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a humanidade, porem sempre que mostrarem espirito de insubordinaçao ou de revolta. A arte de governar nao consiste em castigar muito, porem em castigar sempre, uma vez que haja delicto: quando a lei hé igual e uniforme, os pequenos castigos, que ella ordena, sao de maior effeito que os mais barbaros, que leis barbaras, caprichozas, e irregulares aplicaō sem imparcialidade nem medida.

Se por effeito desta falta de necessaria disciplina. teve origem a revolta dos Pretos da Bahia, de que agora tratamos, e se esta mesma falta recahe, como menciónao as noticias que transcrevemos, sobre imprudencias do actual Governador; entao este facto merece as mais sérias atençoens da parte do governo do Rio de Janeiro. O facto hé um dos mais importantes para o Brazil, e tanto mais, porque já naõ hé a primeira vez que ali succede: se for olhado como bagatela, ou em poucos dias esquecer, pode vir tempo em que hajao bem amargos arrependimentos. E quem sabe, alem disto, se haverao molas estranhas que agitem os escravos? Neste ponto summa indagaçao, firmeza, e prudencia devem dirigir todos os passos do governo do Brazil.

RUSSIA.

O pequeno Artigo, que transcrevemos debaixo deste titulo a pag. 466, nao precisa de Comentarios; elle mesmo hé um curto, porem mui expressivo Comentario de um facto politico bem extraordinario do nosso seculo. A Russia, para desviar as más interpretaçoens que se tem dado, ou ainda se podem dar aos motivos da sua Sancta Alliança, fez a seguinte Declaraçao :

St. Petersbourgo, 24 de Abril, 1816.

"S. M. o Imperador fez á todas as Côrtes da Europa uma mui interessante Declaraçao, na qual annuncia, que a sagrada alliança, concluida entre elle e scos altos Alliados, Suas Magestades o Imperador d'Austria e El

Rey de Prussia, nao tem outro objecto em vista mais do que pacificamente fundar a interna felicidade dos Estados, e nao só comfirmar os mais inviolaveis sentimentos de paz, concordia e benevolencia para com todas as naçoens Christans, porem ainda extende-los até á essas mesmas que nao professao a religiaō Christam. Esta Declaração, e a interpretaçao da sagrada Alliança comfirmao, por consequencia, o sistema de paz adoptado pelo nosso Augusto Soberano até para com a Porta Ottomana; e saō a mais forte e positiva contradicção das vistas occultas que algumas Gazetas estrangeiras atribuem á sagrada Alliança.”

Apezar desta Declaraçao, na parte que toca a Porta Ottomana, parece que entre as duas Cortes naō reina a melhor armonia. Ao menos existem entre ellas questoens; e para melhor as rezolverem, a Porta aceitou a mediação da Austria, e Inglaterra.

REINO DOS PAIZES BAIXOS.

No artigo Arau, pag. 467, publicamos uma noticia velativa aos Paizes Baixos, e que hé mui interessante pelo seo assumpto. Nos todavia, nao pertendemos por hora afiançar toda a sua veracidade, por que ella tras comsigo sinaes taõ vesiveis de extravagancia, que nos parece impossivel que o Pontifice Pio VII. ouzasse dar no seculo prezente uma resposta Diplomatica concebida em taes termos. Mas emfim os Papas, apezar da sua infalibilidade, naõ deixao de ser homens; e mais de um já tem havido, que nao tem dado grandes exemplos de moderaçao e de prudencia. A Declaração do Pontifice que se lhe atribue neste artigo, afirmando,-" Que a tolerancia das diversas

religioens hé contraria aos principios da Igreja Catholica" hé a todos os respeitos anti-social e antiChristam. Pode mui bem ser contraria aos principios politicos da Sé de Roma, mas esta nao constitue só a Igreja Catholica. Em o nosso No. passado já nós publicamos razoens mais que suficientes para mostrar que a tolerancia hé um dogma politico e religioso; e agora pouco será preciso acrescentar. Se a tolerancia

hé contraria aos principios da Igreja Catholica, enta evidentemente se segue, que-a perseguiçao hé comforme aos principios da mesma religiao. Entre tolerancia e perseguiçao nao há meio. Todavia este espirito perseguidor pode mui bem achar-se comprovado por factos infinitos, consagrados nas Inquisiçõens Romanas, mas nao terá certamente apoio algum racionavel em um só capitulo de todos os Evangelhos.

Deixemos porem as razoens theoricas, e vamos á pratica. Até bem poucos dias os Bispos da Belgica erao subditos do Imperio Francez; e uma das leis fundamentaes deste Imperio era a tolerancia de todas as religioens. Porque nao tiveram em tao os Reverendos Bispos, nem o mostraram, o mesmo religioso escrupulo, que hoje tem? Hé a religiao uma mascara, que se poem e que se tira quando n'isto há o mais pequeno interesse? Neste cazo fizeram entao mui bem os Bispos Catholicos de estar calados no reinado de Buonaparte, e de gritar agora em alto e bom som no reinado actual. Mas se a religiao hé a mesma em todos os tempos e em todos os reinados, nao podêmos neste cazo perceber os religiosos principios dos Bispos da Belgica. Isto hé quanto pertence aos Veneraveis Pastores: passemos agora ao Vigario de J. Ch.

Sua Sanctidade, o Pontifice Pio VII., hé o mesmo que corou Buonaparte, e assignou com elle uma Concordata religiosa, que nao tinha outro fim proximo se nao dar estabilidade á esta mesma tolerancia. Hé logo tambem clarissimo que o Papa nao assentou que a tolerancia era contraria aos principios da Igreja Catholica, porque se de tal estivesse persuadido, de certo haveria cahido em herezia; e se isto assim fez naquelle tempo, porque dirá agora ao mundo que→ a tolerancia das diversas religioens hé contraria aos principios da Igreja Catholica? Mas nós, o repetimos ainda, fallâmos assim na supposiçaõ de que o artigo, datado de Arau, seja veridico. Se o nao hé, restituase toda a boa fama ao anel do Pescador, porque nós, nem zombando, queremos offender pessoa alguma em nossos escriptos. Se em tudo isto há porem vizos de verdade, parece-nos, que o Pontifice fez mui bem em ter resuscitado os Jesuitas; porque havendo elles já querido compor em outra epocha uma theologia acco

modada aos tempos, darao agora a S. Sanctidade mui importantes auxilios para esta obra classica.

ROMA.

A reforma dos Tribunaes da Inquisiçao e Sancto Officio nao nos parece merecer tantos elogios como ella pertende inculcar-nos. A Inquisiçao nao deve ser reformada, deve ser extincta e abolida. Delenda est Carthago era o grito do genero humano de outras Eras, reprezentado pelo Povo Rey. Delenda est Inquisitio, "extingua-se a Inquisiçao" hé hoje o grito de todo o genero humano, reprezentado por todos os homens de uma pura e verdadeira religiao. Depois que a Inquisição levantou fogueiras nos dois hemispherios, e nellas sacrificou milhares de victimas humanas ao Deos da paz, da humildade e caridade, em uma palavra, ao homem Deos, crucificado por um excesso de amor por todos os homens; já ella naō tem mais direito para existir como tribunal de uma religiao sancta e de amor: a Inquisiçao tem sido a imagem de um tigre no meio de um aprisco de cordeiros. Todas as reformas, que se lhe fizerem, seraō por conseguinte ainda um novo insulto, cometido contra a religiao e a humanidade ultrajadas. Mas deixemos este ponto, que até offende a imaginaçaō; passemos a outro assumpto.

Embarada Extraordinaria em Roma.

No Diario de Roma, em data do 1o de Maio, lemos o seguinte:

"A Sanctidade de N. S. Pio VII. felismente reinante havendo dispensado da entrada publica a S. E. o Sar. Conde de Funchal, Embaxador Extraor dinario de S. A. R. o Principe Regente do Reino Unido de Portugal, do Brazil, e dos Algarves, junto da S. Sé, lhe destinou o dia 30 de Abril, para a sua audiencia publica. (Segue-se a Relaçao extensissima desta mui custoza e brilhante audiencia, que por falta de lugar deixamos para o No. seguinte.)

O discurso, que S. E. recitou por esta occasiao, e

que ainda tambem para outra vez publicaremos por inteiro, foi em resumo o seguinte:-"Mostrou, que os nobres motivos desta extraordinaria Embaxada naō erao outros mais do que felicitar S. Sanctidade, em nome do Principe Regente, pela sua feliz e fausta volta para Roma, e pela recuperação dos Estados Pontificios; e ao mesmo tempo dar um novo testemunho publico do respeito filial, suma devoçaõ e fidelidade, que a sua generosa Real Côrte sempre manifestou pela Santa Sé. Por fim implorou para o Serenissimo Principe Regente, para a Familia Real, para a Côrte, e para todos os subditos do Reino Unido Portuguez a Bençaõ Apostolica."

O. S. Padre, respondendo com mui afectuosos sentimentos, patenteou o seo sincero agradecimento por este acto de religiosa veneraçao, tributado a S. Sé, e fez um publico e mui distincto elogio do Serenissimo Regente e de toda a Familia Real pelas luminosas e repetidas provas da sua piedade Christam. Rogou depois a S. E. o Snr. Embaxador, houvesse de participar ao seo Augusto Principe toda a sua paternal affeiçao, e reciproca estimaçao por toda a Real Corte Fidelissima. A' final, declarou S. S., com expressoens mui polidas e affectuosas, o muito em que prezava a pessoa de S. E. em attençao as suas distinctas virtudes e talentos.

FRANÇA.

As duas Cameras Legislativas de França forao prorogadas até o 1o de Outubro proximo. Esta medida, que se tomou muito mais cedo que se esperava, foi, segundo corre, para prevenir algumas differenças que se prezumia poderiao ter lugar entre as duas Cameras á respeito do Clero. Os Deputados haviaõ adoptado, há pouco, uma resoluçao, relativa ás pensoens Ecclesiasticas, que tinha sido acrescentada ao projecto aprezentado pela Coroa. O Governo regeitou a dita resolução por nao fazer parte do projecto, porem ao mesmo tempo partecipou à Camera dos Deputados por meio do Ministro Vaublanc, que a resoluçao seria enviada a Camera dos Pares. Mas no mesmo dia em VOL. XV. 3 T

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