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jecto pela mesma forma que já da primeira vez tinhaõ decidido. Todo o chiste da contenda está porem no cazo seguinte:-Pelo artigo da Charta Constitucional, a Camera dos Deputados devia ser renovada dentro de 5 annos por quintos annuaes, mas o governo que nao achou talvez bom depois este arranjo, declarou que este artigo da Charta era um dos que deviao ser revistos pelas Cameras. Em consequencia disto, os Deputados regularam a nova Lei sobre as Elleiçoens, e nella estabeleceram por principio, que a Camera dos Deputados se conservasse inteira por 5 annos, e só no fim delles fosse inteiramente renovada. Os Pares nao approvaram a resoluçao, e nisto parecem hir agora de acordo com o governo. Este, que no principio manejou toda a sorte de intriga e dispotismo para que os Deputados da Camera nao fossem os verdadeiros reprezentantes do povo, mas só servis representantes da Corte, parece estar hoje mal contente com as suas creaturas, porque ellas nao se tem mostrado tao doceis como se desejava; nestes termos querendo agora purificar a Camera á sua vontade, pertendia que nella entrasse o primeiro quinto em virtude do artigo Constitucional. Os Deputados porem que lhe perceberam as tençoens, e que para seos fins se querem perpetuar todos no officio, durante os 5 annos, illudíram esta proscripçao, declarando que a Camera duraria 5 annos completos, e que só findos elles seria renovada in totum. Eisaqui pois está todo o ponto da questao. O governo em o novo Projecto provisorio queria deixar de fora este ponto essencial, e parecia dezejar que no em tanto se executasse o artigo da Charta a este respeito; mas os Deputados naõ deram pela insinuaçao, e emendaram o Projecto, ratificando a sua primeira resoluçao, de que a Camera se conservasse intacta por 5 annos. Nao sabemos o que neste cazo fará o governo, e se mandará ainda o Projecto para os Pares, ou se lhe porá o seo veto. O que dá com tudo a entender, que as couzas acabaráō em bem, hé que a outra, igualmente impor tante questao sobre o Budget se decidio á final segundo os dezejos do governo, e como este tem o dinheiro e meios que pertendía, naturalmente tambem condescenderá com a vontade daquelles que lho deram Para em fim mostrar a falta de unidade, e espírito

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de controversia que dividem todas as classes do pova Francez, acrescentaremos ainda, que até no interior do palacio a Familia Real vive em desavenças politicas. Nós, no Artigo França, pag. 316, já transcrevemos um extracto de uma Carta que se diz escripta por Lord Wellington a El Rey Luis XVIII.; e as ultimas palavras da citada carta sao assás curiozas, e grandemente memoraveis." V. M. (diz o Lord) peut être assurée, que le plus grand mal prend sa source dans son propre palais. Em explicaçao deste texto, diz o seguinte uma correspondencia de Paris, com data de 4 de Abril:

"Observa-se, que M. de Cazes tem ganhado ultimamente um decidida influencia em todo o gabinete. O seo ascendente no espirito de El Rey attribue-se á circumstancia seguinte: Haverá dois mezes o Ministro descobrio uma conspiraçao formada, nao como se suppoz naquelle tempo, pelos Revolucionarios contra a Familia Real, porem pela Familia Real contra El Rey. O seo objecto e seo fim eraõ compelir El Rey a abdicar, e para este effeito até já se tratava de empregar a força no cazo de rezistencia. O herdeiro immediato (Conde d'Artois) estava já previamente composto, e depois da abdicaçao de El Rey o Duque de Angouleme tomaria logo posse do throno: assim, deste modo, os Ultra-Realistas entrariaō no pleno exercicio de toda a auctoridade, e tudo quanto ainda falta para completar a obra da contra-revoluçao se teria triumfantemente executado. Esperava-se que o povo, intimidado com a prezença dos exercitos estrangeiros, nao fizesse a mais pequena rezistencia; porem como se viesse a revelar a palavra de guerra-minuit, o projecto abortou. Nimguem ignorava naquelle tempo a existencia da conspiraçao, mas ignorava-se o seo ob jecto verdadeiro. Prenderam-se muitos individuos, porem á nenhum delles se fez processo, e pratica-se agora tudo quanto hé possivel para sepultar toda esta historia nas trevas do misterio. O maior receio

que tem agora os novos conspiradores hé a opposição dos Alliados, e particularmente do gabinete Britannico, depois que virao a carta do Duque de Wellington: uma passagem desta carta allude positivamente, a aquella primeira conspiraçao."

A' El Rey, Luis XVIII., parece que falta muito daquella consistencia de caracter que já deitou a perder seo irmao: querer na apparencia seguir a opiniaō publica, e procurar com manejos occultos destruila hé uma marcha mui perigoza em tempos de fermentaçao, e pouco favoraveis ao governo. Consta que elle, fallando de Fernando VII. de Hespanha, dicéra a sentença seguinte:-Mon frère d'Espagne se depêche trop;-"Meo irmao de Hespanha vai hindo mui de pressa."-Nós porem somos de opiniao, que um homem com o caracter de Fernando, hé mais capaz de manterse no seo pôsto do que outro com o caracter de Luis XVIII. Ambos estes planos sao com tudo mui perigozos: o unico, bom e verdadeiro, hé o da moderaçao, e particularmente da franqueza, e lealdade em todas as acçoens.

O Projecto proposto na Camera dos Pares para abolir a escravatura Europea, forçando as Patencias d'Africa a seguir os dictames nesta parte de todos os governos civilizados, dará de certo muita honra á naçao Franceza, e ganhará muito melhor fama e reputaçao em acabar com o commercio infame e vergonhozo dos escravos brancos, do que ganhará Inglaterra em acabar com o dos escravos negros.

ROMA.

O artigo que debaixo deste titulo publicamos a pag. 821 hé ainda um daquelles que, sendo verdadeiro, muito bom nome dá ao gabinete Portuguez e ás beneficas intençoens do nosso Principe. A Inquiziçaō hé um tribunal do maior discredito para a religiao Christam, e da maior vergonha para os governos civilizados da epocha actual. Hé quase incomprehensivel como em nome de uma religiao, toda de paz e caridade, houvesse quem ouzasse crear um tribunal só digno de selvagens, ou de monstros; e ainda mais incomprehensivel hé como tenhaō havido Monarcas, que nao só o tenhaō auctorizado, mas até hajao prezenceado sem horror suas execuçoens barbaras e atrozes, bem semilhantes á horridos festins de Canibales! Mas já hé

tempo de acabar por uma vez com essa Instituição escandaloza: a opiniaō publica do mundo inteiro já tem lavrado contra ella sua sentença irrevogavel; e a continuação da sua existencia seria um insulto .feito á religiao e ao sentimento universal dos homens. Que tem com tudo que fazer o nosso governo com o Papa sobre este ponto? Nao hé a Inquisição um tribunal regio, e nao pode o Principe acabar com elle á toda a hora que lhe parecer? Consultar o Papa nesta materia, e agora no mesmo tempo em que elle resuscita os Jesuitas, bé embaraçar e pôr em duvida um direito, que hé inherente a Soberania Portugueza; e se esta já declarou, sem se emportar com as bullas de Roma, que nao queria estes, por que lhe naõ declarará tambem por uma vez, que naõ só naõ quer, mas que abomina aquella? Se aos seos muitos titulos á gloria e estimaçao publica acrescenta o nosso Principe ainda este novo, o de-Debelador da Inquisição em todos os seos reinos e dominios; poderá escolher ou ser chamado, como Tito, As delicias da Patria; ou o Hercules Luzo, por haver debelado o maior monstro, que tem affligido a humanidade.

Por outras noticias de Roma consta tambem, que o Papa mandára partecipar aos ministros de Portugal e de Hespanha que a tortura estava abolida no santo Tribunal da Inquisiçao. Isto será talvez para ver se adóça a nossa corte; e agora mais nos persuadimos que terá recebido alguma Nota a este respeito por parte do gabinete do Brazil. Porem nao se envergonha um Pontifice Romano, um Successor de S.. Pedro, de confessar ainda agora o mundo que a Inquiziçaō aplicava a tortura? He verdade, que toda a gente bem o sabia, mas hé vergonhozo para quem se diz vigario de um Deos de paz e de humildade, declarar que por grande mercê, que faz aos homens, a Inquiziçao nao continuará a despedaçar como até aqui membros humanos para extorquir revelaçoens, quase sempre filhas ou da desesperação ou da fraqueza. E os carceres, e os processos misteriozos, e ocultos nao sao ainda tambem outra especie de tortura que sempre permanece em quanto houver Inquisiçao. Pio VII. obraria com espirito mais Christao se aniquilasse este monstruozo Tribunal: a graça, que agora pertende

fazer ao mundo, parece mais filha de uma piedade ironica, do que de um verdadeiro amor do proximo.

HESPAN HÁ.

Os antigos Romanos tocavao por um lado o apice da civilização e urbanidade, e por outro o ponto mais infimo de uma barbaridade grosseira. A escravidao humana naō repugnava nem à sua polidez nem á sua politica, e o homem que nao era Romano ou livre, era havido por barbaro ou escravo. Assim em proporçao ao respeito que se tinha pelo homem livre crescia o desprezo pelo homem escravo, e á este só hé que a legislaçao Romana aplicava as penas infamantes, e a tortura. Um unico cidadao Romano crucificado por Verres fez estremecer Roma; e o Juiz que em algum tribunal tivesse ouzado applicar os tormentos a um cidadao, teria sido pelo menos precipitado da Rocha Tarpeia entre as maldiçoens do povo Rey, por quem o genero humano era entao reprezentado. As naçoens modernas, formadas das ruinas deste portentozo povo, trouxeram comsigo toda a sua barbaridade e os seos vicios, e bem poucas ou nenhumas das suas virtudes. Os noyos Soberanos da Europa quizerao ter leis, e as foraō desenterrar quase todas dos Codigos Romanos; mas infelismente apropriaram para si quanto era máo, e houverao em desprezo quanto era bom, justo, e liberal. Da pratica Romana tiraram pois os governos modernos o uzo da tortura; e na sua aplicação despojaram seos subditos da alta dignidade de homens livres, fazendo-os descer todos á classe infima de escravos. Porem naō hé isto o que mais nos deve fazer admirar. Que os descendentes dos Francos, Vandalos, Suevos, Huns, Alanos, Visigoths, Sarracenos e Tartaros, que todos passaram a governar sobre os despojos de Roma, tivessem adoptado esta ferós legislaçao, nem hé para espantar, nem muito para horrorizar; porque Chefes, essencialmente barbaros, nao podiaō agradar-se senaõ de leis barbaras. Mas que os Pontifices de Roma Christam, os que humildemente se denominavaō-Servos dos Servos de Deos

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