quanto era util, grande, magnifico, e obra daquelle governo regenerador, quase que o tem conseguido, fazendo retroceder Portugal para a mesma epocha de miseria e de pobreza em que estavamos no anno de 1750. Hoje porem cabe ao nosso bom Principe ser o novo Restaurador da Patria, e tomando por modello as maximas de seo Augosto Avô, marchar como elle ao templo da immortalidade e da gloria, e dar a Portugal todo o grao de riqueza, de independencia, e concideraçao publica que essencialmente lhe pertence: O nosso actual Soberano vê-se pois como seo illustre Avô, nas felizes circumstancias de desenvolver todas as suas boas e paternaes intençoens; e perderá elle a bella occasiaó, que lhe aprezenta a fortuna, de ganhar o titulo de Pai da Patria, e fazer a felicidade dos seos povos? Certamente nao: todas as providencias, que já tem começado a dar, augurao bem o cumplemento de tudo o que os seos povos necessitao, e que tanto lbe merecem. O nosso Principe tem diante de si o campo vastissimo do seo novo Reino do Brazil, que mui rico em todos os dons da natureza, só lhe pede boas leis para auxilliado por ellas se converter no mais poderozo Imperio do mundo. Tem mais, diante de si o seo antigo berço, essa heroica Patria de todos os seos antepassados,-o valente e fiel Portugal,--nao devastado por um terremoto, mas talado, queimado, e despovoado por uma guerra desastroza, e que de longe nao cessa de mostrar-lhe, que tudo quanto passou a padeceo foi por sustentar a sua lealdade, e coin ella o throno, que antigos prodigios já ergueram em Ourique, Assim os dominios de ambos os mundos estao todos pedindo o auxillio da mao poderoza do seo Monarca; e este, abrangendo o poder dos dois hemisferios, nao tem mais do que dizer um palavra para se remontar ainda mais alto do que se remontou seo Avô. No que este prodigiozamente fez, e que está estampado nas memoraveis observaçoens de que estamos tratando, achará o nosso Principe modellos de tudo que precisa fazer; e assim não só satisfará os dezejos do seo leal povo, mas até os do Grande Monarca, que lhos deixou como em testamento. Todavia o Brazil já começa a ser premiado pela boa hospitalidade que deo aos caros Penates do seo Prin-, cipe e da Monarquia Portugueza: passando de colonia a dignidade de Reino, e com esta ao melhoramento de leis, de industria, e de commercio, já muito tem por que abençoar a prezença do seo Soberano. Mas que se tem feito até agora em beneficio do antigo Reino de Portugal? Será elle de peor condição que o Reino do Brazil? O primeiro já teve premio, o segundo ainda o espera . . . . De certo, todos os leaes Portuguezes da Europa diriao ao seo Bom Principe se elle os podesse ouvir;-" Senhor, nao se esqueça V. "A. R. que os povos dos seos Reinos de Portugal e "dos Algarves sao os seos filhos primogenitos. Elles "nao querem transtornar os altos destinos da glorioza Monarquia Portugueza; porem em quanto estes "mesmos destinos obrigao V. A. R. a estar separado "desta primeira porção de seos filhos, elles ao menos dezejao ver entre si uma imagem viva do seo Ado"rado Soberano, e querein ser Reino nao só de nome "mas de realidade e de facto. Dentro do seo proprio coraçao achará V. A. R. meios infinitos para satis"fazer e premiar_copiosamente os seos benemeritos "e leaes filhos da Europa." Com as boas intençoens, que saô assas conhecidas em o nosso Principe, nós recomendâmos a todos os fieis Portuguezes que esperêm tudo do seo beneficente Soberano: o seo venturoso Reinado está indubitavelmente destinado para marcar ainda uma grande epocha nos annaes da Monarquia Portugueza, e esta epocha memoravel hade fazer a felicidade de todo o Reino Unido Portuguez. Entre os ministros do nosso Prin cipe tambem ainda se hade achar algum que taõ feliz e incançavel como o grande Pombal, possa aprezentar ao seo Soberano uma serie de observaçoens, que rivalizem com estas sobre que até agora temos fallado. E qual será o ministro que nao cobice esta honra e esta gloria? Este, certamente, há de apparecer, e se cobrirá de fama, assim como cobrirá de felicidades o extensissimo Reino Unido Portuguez. Quanto ao nosso Principe, elle tambem nunca perderá de vista as acçoens magnificas e uteis de seo illustre Avô, o Grande Snr. D. Joze I. Os seos leaes povos de ambos os mundos estao todos mui bem persuadidos das suas reaes e beneficas intençoens: e assim, tomando a linVOL. XV. 3 S goagem do primeiro dos nossos Poetas, unanimemente he dizem : "Em vós esperaõ ver-se renovada POLITICA. AMERICAS HESPANHOLAS. As ultimas noticias, chegadas das Americas Hespanholas, e que levamos copiadas a pag. 462, mostrao que o partido Realista nao só nao tem feito progressos, mas tem sofrido perdas consideraveis. A nossa opiniaō á este respeito ainda nao mudou : Se os Americanos tem constancia, assim como a tiveram os Hespanhoes da Europa, o grande continente Americano está perdido para a Coroa de Hespanha. Os meios de conciliação erao os unicos que podiaō operar algum bom effeito; mas se em lugar destes se empregam os da pilhagem, assassinios, e toda a especie de crueldades, entao os odios eas vinganças tomao raizes profundas, e a guerra se faz até a exterminaçao de um ou outro partido. E qual dos dois partidos (independente, e Realista) será com toda a probabilidade primeiramente exterminado? O que arithmeticamente for menos numerožo. governo Hespanhol da Europa hé hoje a imagem da fraqueza e da miseria; e ainda que tenha toda a força, que só basta aos algozes, nao tem de certo a que precisa ter um conquistador. Mas ainda quando tivesse a deste ultimo, ser-lhe hia possivel despejar no centro das suas Americas braços suficientes para agrilhoar muitos milhoens de Americanos? Isto hé tao absurdo em physica como em politica. Nao tem por consequencia outra alternativa se naõ a da moderaçao e da justiça. Nao se tem querido servir deste meio, nem hé provavel que para ao deante o empregue: segue-se logo, que o Continente Americano, se tiver firmeza, será a sepultura de todos os miseraveis Hespanhoes que la lhe cahirem lançados da Europa. O O que nos custará em tudo isto sera ver-mos, que o Governo Portuguez se intrometa activamente nešta delicadissima questao. Pelas ultimas noticias do Rio de Janeiro, copiadas nas Gazetas Inglezas, constava que as tropas chegadas de Portugal, e enviadas para as margens do Rio da Prata, já começavao a dezertar e a bandear-se com os Insurgentes: se isto hé verdade, como hé provavel que o seja, ao menos em parte, que consequencias fataes nao podem ainda rezultar desta impolitica medida? Por outras noticias, tambem publicadas nas Gazetas Inglezes, corre ainda que de Portugal embarcaram para o Brazil no dia 18 de Abril passado mais 6,000 soldados Portuguezes. E hirao estes ainda para as margens do Rio da Prata, para com elles tambem se engrossaren as legioens dos Insurgentes Americanos Desta sorte se vai enfraquecendo o Reino de Portugal, e se despovoa a joia mais rica e mais valioza de todo o Reino Unido; e para que para entrar em uma questaõ melindrosissima, que pode mui bem gerar ainda arrependimentos bem fupestos. "Quem tem telhado de vidro, diz um dos nossos proverbios Portuguezes, nao atira pedradas "ao de seo visinho!" A politica da Côrte do Brazil deve consistir toda em comservar tranquilo, e contente o seo vasto territorio, governando-o com liberalidade, justiça, e rectidaō. O meio mais efficaz de impedir revoluçoens hé governar bem, isto hé;-fazer com que todas as medidas, tomadas pelas auctoridades publicas, sejao em beneficio e utilidade dos governados: quem está bem, nunca dezeja mudar, por que justamente receia ficar mal. Ora, supposto isto, cuide o nosso governo em tratar bem os negocios da sua caza; e quanto aos dos vezinhos, espreite-os, e conheça-os unicamente; mas nunca se intrometa activamente nelles senaō quando for hostilmente provocado. Seguindo estas maximas prudentes será sempre respeitado nao só pelos de caza, mas pelos estranhos, quaesquer que elles sejao. REINO DO BRAZIL.-BANIA. Os Pretos desta parte do Reino do Brazil quiseram celebrar a revolta de Fevreiro de 1814 com outra em Fevreiro de 1816. Máo bé que os escravos, em qualquer parte que seja, se acostuinem á esta especie de combates, e se ensaiem na arte da desobediencia armada; porque se muitas vezes podem ficar vencidos, basta que uma só fiquem vencedores para transtornarem toda a politica segurança de todo o Reino do Brazil. Uma das guerras mais dificeis, que teve Roma, foi a dos escravos; e a victoria, que em nossos dias alcançaram em S. Domingos, deve fazer estremecer á todos os que vivem no meio desta povoaçao heterogenea, que no fundo dos coraçoens sempre nutre esperanças de vinganças e liberdade. Hé de certo um grande mal querer fazer consistir a força de um Imperio no grande numero dos escravos; e se o Brazil tivesse só uma vez reflectido que cada negro, que exporta d'Africa, hé um inimigo necessario, que vem meter dentro de caza, hé bem de prezumir ou que nenbuns teria ouzado empregar em seo serviço, ou o teria feito com muito maior economia. Porem em quanto este sistema desastroso dura, hé preciso, na realidade, ter a maior cautela com os escravos. Nós nao somos os apologistas nem da escravidaō nem da tirania, mas nem por isso somos tambem os apologistas da anarquia, da insubordinaçao, ou dos tumultos, seja qual for a classe de individuos que os faça. Os escravos nao se devem tratar barbaramente, e antes se deve ter com elles aquella comiseraçao que a sua mesma sorte miseravel 'inspira á todas as almas bem formadas; mas por isso mesmo que a sua condiçao forçada, anti-natural, e violenta traz comsigo a necessaría lei physica e moral da reacçao, he necessario guardar sempre com elles uma muí escrupuloza vigilancia. Hé preciso acostuma-los a uma disciplina exacta e uniforme de que a mais pequena transgressao seja objecto de um castigo moderado; e o que se pratica com os soldados ou com as tripulaçoens dos navios deve ainda com maior razao praticar-se com os escravos. Nao queremos porem dizer com isto, que se devao aplicar aos escravos esses mui ordinarios castigos atrozes, que horrorisao, e fazem tremer a natureza: pelo contrario devem ser punidos com toda |