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sagacidade; digao o que quizerem, com tanto que se lembrem que tudo isto se passa assim no Imperio de Napoleaō, por que entao lhes será facil explicar tudo.

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39 A immensidade dos objectos que o Imperador abrange a um tempo, assentando que assim augmenta a sua gloria, e taes como as suas circunstancias The tem feito e farao ainda emprehender, sao um obstaculo invencivel para poder profundar qualquer assumpto, e para bem o julgar com madureza, isto hé, miudamente. Porem no governo de Napoleaõ e no Imperio Francez não se repara senao nas massas; os individuos sao considerados como insignificancias, ou bagatellas, por todos esses homens superiores e por esses omnipotentes genios .. E este genero de distracçao, sem duvida bem horrorozo, com que se olha para a immensidade dos negocios de França, hé um dos maiores flagelos com que se oprimem os seos desgraçados habitantes.

...

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Eu já disse que ao Imperador faltao os meios de instrucçao, e particularmente por aquelle mesmo lado donde exigia o dever que elles the viessem; mas nisto mesmo tem elle o castigo pelo embaraço que pessoalmente lhes poem. Só duas cousas podem apresentar-se com afoiteza diante do Imperador, e estar sempre a seo lado O terror, e a lisonja: nellas consiste toda a sua guarda e concelho. Mas hé bem claro que com isto só nimguem hé bem guardadó, nem bem instruido. Todo o talento, e trabalho das pessoas que o rodeao consistem em advinhar o seo pensamento, e em traduzir as suas ideas: isto só para ellas hé sublime.*

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Esta asserção geral admite uma excepçao, relativa á dois ministros que Napolcao, depois que se julgou omnipotente, procurou arredar de sí por motivo de qualidades, que mais estimados thos deviao fazer. Nao podia suportar a sua fama, nem a independencia que conservavam no meio da servidao geral. Temía que se lhes podesse atribuir parte da sua gloria, e que se dicesse que alguma cousa devia aos seos concelhos: esta foi a causa verdadeira porque os separou de si. Napoleaõ nunca poude encarar com o talento; e tinha formado uma empreza, desconhecida a →tados os homens, depois que há sociedades, que era de reinarsem concelho; e que digo eu? até de proscrever todo, o concelho! Quantas vezes o ouvi eu exclamar em furor:-" Querem dar-me concelhos! Concelhos, a mim! Mas o caso hé que a falta de todos os concelhos ó perdeo. O prazer de reinar sobre homens

O Imperador tanto repelia sempre toda a instrucção que não condiz com os seos pensamentos, e a sua tenacidade era sempre acompanhada de taes violencias e insultos, que ninguem ouzava falar-lhe senaõ do que elle queria. Assim constantemente metido entre duas sentinellas perfidas-"O terror e a lizonja" nenhum boin concelho podia chegar-lhe aos ouvidos: havia-se nos seos negocios como certo Sultao se houve á cerca da sua saude; tendo imposto pena de morte contra quem falasse da sua, morreo sem que os medicos aterrados ouzavem falar-lhe na molestia.

A injustiça das queixas do Imperador Napoleað contra mim hé logo evidente. Nem eu pertendo arri buire a execução de successos que na sua opinião, malograram o projecto de ser Senhor do mundo, e vao influir tão grandemente sobre todos os homens e em todos os séculos. De certo, nada há tao contrario ás minhas ideas e caracter como essa aplicação infatis gavel, que constituia a turbulenta actividade desse homem; que subindo do'ultimo gráo da escala social até uma altura que nunca teve igual, e isto pelos tesforços de um povo que só the pedia a cura das suas profundas feridas, só cuidu em lhas fazer ainda maiores, e em thas tornar incuraveis: que aspirando a passar pelo restaurador da religiaõ andou sempre em guerra com ella, e arrastrou de prizao em prizao o seo Veneravel Pontifice, até prendendo aquellas mesmas maos que the haviaō sagrado a frente, cerimonia só reservada para os Reis: que sentado no primeiro assento do angusto Collegio dos Reis, naõ fez senaō avassallar e ultrajar os Reis: que distribuindo reinos e thronos destruio o reinado com afrontas e baixezas, incompativeis com a idea do reinado : sim, Napoleaõ creou Reis, -porém destruio o reinado

Que homem politico ou moral podía gostar dessas commodas invasoens, por meio das quaes, tomando sempre Inglaterra por pretexto, Napoleaō um dia declarava que Roma lhe pertencia, como a descendente

mediocres custou-lhe bem caro: custou-lhe todo o valor da sua Coroa, e a existencia da sua familia. . . Isto todavia seria insignificante, se a França tambem nao houvesse pago por elle o mais preciozo que tinha o seu sangue, a sua honra, as suas riquezas, e a sua consideraçholentre as naçoens-Nota do Autor.

de Carlos Magno; e estabelecia como principio, que um homem nao podia reinar debaixo das formas do sacerdocio, como se por que o primeiro Rey foi um soldado feliz, necessariamente se houvesse de seguir que para ser Rey fosse preciso ser soldado! Que em outro dia, com um só rasgo de penna, estendia o seo imperio das margens do Escalda até as praias do Baltico, acumulando dentro de linhas, traçadas com a espada, estados e Principes que pelo Moniteur vinhaō a saber estarem suprimidos, como se fossem pequenos officiaes assalareados, e a quem, debaixo do novo titulo de Principes despojados, apenas se daya a esperança remota e indefinida de indemnidades imaginarias !

Que homem, guiado pelas regras da Logica ou da decencia, nao sentio sempre o coraçao sobresaltado de dor quando via toda essa má fé e insolencia que, fiada na força, ainda acumulava os sophismas e o escarneo, (indignidade que o homem de bem e de luzes nunca pode suportar) ou lia essas publicaçoens infames, afixadas no Moniteur, do qual no espaço de tantos annos se servio Napoleaó como de Pelourinho, em que apresentava tanto os Reis como os ministros, e em fim todos os homens, que erao assas atrevidos para determinar-se a contradize-lo! Sim, neste famozo Pelourinho se affixavao tanto as suas grandes combinaçoens, como as suas rasteiras injurias, ou os seos ameaços terriveis'; e nelle por espaço de dez annos se gravou taōbem sempre em grossos caracteres a sentença de desthronisaçao, dada contra todos os Principes, que tinhaō a temeridade de comprar uma vara de fazenda Ingleza, ao mesmo tempo que Napoleaõ dava trezentas licenças para se commerciar com Inglaterra.

Que Francez, amigo da sua patria, podia deixar de lamentar toda essa agregaçao de elementos heterogeneos, repelida por antipatias inveteradas, e só fundada em afinidades creadas pela força: ou poderia ser insensivel ao ver que tantos interesses, novos, estranhos, e todos incompativeis, roubavam a maior parte das attençoens d'esse homem que só devia emprega-las na França! Todo o tempo que se gastava com os negocios de Roma, Hollanda, Hamburgo, &c. &c. era tempo furtado a felicidade dos Francezes. Seria neste sentido que se trabalhou para que houvesse um 18 Brumaire?...

Mas voltemos ao nosso assumpto, e apontemos as causas verdadeiras da perda da expediçao da Polonia. Ellas forao:-1, o Imperador:-2, o Duque de Bassano:-3, os Polacos :-4, a excellente defeza dos Russos:-5, o delirio geral que havia na execuçao desta empreza :-6, a separaçao da Lithuania do Ducado de Varsovia, e a resposta do Imperador em Wilna á Deputaçao da Dieta de Varsovia:-7, a natureza das minhas instrucçoens, e a ordem que me deo o Duque de Bassano de me deixar dos negocios politicos para me oc'cupar das subsistencias do exercito.

(Continuar-se-ha.)

EXTRACTOS das Cartas de Joze da Cunha Brochado, escriptas de Lisboa ao Conde de Viana.

(Continuados da pag. 450 do No. LVL)

Carta de 30 de Junho, 1708.

Não sei se no Correio passado escrevi á V. E. o que se dizia do nosso exercito na marcha que fez contra o inimigo; e nesta duvida tornarei a repetir o pouco que elle fez e o pouco que eu sei do que elle podia fazer. Resolvemos, como em reprezalia, mandar demolir a fortificaçao de Valença depois que o seo clima nos consumio muita gente. Teve Bay noticia que os minadores tinhao pegado na obra, e mandou um grosso destacamento para tratar de surprehender a praça, e sabendo o nosso General, que esta diminuiçao, sem a juncçao de Ossuna, o fazia superior ao inimigo, passou, com o nosso exercito pela ponte de Xevora; porem o inimigo, sentindo a marcha, levantou o Campo com precipitação, e foi abrigar-se de um bosque no Campo de Montijo, donde contramandou o destacamento; e vendo o nosso General a difficuldade do ataque repassou o rio, e nao sei aonde fica presentemente. Logrou-se a demoliçao de Valença, e com ella se vai acabando a Campanha do estio; e hé tudo o que grosseiramente posso dizer á V. E. da situação dos nossos progressos na provincia do Alemtejo.

O mastro para os toiros nao se levantou, porque entrou em questao politica ou moral se seria mais decente, que esta ostentaçao, ou preludio festival, se fizesse com a nova de haver-se celebrado a funeçaō do cazamento; porem torno a ouvir que se nao esperava este dia, e que o tal mastro havia de apparecer bem de pressa, em cuja averiguaçaõ me nao embaraço muito. Tambem oiço que o Visconde de Villa Nova da Serveira, e os Condes do Rio e S. Lourenço erao os luctadores de cavallo, e que, como Embaxadores á Vienna, se lhes faziaō os gastos pela fazenda Real. Ajude Deos a quem descobre tanto dinheiro; nao sei se será o mesmo depois da chegada da Rainha.

Para esse dia manda S. M. fazer uma boa e rica abotoadura de diamantes, e o Snr. D. Francisco, para conservar igualdade, manda fazer outra.-Lisboa, &c.

Carta de 7 de Julho 1708.

Espera-se maior confirmaçao da preza de Lek, porque um navio que veio de Cadiz nao dá noticia alguma desta acçao, nem o Embaxador de Inglaterra a afirma; porem o Conde da Castanheira, que ao principio duvidou do successo, foi mal avaliado ou de incredulo, ou de ter menos boas disposiçoens á favor do poder de Inglaterra, sem embargo de que muitos Inglezes apostao que Lek nao fizera a tal preza. O certo hé-que em Portugal tudo hé Inquisicao; e da qui procede que somos tao ignorantes das nossas coizas como os Mahometanos o sao da sua falsa seita, pela defensa da disputa sobre as frialdades do seo Alcorao,*

Por esta mesma cauza se nao falla na bella passagem e regresso do nosso exercito, e da prudencia da nossa cavallaria, que a pode ensinar aos mesmos elephantes. Oiço que o Marquez de Fronteira quer vir para as Caldas, e que o das Minas hirá succeder-lhe na Cam

Hé bem para fazer desesperar da perfectibilidade das cousas humanas ver que o sistema Inquisitorial e de misterio, que prevalecia no tempo de I. da C. Brochado, dure ainda em Portugal, com bem poucas excepçoens. Nao se conhecerá por uma vez, que as trevas nao podem produzir-se nao erros, latrocinios, e fantasmas? Ora pois acendaõ-se as luzes, vejao todos tudo; e se nao tornará a ser preciso que procuremos moços de cêgos nas naçoens estrangeiras para nos trazerem pela mag-Nota dos Redactores.

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