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fossem tambem aquelles que sanccionassem esta atroz legislaçao, e aos filhos de uma religiaõ de caridade, que veio dar a liberdade ao mundo, nao tivessem pejo de fazer applicar a tortura nos tenebrozos calaboiços das suas Inquisiçoens, hé com effeito um dos escandalos mais abominaveis com que se tem manchado a Curia Romana. Assim os vigarios de um Christo, que havia ensinado com a palavra e com o exemplo, que os homens começavao todos a ser livres e iguaes diante de Deos, vieram depois a contradizer estas maximas conçoladoras, provando de facto, que todos os Christaons nao erao mais do que méros escravos Romanos! Ao menos as antigas leis Romanas dispensavao ainda a metade, por assim dizer, do genero humano da aplicação destas penas crueis e infamantes; mas a legislação de Roma moderna, e de todos os mais governos da Europa à aplicou ao mundo todo!

Na auzencia de El Rey Fernando de Hespanha os que governavao em seo nome forao assas humanos e justos para riscarem do codigo penal Hespanhol este vergonhozo resto de atroz barbaridade; más tamanho bem, assim como outros muitos, nao era para durar. O amado Fernando nao quiz que seo povo nem ao menos tivesse este distinctivo de povo livre; aconcelhado de certo por ferozes Ministros, e por ferozes Inquisidores, reduzio novamente todos os Hespanhoes á infima classe de miseraveis escravos Romanos. Quando nisto con ciderâmos, e em outros procedimentos humanos, envergonhâmo-nos de ser homens !

Esta nova lei da tortura em Hespanha chegou muito a tempo, por que dará agora occasiao a todos os algozes de ostentarem sua pericia na aplicação das mais exqui sitas crueldades. Com ella as mais inveteradas vinganças se fartaráo, e os tigres, que só se nutrem de sangue e de mutilados cadaveres, exultaráo de ferocidade e prazer no meio destes horridos festins. Quando assim falâmos temos em vista a nova conspiraçao, que consta fora descoberta em Madrid, e tinha por fim o assassinar El Rey e toda a sua familia. Dizem que muitos dos conspirados, ou suspeitos, já estaō prêzos, e a todos se tem aplicado os tormentos. Entre estes se mencionaō particularmente o General O'Donohoue, que perdêra todo o uzo das suas maōs por effeito da

tortura, e o Intendente de Valencia que morreo sobre o pôtro. Já as vidas dos homens parecem pouco, e a força e o poder só se contentao com os gritos acerbos da intensa dor e desesperaçao. Mas nao há de ser com estes castigos que se tornará mais firme a coroa de Fernando, nem elle há de ganhar a plena e geral confiança, sem a qual naõ durao os tronos nem os Monarcas. Uma conspiraçao pode mui bem ser descoberta, porem das cinzas e do sangue das victimas della rebentaráō ainda outras muitas, entre as quais pode bem ser que haja úma que consiga o seo effeito. El Rey de Hespanha nunca sustentara pois seo throno com cadafalsos e torturas; e só o manterá sendo justo, humano, e liberal. Cumpra com a sua palavra Real, que deo aos Hespanhóes no momento que sahio do seo captiveiro; porque se um Rey nao tem palavra, como quererá ser bem quisto ou estimado? Esqueça por uma vez os erros daquelles que lhe quebraram as algemas, e que sempre na sua auzencia invocáram seo nome e lhe reconquistaram o throno duas vezes perdido pela abdicaçao e pela conquista; e fazendo-o assim, nem terá conspiraçoens que temer e que punir, nem torturas e cadafalsos que aplicar.

O governo Hespanhol, que está pondo agora toda a sua confiança nas armas e instrumentos dos algozes, tambem pertende achar salvaçao nas trevas de uma profunda ignorancia. Entre muitos factos que istò provao, temos o seguinte artigo, copiado do Morning Chronicle de 24 de Abril :

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"O governo de Hespanha faz agora quanto pode para cortar com toda a correspondencia epistolar com Inglaterra. Ordens secretas se tem dado a todos os directores dos correios para que quando nelles apareça alguma carta vinda de Inglaterra, se chame a pessoa para quem hé dirigida, se abra a dita carta na sua prezença, e se nella houver algum assumpto politico, seja o individuo prezo até rezoluçao de S. M. Outras ordens tambem se tem passado para nao enviar cartas para Inglaterra sem primeiro serem pagas, e disto bem se vê qual hé o motivo verdadeiro. A entrada de todos bs livros estrangeiros foi estrictamente prohibida; e o possuir ou lêr uma gazeta Ingleza equivale a um crime de alta traiçao."

VOL. XV.

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Que desgraçado nao hé o governo que se julga na precisao de recorrer á taes medidas! Cartas recentes de Paris, em data de 22 de Abril annunciao que o Conde Toreno, dois creados seos, e alguns Cavalheiros Hespanhoes baviao sido prezos por ordem do governo Francez no dia 21. Não se sabia porem ainda qual fosse o motivo destas prizoens; e se ellas procediao de offensas cometidas em França por estes Hespanhoes, ou de estar o governo Francez arvorado em official de Justiça pelo gabinete de Madrid.

PORTUGAL.

Neste artigo, pag. 323, transcrevemos uma Carta, vinda de Lisboa, por que do seo assumpto se podem tirar avizos uteis, e com elles melhorar alguns dos males infinitos, que enfraquecem e desdoirao a nossa patria. Portugal hé um emfermo, e bem emfermo: qualquer parte do seo corpo, que se examine, mostra logo sinaes evidentissimos de consumpçao, e de falta de cuidado em o reanimar, o que hé ainda peor. Coizas há que por muitos annos se tem feito, e continuaõ a fazer, para as quaes hé impossivel achar uma desculpa racionavel. Por exemplo, como com bem razaō e patriotismo nóta o auctor da carta, hé fado bem singular, que sendo o vinho o unico artigo que temos verdadeiramente importante, esse mesmo esteja ainda destinado para hir animar a industria, estrangeira! A excepção das uvas, que ali nascem, e ás quaes se faz a primeira operação para extrahir o vinho, tudo o mais hé feito pelo trabalho estrangeiro. Principia este por virém os gallegos fazerem a vindima, fallámos no alto Douro; segue-se depois envasilhar o vinho, e ahi apparecem logo as aduellas estrangeiras de que sao feitas as pipas, os aros de ferro, as garrafas, as rolhas, &c. &c. Nao fica porem ainda aqui tudo; o mais escandalozo hé, que para preparar este mesmo vinho seja igualmente preciso recorrer a agoa-ardente estrangeira. Que Portugal tenha o melhor vinho do mundo, e na maior abundancia, e que ainda assim mesmo compre aos Francezes a agoa-ardente para o compor

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éonservar, hé com effeito uma das mais riziveis indolencias, e miserias imaginaveis! Que haja uma Companhia, destinada unicamente para proteger e augmentar o commercio dos vinhos, e que esta ouze pedir licença para importar em tanta quantidade agoasardentes estrangeiras, e que o Governo lha conceda, hé tambem um facto que só se pode conceber em uma administraçao tal como a nossa, aonde tudo se faz ou por empenhos, ou por outros meios, ainda peiores, que a seo tempo seraō mencionados.

A lembrança do nosso correspondente sobre o artigo -Aduellas,-hé na verdade mui digna de ponderar-se, e deve merecer toda a attençao do governo do Brazil. Tudo quanto for promover a industria nacional, e com ella impedir que recebâmos dos estrangeiros aquillo que temos de abundancia em nossa caza, sempre deve alhar-se como objecto de primeira importancia. Mas quantas couzas nao temos nós neste genero para as quaes parece que nimguem repára, e que sao todavia merecedoras das mais sérias concideraçoens? Para naō sahir-mos deste mesmo artigo-Vinhos;-consta-nos que no Brazil entrao francamente os vinhos estrangeiros da Europa, e até os do Cabo da Boa Esperança, E sendo isto assim, naõ hé uma injuria bem prejudicial e palpavel, que se faz aos cultivadores de Portugal? Isto hé o mesmo que permitir aos estrangeiros que venhao cortar pela raiz as nossas vinhas para que nao assombrem as suas. Em quanto pois naõ se olhar para estes e outros grandes defeitos capitaes, que há em nossa administraçao, hé escuzado pertender ter industria e riqueza: com taes maximas, e com tal pratica nao pode haver senão muita mizeria publica, e ainda maior mizeria particular. Parece com tudo que este nome→→→ industria, hé um nome quimerico, ou totalmente des conhecido dos empregados publicos da nossa terra; e a prova d'isto hé outro facto que na sua carta aponta O nosso correspondente. A importantissima Fabrica de Costumes de Odimira está fechada só porque se diz que pertence a um Francez; e assim debaixo deste miserabilissimo pretexto priva-se o paiz de ventagena concideraveis, e se estanca. uma fonte certa de prosperidade e de riquezas. Em uma palavra, se vamos Beste andar virá tempo em que nao comaō nem vistað

os Portuguezes um só artigo que lhes nao venha dos estrangeiros, bem entendido em quanto tiverem dinheiro para o pagar; por que acabado elle (pois naō hé inexgotavel), entao será preciso, por ajuste de contas, entregar a esses mesmos estrangeiros até as proprias cazas e o proprio territorio, e começar depois a servilos como miseraveis escravos ou Ilotas, para poder haver delles um grosseiro vestido, e um modico alimento. Desta arte, do auge da maior riqueza e abundancia cahe o homem inerte na mais vil degradaçaō.

Novo Assumpto, prometido em o No. antecedente, A pag. 235 do No. LVIII., Artigo-Correspondencia, publicámos nós uma Carta, datada de Lisboa, e assignada-Lusitano. Entao prometemos fazer algumas reflexoens á cerca dos pontos que ella tratava, e isto agora vamos já cumprir. As ideas, e os dezejos do nossa Correspondente parecem ser, segundo noticias posteriores que havemos recebido, os de todos os bons Portuguezes da Europa. Na grande e dificil contenda que tao felismente terminou á bem dos princípios da civilisaçao, e independencia das naçoens, todos os habitantes do vasto Reino Unido Portuguez deram com effeito provas bem decisivas do seo patriotismo, lealdade, e amor ao seo Soberano; porem hé precizo igualmente confessar, que nenhums desenvolveram tamanha energia, nem sofreram tanto como os do reino de Portugal. Estes, na verdade, tem a honra indisputavel, no meio da orfandade em que se viram pela auzencia do seo Principe, de conservar illezo e gloriozo o throno Luzo, e de libertar a patria, por um momento surprehendida, e forçada a tolerar o jugo estrangeiro. E entao se as provas de seos heroicos serviços sao tao brilhantes e magnificas, nao teráō elles tambem juz a alguma brilhante e magnifica recompensa? O premio hé o natural alimento das virtudes : o nosso Principe o sabe; elle hé generozo e bom; e assim lh'o hade dar.

Assim que o nosso Principe tomou a rezolução de passar com o throno para o novo reino do Brazil, os Portuguezes da Europa entraram a sentir perdas bem

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