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que se fez esta partecipaçaõ forao prorogadas as Cameras, e por consequencia perdeo-se a Resoluçaō. Este modo de tratar os Deputados nao hé com effeito nem mui polido, nem decente, porem o governo tinha já conseguido o que pertendia, isto hé-a pecunia, e portanto despedi-os sem cerimonia. Nao faça com tudo muitas destas o Ministerio Francez, porque taes subtilezas lhe podem ainda custar caro. Os Deputados, ainda que nao comformes em tudo com as opinioens da Corte, tem-se todavia mostrado seos verdadeiros campioens; e se ella assim trata os amigos, que auxilios poderá esperar delles em occasiao de perigo? De mais, que será se elles desgostozos se bandêao com os milhares de inimigos, que tao abertamente atacao o governo? Nada ha mais feio, nem mais impolitico do que empregar medidas dobles, pouco leaes, e pouco francas e se esta pratica hé vergonhoza, até usada por particulares, quanto mais o não será, empregada pelos governos, que sempre devem mostrar-se leaes e verdadeiros? O governo Francez tinha auctoridade propria e constitucional para regeitar a resoluçao; e portanto muito mal lhe cabia servir-se de um miseravel engano: a boa fé, e palavra sao as que sustentao os thronos.

Todas as mais noticias de França, a excepçaõ de uma pequena mudança no "Ministerio, reduzem se á conspiraçoens, processos, levantamentos, e mortes, quer dadas pelos algozes, quer pelas baionetas, em campos de batalha. Soldados armados sao obrigados a bivouacar em torno do Louvre para guardarem a pessoa sagrada de Luis o Dezejado; e a grossa artilharia de Vincennes foi transportada para os Invalidos para ter em mais amor e respeito a boa cidade de Paris! Com effeito nao podemos comprehender a politica do actual governo de França! Muitas razoens para explicar toda esta variedade de successos de certo se podem achar no caracter natural dos Francezes, porem outras muitas há, que exclusivamente pertencem ao caracter da quelles que os governaō. Quando o ultimo governo acabou, já tao desacreditado estava na opiniao publica, que tudo indicava, que os Bourbons seriaō os verdadeiros pacificadores e conçoladores da França. A mesma ultima e desesperada tentativa

de Napoleao sobre a França evidentemente mostrou que, alem do exercito, com nenhum outro sincero auxilio podia contar da parte dos Francezes. Apezar disso o mesmo povo, que abominava Buonaparte, nao pode supportar os Bourbons: e qual hé a razao disto? Hé porque estes ultimos nao tem certamente empregado toda a judiciosa prudencia, que as suas circumstancias e as da França pediaō. Luis XVIII. tem querido absolutamente governar como homem cahido do Céo sobre o territorio de França, sem lembrar-se, que os Francezes, que mui bem o escusaram por 25 annos, nao terao grande pena em se ver livres delle para sempre. Querer atribuir sempre todo o mal ou toda a culpa aos governados, e proclamar impeccaveis e santos todos os governantes hé lingoagem mui sabida de todos os cortezaons, que mui boas razoens tem para isso; mas o escriptor publico, que tem por dever ajuizar, e reflectir sobre os successos do seo tempo hé obrigado sine ira et studio, (sem odio nem afeiçoens) a tomar mui diversa vereda.

Noticias particulares de Paris mencionao-“ que Concelhos de Gabinete e Concelhos de Familia estaõ em continua permanencia, mas que os ultimos sempre destroem as resoluçoens dos primeiros. Os mesmos Concelhos de Familia formaõ dois partidos mui diversos, o de El Rey, e o dos Principes. Um quer ,seguir o sistema de moderaçao, outro um sistema de exterminaçao. Em um desses Concelhos de Familia, hé voz constante, que Marmont sugerîra a idea de reassumir as cores nacionaes, e de formar um ministerio de que Talleyrand fosse o chefe. "Os militares," dice elle," nunca pelejaráō com brio debaixo de outras "cores, nem a naçao poderá considerar quaesquer "outras como seguro emblema das suas liberdades "constitucionaes." Esta idea foi fortemente debatida, e até se diz, que estivéra a ponto de adoptar-se, porem a invencivel eloquencia da Duqueza de Angouleme destruio cabalmente este projecto."

Um facto bem singular de nossos dias hé que os dois reinos (França e Hespanha) que mais descontentes se tinhao mostrado com os seos ultimos governos, e que deram aos seos novos Soberanos os doces titulos deAmado e Dezejado, saō esses mesmos que agora lhes

dao as provas mais geraes e constantes da sua aversao. Nisto, como já dicemos, há seguramente alguma couza que nao hé de todo favoravel ao caracter dos novos governantes.

Noticias de Paris de 22 de Maio referem um facto estrangeiro, que merece ser aqui copiado. Elle hé o seguinte:"O tribunal do Santo Officio em Roma, depois de haver invocado a illuminaçao do Espirito Sancto, anullou o processo começado pela Inquisiçaō de Ravena contra Salomao Moises Viviani, que ha vendo abraçado a religiaõ Catholica, voltou depois ao Judaismo. S. S. no Decreto que expedio nesta occa siao se exprime na forma que se segue:

"

"A lei Divina nao hé como a lei dos homens: o caracter da primeira hé a persuasaō e doçura. Perseguiçao, desterro, prizoens sao os meios que em. pregao os falsos prophetas e falsos mestres. Com"padeçâmo-nos do homem que está privado da luz, e que o dezeja estar; porque as cauzas da sua cegueira podem mui bem servir para promover os "grandes designios da Providencia, &c."

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"

S. S. ordena, que por taes crimes nenhum culpado seja punido para o futuro com a perda da vida ou de algum membro do corpo."

Se estes sao portanto os principios pelos quaes de hoje em diante S. S. se pertende derigir, por que nao extingue por uma vez a Inquisição? De que servem os Inquisidores se estes já naō podem prender, encarcerar e queimar os seos consemilhantes? Nao sao os Bispos e mais pastores os juizes naturaes da fé? Pois restitua-se-lhes o seo antigo direito de instruir e sentencear sobre estas materias da sua verdadeira competencia; e acabe-se por uma vez com os Inquisidores, que trazem usurpada e conquistada a auctoridade Episcopal.

INGLATERRA.

A' pag. 471 deste No. do nosso Journal publicámos um artigo memoravel do Morning Chronicle, que muito entende com as couzas da nossa patria, e que por isso nao conyem se deixe passar em silencio. Um homem,

que nao estivesse ao alcance do que prezentemente se passa na Europa, ou nao conhecesse o estado do Reino Unido Portuguez, sua politica, suas forças e recursos actuaes, de certo se poderia mui bem persuadir, ao ler aquelle artigo, que entre a Corte do Brazil e a de Londres existiao pelo menos mui serias desavenças, desconfianças ou ciumes, e que a primeira projectava conquistas e invasoens, que hiao com effeito transtornar todo o equilibrio da prezente balança politica do mundo! Felismente porem nada disto existe, a nao ser que seja na imaginaçao do auctor do artigo, a que aludimos, de quem todavia fazemos mui bom conceito da parte dos talentos, para o julgarmos de boa fé neste ponto. Hé todavia sempre mui desagradavel ver, que individuos de duas naçoens, reciprocamente amigas por interesses e utilidades reciprocas, procurem taō imprudentemente lançar de vez em quando estas sementes de discordia entre os dois povos, quando os dois respectivos governos vivem na maior armonia, e nada mais querem nem pertendem do que estreitar e corroborar todas as suas relaçoens amigaveis.

O Morning Chronicle insulta o governo Portuguez, e ao mesmo tempo cahe em uma miseravel contradicçao. Da-lhe o nome de pobretao, e logo depois d'isso se mostra altamente assustado com os sonhados designios de engrandecimento que lhe suppoem. Este insulto, que todavia hé verdadeiro, nao merecia sahir da bôca de um Inglez : Portugal, o Brazil, e os Algarves, sendo paizes de sua natureza riquissimos, constituem sem duvida por uma das mais singulares contradicçoens, um governo sem erario, sem marinha, e sem artes e sem industria, e sem commercio, proporcionado aos grandes meios que tem de ser rico e ser poderoso. Mas se isto hé um grande mal para os Portuguezes, o hé tambem ou o terá sido para Inglaterra? O Morning Chronicle, como bom Inglez, devia poupar este insulto ao governo da nossa patria, e em lugar disto o devia antes elogiar pelo muito que trabalha e sempre tem trabalhado por auxiliar a industria estrangeira, particularmente a Ingleza, com detrimento notavel dos seos nacionaes. Porque, que seria de uma grande parte da industria Ingleza se os Portu

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guezes de ambos os mundos fabricassem as materias primeiras que vendem em bruto para depois as comprarem manufacturadas por outros, por outros, e por preços excessivos Reflectindo bem no que diz o Jornalista Inglez, parece-nos que lhe devemos perdoar a indecencia das suas frazes pela reprehensao tacita que elle dá a indolencia, e pobreza voluntaria, e mais que Christam, dos Portuguezes.

Há quem calcule em 12 milhoens de cruzados a soma annual que só Portugal paga por manufacturas Inglezas; e que recebe Inglaterra em pagamento destes 12 milhoens? Algumas ceiras de figos e outras passas do algarve, algumas fructas, e alguns vinhos, o que tudo originiariamente talvez nao emporte em mais do 2 milhoens de cruzados annuaes. Logo Inglaterra ganha só com Portugal todos os annos 10 milhoens de cruzados; calculo, que parece nao ser exagerado á vista do thermometro commercial, que hé o Cambio, que agora regula entre os dois paizes. Quando as tropas Inglezas estavao na Peninsula, e o exercito Portuguez era quase todo pago por Inglaterra, o Cambio entre os dois paizes chegou a 82 por 1,000 reis, couza de 22 por cent. a cima do par (67) em favor de Portugal; mas assim que Inglaterra deixou de ter necessidade de mandar numerario para a Peninsula, e que as couzas tornaram ao seo curso ordinario, isto hé, assim que Portugal, em lugar de receber, entrou a pagar quase tudo de que se veste e o que come, entao o Cambio, que até ali nos era favoravel, foi logo contra nós, e de 82 desceo a 57, perto de 16 por cento abaixo do par. O que ainda elle descerá nao sabemos, porem forçado Portugal a despejar constantemente as suas algibeiras, sem ter industria para buscar alguma couza com que as encha, ou ao menos com que as equilibre, o resultado dever ser, que o Cambio baxará ainda consideravelmente, e que por fim já nem haverá Cambio quando já tiver-mos dado até o ultimo real. E á vista disto, será inda decente que um Jornalista Inglez insulte com o epitheto de pobre á um governo, que permite que os artifices Inglezes se vistaō e nutrao com o oiro Portuguez, em quanto deixa morrer de fome os seos nacionaes, e consente que todas as suas fabricas e manufacturas se aniquilem? Os

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