porque em quanto se governarem pelos mesmos principios, e pelas mesmas maximas, hé certo que teraō sempre os mesmos felicissimos saccessos, fugindo as novidades com que ordinariamente costumao os que eatrao de novo querer emendar o que está bem para que esteja melhor, quando a esperiencia tem mostrado, que semelhantes novadores, em lugar de conseguirem o que cuidao que hé melhor, arruinao assim o que estava bem, com irreparaveis ruinas da Corôa a que servem, e dos vassallos della. NOTE-SE. Que tendo levado a presença do Senhor Rei D. José o Papel, assima escrito, no dia 8 depois da collocaçao da Regia Estatua, e havendo o dito Monarca tido a bondade de o lér, como era do seo costume, o depositou no armario contiguo a Meza do seo despacho, fazendo a honra de dizer-me, que era justo que alli ficasse perpetuado para norma, e direcção dos futuros reinados, e ministerios delles: honra pela qual The beijei logo a Real maō. Resposta sobre o Extracto de uma Carta do Rio de Hé sempre para lastimar, que um ignorante scientifico tome a sua conta a fiscalisaçao, investigaçað, ou indagaçao de alguma obra publica, e principalmente de estabelecimentos montanisticos, ou metallurgicos. Carecendo dos conhecimentos proprios da materia, e querendo, nao obstante, dizer alguma cousa ao publico, muito natural hé, ou que trate de objectos assás triviaes, ou que, depois de applicar as suas orelhas á alguma velha, repita, como o papagaio, as historietas, que aprendêra. Emprehendendo se estes estabelecimentos no Brazil, e ainda em Portugal (naō succede assim em outros paizes) tem-se a vencer muitos obstaculos por causa dos partidos, que logo se-levantao uns, e poucos a favor, outros, e muitos, que lhes-declarao guerra aberta; seja por motivos particulares, seja por falta do verda deiro patriotismo, que em tempo de paz deve influir na prosperidade dos povos; e entao feliz hé o partido, que tem a ventura de topar algum enscrupuloso indagador, como o Snr. J. F. C., e de captar a sua benevolencia, e amisade, pois toda a culpa de erros, intrigas, e atrazamento de taes obras recahirá sobre a outra parcialidade. Se o Autor da Carta fosse um escrupuloso, e scientifico indagador, deveria dirigir suas indagaçoens, naõ sobre intrigas, mas sobre a causa das chamadas intrigas; examinar primeiramente os differentes planos, que se offereceraō para a erecçao da Fabrica de Ferro de S. Joao de Ipanema; considerar a utilidade da execução de cada um delles, e por fim exercitar o seu criterio sobre as obras já construidas; talvez entao (como tenho de certo) nao tivesse achado cousa, á que com justiça désse o nome de intriga, pelo que respeita ao procedimento do Snr. M. F. E. G. Varnhagen, cuja honra o Autor ataca de um modo o mais maledicente, que hé possivel. Para offuscar a honra de uma pessoa em papeis publicos, ponto este tao melindroso, deveria o Autor ter fundamentado melhor suas exposiçoens; pelo menos deveria ter referido factos authenticos, os quaes provassem, que intrigas somente haviaō sido causa do atrazamento, e perdiçao da dita Fabrica; e intrigas insinuadas, ou influidas por Varnhagen. A impudencia do Autor vai ainda mais longe: até se faz ridiculo, affirmando, que Varnhagen havia estado na Fabrica de Figueiró dos Vinhos em Portugal, onde só tratou de fomentar intrigas na mira de occupar o lugar, que ali exercia o nosso tao benemerito mineralogico J. B. de Andrada. No tempo, em que Varnhagen estivera empregado n'aquella Fabrica como Feitor, emprego que correspondia ao que teve o director Hedberg na Fabrica de S. Joao de Ipanema, o que se póde vêr no Alvará das Minas de 1801 no Artigo-Obrigaçoens do Feitor nesse mesmo tempo, digo, occupava eu o cargo de Inspector das Minas da referida Fabrica de Figueiró; e pelo espaço de cinco annos, que ali estivemos juntos, nao appareceo intriga alguma fomentada por Varnhagen (nao sendo este o vicio dos Alemaens) ambos porem tivemos combates que sustentar, e bem renhidos, contra a ignorancia, e indolencia de muitas pessoas. Ridiculo se faz o Autor da Carta, e mostra grande ignorancia das leis montanisticas de Portugal; inculcando que Varnhagen aspiraya ao lugar, que occupava J. B. de Andrada: a leitura das ditas leis pode instruir ao Autor, e capacita-lo de que Varnhagen nunca se poderia lembrar de ser Intendente Geral das Minas, emprego, que exercia o nosso amigo J. B. de Andrada. De mais, avançar o Autor da Carta, que Varnhagen fôra como Interprete dos Suécos, hé a maior injuria, que se pode praticar contra a verdade. Varnhagen, que antes da vinda da Companhia Suéca fôra mandado de Ordem de S. A. R. a S. Paulo, para examinar as minas de ferro, e formar planos para a erecção de uma Fabrica, foi segunda vez mandado com os Suécos para os introduzir, e combinar o seu plano com o que havia de formar o Director Suéco; e como nao tivesse lugar esta combinaçao, sendo o plano do Suéco muito differente do de Varnhagen, este regressou para o Rio de Janeiro até que terceira vez por Ordem Regia foi mandado para S. Paulo com o Tenente General Napion; logo como pôde Varnhagen influir nas intrigas da Fabrica? Creio, que nao deve ter o nome de intriga a declaração de Varnhagen, com que abertamente asseverou, e desde o principio; que o plano do Director Suéco era errado, e fundado em principios falsos; e que executando-se, jamais corresponderiao ás grandes despezas os resultados da Fabrica. Hoje a experiencia, com exorbitante prejuizo da Real Fazenda, e dos Accionistas, tem mostrado, que Varnhagen fallou sempre como verdadeiro conhecedor da materia. Tendo-me sido communicados todos os papeis officiaes relativos à quella Fabrica de Ipanema, bem informado estou, de quanto se passara desde o começo do estabelecimento, até a despedida da Companhia Suéca. Naō bavia nesta Companhia um só Fundidor de Ferro; e teve ardiz o Director, para conseguir, que enganadamente se pagassem grandes ordenados a Alfaiates, Çapateiros, Cozinheiros, e Ourives, reputados habeis Mestres Fundidores, Refinadores, e Forjadores de Ferro; dos mesmos papeis se colhe á toda a luz, que o Director Suéco Hedberg nao era homem, de quem se podesse confiar o estabelecimento de uma Fabrica de tanta importancia, e as faculdades, que lhe permittia a Carta Regia, com que fôra authorisado para aquelle utilissimo fim. E quaes as consequencias? Dispenderem-se mais de 80,000rs., e nao existir Fabrica, que corresponda a tao excessivo dispendio. O Tenente General Napion foi mandado tarde, nada remediou, nem podia remediar. O plano Suéco estava executado; e só restava, que a pequena Fabrica fundisse a grande porçaõ de ferro, que o seu Director promettia, como infalivel; e com taes calculos pôde em fim illudir o Tenente General Napion sem embargo dos protestos de Varnhagen, e das minhas representaçoens: pois que já entao se achava trabalhando a Fabrica de Ferro, que eu construî nesta Capitania de Minas Geraes, e da mesma forma, que o Suéco intentára, que a outra trabalhasse, com quatro fornos; com a differença porem, de que a erecçaõ d'aquella debaixo do meu risco nao importou em mais de 4,000rs., mostrando-se pela experiencia a porçaõ de ferro, que se poderia obter de semelhantes 'Fabricas.> que Entretanto sendo presente a S. A. R. o máo estado das cousas, e parecendo ao Mesmo Augusto Senhor, que se nao praticava injustiça alguma, dispedindo-se do seu Real Serviço o Director Suéco C. G. Hedberg com a maior parte da sua Companhia, assim o mandou, ordenando ao mesmo tempo, que eu informasse sobre o melhoramento da Fabrica, e da sua futura administraçao; e que fosse coadjuvar aquelle estabelecimento, o que nao pôde verificar-se, por achar-me encarregado de objectos, que exigem indispensavelmente a minha presença nesta Capitania. Uma prova evidentissima de que S. A. R. tem tomado em consideração o merecimento de Varuhagen, hé havê-lo incumbido, depois da dimissao dos Suécos, da administraçao da Fabrica de Ipanema, adoptando-se o seu plano, e construindo-se fornalhas altas em vez de fornos Suécos. Os progressos, que a dita Fabrica em 1 pouco tempo fará, debaixo da direcção de Varnhagen, serao os melhores testemunhos da sua capacidade, e que tornaráo despreziveis, e odiosas as calumnias do Snr. J. F. C. Tenho concluido, pelo que respeita á resposta da Carta do Sur. J. F. C. Aproveito-me porem da mesma occasiao, para dizer alguma cousa sobre a abundancia de mineral de Ferro nesta Capitania de Minas; e bem que seria este um objecto para uma extensa memoria, com tudo limito-me a dar sómente algumas idéas geraes. Se um viajante mineralogico, e geologico ficar pasmado de ver as grandes riquezas das minas de Ferro de Sorocaba na Čapitania de S. Paulo, mais pasmado ficará viajando na Capitania de Minas Geraes, e vendo uma grande parte das suas Serranias formadas de mineral de ferro, principalmente da mina de ferro magnetico, especular micaceo, e vermelho denso. Há quatro annos, que de ordem de S. A. R. fui mandado para esta Capitania, encarregado de indagaçoens mineralogicas, e montanisticas, e de promover estabelecimentos metallurgicos: tenho viajado uma grande parte della; e sem exageraçao confesso, que a abundancia de mineral de ferro hé tanta, que o mundo inteiro poderia ser suprido d'este genero, e por todo o tempo de sua existencia; o peior porem hé a escassez dos matos em muitas partes, os quaes tem sido, e ainda continuaō a ser destruidos pelo methodo barbaro de cultivar as terras; queimando-se para este fim as mais bellas florestas, e deixando-se incultos bellissimos campos. Segundo minhas observaçoens geognosticas, estas formaçoens ferreas parecem-me contemporaneas com uma formação de uma pedra arenosa, ou gres commum com gluten chloritico, fazendo muitas vezes o mineral de ferro magnetico, e micaceo, transito para este grés, e vice versa. A formação da mina de ferro vermelho denso vulgariter aqui chamado Canga-hé a mais moderna, e forma, por assim dizer, uma incrustaçaõ de uma braça, até braça, e meia na superficie das montanhas, cobrindo desta sorte todas as camadas inferiores. O seguimento das differentes camadas das Serranias |