibra só tepidos raios, e com deleite nos aquecemos ao suave luseiro. Oh como a scena está mudada! Há poucas semanas fugiamos nós do Sol descoberto, por que seos crestadores raios nos opprimiao com dezalento, e buscavamos em solidaō a frescura de verdes sombras, e o refrigerio das fontes no intimo sanctuario do bosque. Ali abençoavamos nós, suspirando, a branda viraçao, que raras vezes se move assaz pelo silencioso arvoredo; e esperavamos avidamente a vagarosa tarde. Bem depressa, bem depressa hade ainda afrouxar o raio obliquo do Sol, e o vento do Outomno ser mais penetrante. Entao desfolha elle a floresta, e agrilhôa a torrente, que inda agora murmura pelo prado; entao o mesmo rude sôpro, que tao vivamente sentimos, será ainda soportavel, e quando a neve tiver coberto os campos, um dia, como o de hoje, poderá chamar-se ainda brando e bemfazejo.

E comtudo o homem soporta estas grandes mudanças sem prejuizo de seu bem ser; elle vive sadio, e contente, quer diante do gelido bafo do inverno se estanque a vida em toda a Natureza, quer Sirio torre as sequiosas campinas; e abençoa tam alegre os vislumbres do Sol, que esclarecem os sombrios dias de Dezembro como as nuvens tempestuosas, que no estio gotejao a frescura no aquecido chao. Muda e gradualmente se accostuma a sensibilidade ás diversas impressoens, e aprende a avaliar como beneficio, o que outrora lhe parecia insoportavel.

Oh Poder do habito, e do tempo, quam benefica hé tua silenciosa força para o homem, que a Natureza e a Sorte exposéraō sem ajuda a tantas mudanças! Com branda mao, tu aligeiras os ferreos grilhoens do infeliz, que no primeiro momento ameaçavao esmagalo; seu gravame se tornará finalmente imperceptivel, e suas perdas se esqueceráō bem depressa. Tu nos ensinas a considerar como superfluo, o que outrora nos parecia indispensavel; tu voltas para nós um bom lado do mais acerbo destino, e debaixo de teos macios passos brotao mesmo na charneca flores.

Nestes dias agora de lucto e desolaçaõ universal, em que muitos felizes, precipitados de sua grandeza, apenas em fortuna se assemelhaō a seos antigos creados,

tu lhes ensinas a se habituarem á pobreza, e escuridade. Pouco á pouco elles esquecem sua antiga potestade, instruidos por ti recebem com reconhecimento das maons de uma reciproca ventura pequenos prazeres, que outrora desprezaríao, e já chamao estado de abundancia o que outrora temeriao como precisao muito amarga.

Oh quam paternal tem a Providencia cuidado aqui dos pobres mortaes, em quanto lhes deriva do tempo e do habito as mais fortes e seguras consolaçoens, que nenhuma dor, por mais profunda, por mais viva que seja, pode contrariar; e reconduz para a felicidade, contra seu querer mesmo, o coraçao humano !

SCIENCIAS.

Nova Exposição dos Progressos que fizeraõ as Sciencias Physicas.

(Continuada da pag. 179, do No. LVIII.)

Chimica.

O progresso annual da chimica em razão de ser muito maior do que o de outra qualquer sciencia julgamos acertado, a fim de evitar confusao, dividi-lo em varios ramos, e arranjar os factos que temos de expor debaixo de differentes capitulos.

1. Principios Geraes.

Os nossos leitores estarao provavelmente lembrados de que demos uma idea dos principios geraes da theoria atomica na exposição que fizemos dos progressos que haviaō tido as Sciencias Physicas no Continente. Desde entao nao tem apparecido papel algum sobre a materia, que a nosso' ver seja tao importante, como uma memoria anonima há pouca inserida em um dos Numeros dos Annaes de Philosophia, que tem por VOL. XV. Ꭱ Ꭱ

titulo-" A Relaçao entre as gravidades especificas dos corpos no seo estado gazozo, e o pezo dos seos atomos.' O modo como o nosso author determina a gravidade especifica de algums dos gazes merece de certo contemplaçao, visto que hé com toda a probabilidade capaz de ministrar resultados mais exactos, do que os methodos até agora empregados.

Julga o author que o ar atmosferico hé uma substancia chimica composta de um volume de oxygenio, e quatro volumes de gaz azote. Ora ainda que esta opiniao nao concorde com as analizes do ar atmosferico que até o presente se tem feito, com tudo naõ deixa de ser bem plausivel; e na verdade se attendermos ao mui pouco cuidado com que essas analizes tem sido feitas, e juntamente ás numerosas provas que GayLussac há produzido para mostrar, que os gazes sempre se combinao por um modo tal, que um volume de um gaz se une com um, dois, tres, ou quatro volumes do outro, acharemos alguma razao para assentir á conclusao do nosso author. Segundo este seo calculo elle demonstra, que se a gravidade especifica do ar for como 1, a do gaz oxygenio hé 11111, e a do gaz azote 09722. Esta demonstraçao porem depende de duas supposiçoens: 1° que um atomo de azote peza 1.75, 2° que o ar atmosferico hé composto de um atomo de oxygenio e dois atomos de azote; daqui vem que 100 partes de ar atmosferico constaõ á pezo de

Oxygenio....... 22.222 | Azote ......... 77·777

Quanto á gravidade especifica do gaz hydrogenio o author suppoem ser 00694: e deriva esta sua, hypothese da composição do gaz ammoniacal, o qual se tem mostrado constar de tres volumes de hydrogenio, e um de azote condensados em dois volumes; e da sua gravidade especifica a qual hé 0-5902. A unica duvida que parece haver neste calculo hé se a gravidade especifica do azote hé tal qual o nosso author suppoem : a pezar disto somos de parecer, que elle hé mais exacto do que qualquer dos resultados, que até agora se tem obtido pelo processo de pezar.

Ora se a gravidade especifica dos gazes oxygenio, azote, e hydrogenio hé, do :

Oxygenio 1-1111 | Azote 0-9722 | Hydrogenio 0.0694

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