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Escriptores Inglezes, até por interesse proprio, deviaõ ser mais comedidos e prudentes.

Outro insulto, nao menos digno de reparo, hé o que o mesmo Jornalista nos faz quando diz:-" que os Portuguezes estao anciosos por arrojar de si o nosso jugo como elles lhe chamao." Qual hé o Portuguez, verdadeiro Portuguez, que ouzará dizer que está debaixo do jugo de uma naçao estrangeira? Aos Portugueses tem-se tirado com effeito o seo ouro, a sua industria e o seo commercio, porem nunca se lhes poude arrancár nem o seo brio nem o seo valor. O mesmo Morning Chronicle, que tantas vezes copiou os feitos heroicos e brilhantes do exercito Portuguez em toda a serie das ultimas campanhas na Peninsula e em França, deve ser o primeiro em confessar, que uma tal naçaō hé incapaz de sofrer qualquer jugo estrangeiro. Os Portuguezes estao sim debaixo do jugo da sua propria ignorancia, da sua indolencia, e de uma incapacidade fatal de bem se governarem, e isto todos os bons e desapaixonados Portuguezes conhecem: porem nenhum delles se persuade que está debaixo do jugo de Ingla

terra.

Tudo o que no mesmo artigo se diz á cerca da denominada divida de gratidao, hé na realidade um miseravel subterfugio de amor proprio, que nenhuma honra dá ao Morning Chronicle. Ambos os governos, de certo mais prudentes e sensatos que o Jornalista, conhecem mui bem que sao mutuamente obrigados um ao outro, e que a sua gratidao hé reciproca; e nenhum delles, seguramente, ousaria reclamar para si uma gratidao exclusiva. Inglaterra deve ser grata á Portugal porque achou um Principe generozo, e um povo leal que sempre, á custa de mil embaraços e riscos, defendeo a sua cauza com uma constancia e intrepidez sem exemplo nao só nas guerras modernas porem já nas antigas; e Portugal deve igualmente ser grato á Inglaterra, porque nesta sempre achou um alliado pronto a socorre-lo nos grandes apertos ou dificuldades que há tido, quer sejao antigas ou modernas. Querer passar daqui hé nao usar nem de polidez, nem de liberalidade, nem verdade: e hé pertender crear de proposito odios, ou desavenças, que de nenhum bem podem ser para qualquer de ambas as naçoens.

"Elles tem feito (continua ainda o Morning Chro"nicle) os maiores esforços para quebrar o nosso Tra"tado de Commercio, e excluir-nos do Brazil, &c." Isto hé tambem uma falsidade, ou uma ignorancia imperdoavel da parte do Jornalista Inglez. O governo Portuguez nunca pertendeo quebrar o Tratado de Commercio, e só tem querido reforma-lo pelos meios legitimos e legaes, isto hé, por meio de negociaçoens. Se o Morning Chronicle estiver lembrado dos papeis Diplomaticos, que forao aprezentados nas ultimas sessoens do Parlamento, depois do Congresso de Vienna, nelles veria como entre os Ministros Portugezes e Lord Castlereagh nao só já se havia tractado deste ponto, mas que o mesmo Ministro Britanico nao mostrou dificuldade em entrar nesta discussao. Logo nao se pode dizer em um tom realmente offensivo, "que os Portuguezes tem feito os maiores esforços para quebrar o seo Tratado de Commercio com Inglaterra."

O nosso Tratado de Commercio de 1810 deve ser reformado pelos meios legitimos, e nisto interessao ambas as naçoens; porque nem a mesma Inglaterra tem interesse que Portugal se empobreça a tal ponto, que até fique inhabil para lhe pagar os seos diversos ramos de industria. Um dos grandes defeitos do Tratado de 1810 hé parecer ter unicamente em vista o Reino do Brazil sem contar com o Reino de Portugal. Com effeito, pelas estipulaçoens daquelle tratado parece, que o negoceador Portuguez tinha entao perdido todas as esperanças á cerca da recuperaçao e independencia de Portugal; porque sendo os seos artigos momentaneamente aplicaveis ás circumstancias politicas do Brazil, erao fatalissimos para a antiga ordem de couzas em Portugal. O Brazil, no acto da passagem de S. A. R. para aquelle continente, nao tinha uma só fabrica, nem uma só manufactura, e portanto nao era para estranhar que entao desse algumas vantagens aos estrangeiros, que lhe levassem tudo aquillo de que precisava. Mas isto, que momentaneamente podia ser vantajozo para o Brazil, devia ser destruidor de toda a industria de Portugal, assim que este podesse tornar a abrir as suas antigas e naturaes communicaçoens com o novo mundo. Portugal até aquella epocha supria o Brazil com manufacturas da sua propria in

dustria, a excepçaõ das fazendas de lam de que tinha poucas fabricas; e de pois, em virtude do tratado de Commercio, nao só já nao o poude suprir, porque Inglaterra ficou com o direito de lhas levar directamente, mas até se vio igualmente forçado a receber com direitos muito modicos essas mesmas fazendas que elle até alli fabricava para si; e exportava para o Brazil. A consequencia tem sido,-que nao podendo já Portugal abastecer exclusivamente o Brazil com as suas manufacturas, e tendo alem d'isso nelle franca entrada todas as manufacturas Inglezas com mui pequenos direitos, toda a sua industria tem acabado, e se vai pondo em termos de gastar até o ultimo real para comprar sua comida e vestido aos estrangeiros. Uma das mais impoliticas clausulas do tratado foi por conseguinte, a sua duraçao por 10 annos, porque se no acto da sua assignatura se tivesse olhado para o futuro, o resultado seria, que expressamente se havia de ter estipulado, que a sua execuçao só durasse ou até a paz geral, ou antes até o restabelecimento das antigas relaçoens politicas com Portugal. Nao se fez isto, e eisaqui o grande defeito que prontamente se deve remediar, nao por quebrantamentos do tratado, mas por meio de negociaçoens, o unico recurso decente, que tem todos os governos independentes para tratarem dos verdadeiros interesses das naçoens á que prezidem.

Quanto no mesmo artigo se diz vaga e gratuitamente á respeito dos projectos invasores dos Portuguezes nao tem termos, nem bom senso, e saō meros fructos de occiosidade ou maledicencia. O que vemos porem hé, que o Governo Britanico tem muito mais prudencia e reflexao do que o Jornalista, por que a sua mesma demora ou hesitaçaõ, em ordenar a partida do Aquilon, mostra que nada quer fazer imprudente

mente ou ao acazo.

Neste mesmo Artigo, pag. 472, demos a lista dos estrangeiros que tem rezidido em Inglaterra desde 1798 até o prezente. Esta lista foi publicada por occasiao dos debates que agora tem havido em Parlamento ácerca do Bill dos estrangeiros para o tempo VOL. XV. 3 U

de paz. Elle já passou na segunda leitura, e estamos quase certos que tambem passará na terceira, assim como na Caza dos Lords; neste cazo ñada mais temos que dizer senaō que o nosso governo se nao deve esquecer dos seos subditos residentes em Inglaterra : nisto vai comprometida muita honra e independencia nacional. Sobre este assumpto importante remetemonos ao pouco que já dicemos em o nosso No. passado. pag. 357.

A destruiçaõ de Serra Leoa nao tem por hora outro fundamento mais do que as noticias vindas pelos Estados Unidos da America; porem todos os que tiverem lido o que Mr. Thorpe tem escripto sobre a aquella colonia, e particularmente a sua ultima Replica, que temos já transcripto, em parte, nos differentes numeros do nosso Jornal, devem conhecer que o facto naō hé improvavel. Com effeito, em Serra Leoa temse cometido abominaçoens, que seriaō incriveis, se naō fossem escriptas e reveladas por um Inglez, que até agora ainda naõ achou em toda a Gram Bretanha nem pessoa que o contradissesse, nem que lhe pozesse um libello por calumniador. ou por falsario. Esta circumstancia hé a maior prova da verdade das suas asserçoens.

A Declaração do Bey de Tunis ao Barao Exmouth, copiada a pag. 473, he já um grande passo para a civilisaçao daquella parte d'Africa, e para a tranquilidade e segurança dos navegantes ou commerciantes Europeos. Resta ainda obrigar Argel a fazer a mesma Declaração e a cumpri-la, porque esta Regencia hé a mais barbara, e a mais anti-social de todos os governos Africanos. Se Inglaterra o quizer, tudo se fará, e ella o deve querer por honra de seo home e dignidade, A'este respeito há pois um Artigo bem curioso, com data de Frankfort, que hé o seguinte:

"O Jornal de Frankfort de 13 de Maio publicou debaixo do Artigo-Napoles, de 20 de Abril, as estipulaçoens de paz que Lord Exmouth concluio com as Potencias Barbarescas, inseridas no Moniteur de 18, e copiadas da gazeta intitulada-Giornelle delle due Sicilies. A' ellas se juntou o paragrapho que se segue:"-Agora podeis ver "como todas as esperanças,

que a Europa tinha no Congresso, se reduziram a "reconhecer-se por tributaria de alguns miseraveis

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Reflexoens, &c.

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"piratas do Mediterraneo. Que o Reino de Napoles que o de Sardenha fiquem satisfeitos com esse "tratado, pode mui bem conceber-se: a sua fraqueza "acha nelle um certo alivio de seos males. Mas "Inglaterra, que por um só aceno podia fazer recolher " as suas cóvas estes ladroens; Inglaterra, que possue "Malta eas Sete Ilhas, vai cobrir-se de eterna ver"gonha por apertar ainda as algêmas da Europa. "Compare-se este tratado com o que os Americanos concluiram com Argel, e entao se verá o que neste "cazo temos que esperar de tâo poderoso Mediador,"

A emigraçao para os Estados Unidos da America continúa, sem interrupçao, naõ só das diversas partes do continente mas até mesmo de Inglaterra, como os nossos Leitores terao visto no pequeno artigo que sobre este ponto transcrevemos a pag. 474. Estamos porem persuadidos que ella ainda virá a ser mais constante e numeroza em razao do novo Bill para os estrangeiros de que já temos fallado. Certamente nenhum proprietario estrangeiro se aventurará agora a vir domiciliar-se em Inglaterra, no receio de poder ser mandado sahir dentro em tres dias á vontade dos ministros Britannicos; e com razaō prefirirá um paiz, aonde sabe que nimguem o perturbará por qualquer pretexto que seja, e aonde só tem que responder pelas suas accoèns per ante as leis e os tribunaes. Inglaterra, que aproveitou tanto com os imurensos capitaes estrangeiros que acolheo em si durante a ultima guerra, parece dar, na realidade, um passo mui errado nesta medida que vai tomar. Tudo quanto se tem dito e fallado, acerca do medo de perturbaçoens e perturbadores, hé em nossa opiniaō emminentemente futil, e fica destruido por uma unica razao alegada pelos individuos que tem fallado contra o Bill, e vem a ser"Se as leis Inglezas sao suficientemente poderozas "C para vigiar e punir 15 ou 16 milhoens de nacionaes,

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por que nao poderao ter igual força para com 22 mil "estrangeiros?" Mas nao hé nosso intento tratar agora mais deste assumpto; nossa mira está em outra parte no governo Portuguez do Brazil.

Por muitas vezes já nós temos fallado quam judiciosa politica seria convidar para o Brazil toda ou uma boa parte desta emigraçao Europea, e agora que a povoaçao

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