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"Que Pedro Grande fôra forçado a operar sobre os "Russos da mesma forma que a agoa forte opera. "sobre o ferro." Nenhum destes terriveis embaraços acha com tudo agora o nosso Principe para a regene raçao dos seos vastos Estados do Brazil. Primeiramente, tem só que trabalhar na organisação de um povo amavel, docil, e já assás polido para poder adoptar todas as boas e uteis instituiçoens; em segundo lugar, piza um terreno o mais abençoado do mundo, em que a natnreza parece que de propozito se empenha para o fazer verdadeiramente rico e feliz. Nao lhe falta por tanto senão um bem combinado e prudente sistema civil e politico, em tudo adaptado ás novas circunstancias; nao lhe falta senao augmento de uma bem escolhida, e proveitoza povoaçao; e nao lhe falta em fim, senao uma exacta e rigoroza administraçao economica, que naõ dissipe, porem augmente as rendas publicas, e com ellas floreça o Estado em todos os ramos civis e politicos. Nestes pontos, de certo, hade cuidar o nosso Principe; e com o seo dezempenho tambem, certamente, ganhará o titulo de Grande, que tanto lhe cabe a par do doce titulo de Bom, que elle já tem adquirido.

Mas como chegaráo ao conhecimento do Monarca, que tao manifestos dezejos tem de fazer a felicidade do seo povo, todas as precisoens em que está o seo novo Reino do Brazil? Devem chegar-lhe em primeiro lugar pelo orgaō immediato e mui proximo dos seos Ministros; e da boa e leal co-operaçao destes para tamanho bem muito temos que esperar, atendendo-se á outras mui sabias medidas, que já temos mencionado, e que tanto honrao o Ministerio Portuguez. Em segundo lugar, deve o nosso Principe crear quanto antes, e mandar colocar no seo extenso Reino essa Sentinella incorruptivel, que já lhe apontamos em outra ocaziaō,—A racionavel, e legal Liberdade da Imprensa. Por ella saberá logo individualmente os bens ou os males que tem os seos vassallos; saberá com exactidao quanto precizao; e nunca estará em duvida se as suas leis, e o bem que manda fazer saō ou nao executados. Se porem esta Sentinella alguma vez abuzar do seo nobre ministerio, nao se assuste o Principe com os seos desvios, ou suas irregularidades:

entregue-a aos tribunaes competentes, e seja tao firme em mandar punir seos delictos como em manter-lhe a existencia.

A maior dificuldade que na verdade há para a marcha forte e regular de um governo está na diaria administraçao de todos os negocios publicos. Um grande estado hé uma complicada maquina politica, que deve marchar sempre com movimento uniforme em todas as suas partes: se alguma dellas pára ou se retarda, ainda quando o andamento geral vizivelmente nao sôfra, de certo a armonia total se destroe, e mais dia menos dia a dissoluçaõ deve vir. Com tudo a mola real da maquina politica com muita preferencia deve sempre ser cuidadozamente vigiada, porque destruida ou enfraquecida ella, todas as mais partes, de necessidade, hao de cahir em parilizia; e esta mola real hé" o dinheiro publico, por outros palavras, o Erario." Quer o nosso Principe, alem do que lhe há de revelar a Imprensa, racionavelmente livre, saber se os administradores publicos, que manejaō o dinheiro, sao fieis? Faça só este pequeno seguinte reparo.Indague quanto rendimento tem os seos administradores, e pergunte quanto gastao. Se achar, por exemplo, que um tem rendimento como 6, e gasta como 24, pode logo concluir sem errar; que os 18 que elle gasta alem dos 6 que tem de rendimento, sao roubos feitos ao Estado. Passe ainda a indagaçoens ulteriores :-Se na sua Caza Real, por exemplo, achar que as despezas excedem a receita, e ao procurar dinheiro para supri-las, vir que o primeiro que, com aparente generosidade, se offerece para lhe fazer emprestimos pecuniarios, hé um, ou o principal Mordomo da sua caza, que vive lautamente abastado; neste cazo tambem deve logo ficar entendendo o Principe, que aquillo, que a elle lhe falta, sem duvida nenhuma tem passado para as maons do individuo, que agora, fingindo generosidade, lho empresta. Outras muitas, e mui variadas experiencias deste genero pode fazer; e por ellas se habilitará a conhecer e remediar numerozas delapidaçoens publicas. Seja o nosso Principe sempre inexoravel para com os prevaricadores na administraçao do dinheiro do Estado, e terá logo rendas suficientes naõ só para manter esplendidamente, como lhe con

vem, a sua Caza, porem para ter um bom exercito, uma indispensavel marinha, e grande numero de estabelecimentos publicos, que sendo necessarios em todos os paizes, muito mais o saō agora em o nascente Reino do Brazil.

Nem se persuada o nosso Principe que o disfarçar e nao punir os delapidadores hé um acto de bondade: lembre-se, que para que esses sejao ricos, vivem na mizeria milhares de vassallos; e que sendo compassivo. para com os primeiros hé injusto e desapiedado para com os segundos, isto hé-para com o seo povo. Alem disto, quanto mais um punhado de parasitas se engordar com a substancia publica, menos credito ganhará a dignidade Real que os sofre; e o Principe nunca deve querer arriscar e comprometer o seo bom nome só para que poucos individuos absorvao riquezas enormes com o detrimento de todos-o Monarca, e a naçao. Haja pois responsabilidade em todas as Administraçoens, e em todos os Empregados, e haverá logo dinheiro em abundancia; com elle terá respeito e credito o governo; e do Brazil se fará o Imperio mais opulento, e respeitado do mundo. Esta hé só agrande móla dos Estados: sem ella nao há senao descredito, e mizerias. Mas só tomando medidas justas e energicas poderá o nosso Bom Principe fazer a regeneraçao do seo novo Reino do Brazil; e esta Regeneraçao será monumento mais nobre e mais duravel de suas virtudes do que esse que o povo do Rio de Janeiro bem merecidamente já quer agora dedicar á sua memoria.

FRANÇA.

Se nós vivessemos em França, e nos fosse dado chegar perto da pessoa de El Rey Luis XVIII., em uma manham em que elle estivesse mais desafrontado da gôta, e tivesse feito boa digestao, escreveriamos na parede do seo gabinete em largos e bem legiveis caracteres os versos seguintes, que um Poeta póz na bóca de S. Luis para Henrique IV. no assalto de Paris, a fim de que este seo filho, ao erguer-se da cama, os podesse ler e meditar :

Arrête, cria-t-il, trop malheureux vainqueur! "Tu vas abandonner aux flammes, au pillage, "De cent Rois, tes aïeux, l'immortel héritage, "Ravager ton pays, mes temples, tes trésors, "Egorger tes sujets, et regner sur des morts; "Arrête!

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Luis XVIII., entrando em França parece, com ef feito, haver entrado por conquista em um paiz inimigo, e quaze todas as suas medidas tendem mais ou menos a satisfazer vinganças suas, e de um punhado de adhe rentes, sem nem elle nem seos amigos se lembrarem que procedendo assim completaō a ruina da patria, e a vao reduzir a insignificancia, á mizeria, e a um completo aniquilamento de espirito publico.. Todas as Instituiçoens antigas começao a destruir-se, só porque nasceram quando elle reinava em Inglaterra; e vaō-se The substituir outras ainda mais antigas, que nao podem trazer a memoria se naō ideas desavantajozas aos Bourbons. Até o nome de-Instituto nao tem parecido sonoramente Real aos puros ouvidos do novo governo, que nao se contentando com expulsar delle alguns antigos proprietarios, ainda toma a vingança de o desbaptizar.

Por um Decreto Real, datado das Thuilleries aos 13 de Abril, se acabou tambem com a famoza Escolla Polytechnica, porque alguns dos pupillos se mostraram pouco obedientes, ou pouco affectos a nova ordein das couzas. Assim este grande estabelecimento de instrucçao militar Franceza já nao deve cauzar ciumes aos estrangeiros, que ainda podessem arrecear-se do poder das armas da França. Mas nisto vai mui coherente o governo, porque se elle tao de boamente entregou aos estrangeiros suas armas, suas muniçoens, as suas praças fortes, e até parte da herança que lhe deixaram seos pays; para que querem officiaes militares, e escollas que os instruao? O novo governo tem o espirito verdadeiramente christianissimo; quer reduzir a patria á toda a estupidez, e virtuoza ignorancia, tornando-a ignoblil e estulta pelo amor de Deos!

No que parece com tudo desviar-se um pouco das virtudes pacificas que inculcao o seo titulo, hé a bem pequena propensao que parece ter para o perdaõ das injurias; porque neste ponto se tem mostrado tanto de

VOL. XV.

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carne e osso como os mais inveterados peccadores. Hé verdade que tem perdoado a morte a alguns réos, mas tem-lhe commutado este castigo na pena de 10 e 20 annos de prizao; talvez porque a dor de um momento lhe parecerá couza nenhuma em comparaçaō de longos annos de uma dor constante e successiva! O General Debelle e o Coronel Boyer tiveram esta comutaçao de pena; o primeiro em dez annos, o segundo em 20 annos de prizaō. O virtuozo General Travot tambem foi prezo e condemnado a morte como conspirador; mas a sua sentença ficou annulada por illegalidades no processo, que se há de tornar a instaurar. Para se conhecer o caracter desta victima basta só, recordar-nos do seo comportamento em Portugal, e de que foi o pacificador de La Vendée; porem quando se quer o sangue de um homem, até a justiça dos Aristides hé crime!

O General Druot, que havia acompanhado Buonaparte para a ilha d'Elba, e com elle havia saltado em França, foi mais feliz no rezultado da sua sentença. Hé certo que a sua defeza foi mui nobre e mui franca; mas isto só nao lhe teria valido se um dos seos juizes nao tivesse seguido uma vereda oposta a que se esperava delle. Ŏ General Taviel, esse mesmo que foi

commandante em chefe de artilharia no exercito de Junot em Portugal, e na primeira invazao, quer seja que ficasse aturdido com uma certa Proclamaçao prophetica de Buonaparte, quando desembarcou em França, a qual foi lida no acto do processo, quer fosse por falta de constancia, ou por bondade de coraçaó, cazualmente tomou o partido de um unico voto certo a favor do general accuzado, e este foi absolvido.

Mas não existe em França só esta guerra declarada entre os governantes e os governados; mesmo entre os primeiros existem pelejas e combates bem sérios, ou affectadamente sérios, que dao que fallar ao mundo. A Camera dos Deputados está em contradicçao verdadeira ou apparente como governo e com a Camera dos Pares. A celebre Lei sobre as Elleiçoens naõ foi approvada pelos Pares, e querendo o governo compor a desavença, propoz outro Projecto de Lei temporario que foi aprezentado aos Deputados: mas estes mantiveraõ a sua primeira opiniao, e emmendaram o Pro

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