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Reflexoens, &c.

negra da Bahia dá mais uma prova de quanto hé perigozo um illimitado sistema de escravatura, muito mais necessario se faz repetir o que portantas vezes já temos aconcelhado. Deixe por uma vez o Brasil as velhas praticas de querer povoar-se com pretos: esta povoaçao nem hé natural, nem politica, e muito menos se pode cabalmente nacionalisar. Entao porque nao aproveita, agora que há tempo e tao feliz occasiao, toda essa industria e riqueza que a afligida Europa está constantemente lançando fora de si para hir estabelecerse nos Estados Unidos d'America, e fazer desta naçao um dos mais poderozos povos do mundo? Será destino nosso nunca aproveitar os bons convites que a fortuna nos depára? Dizia o Cardeal imperiali (se naō lhe errâmos o nome) "que nao havia pessoa alguma no mundo que ao menos uma vez na sua vida naō fosse visitada pela fortuna; porem quase sempre tambem acontecia, que a boa hospeda, entrando pela porta, achava logo a janella aberta por onde immediatamente saltava." Sua Emminencia conhecia mui bem os homens eas couzas, porque na realidade esta hé a historia do mundo. Desprezaō-se as melhores occasioens de fortuna, e depois estultamente nos queixamos de seos caprichos ou de suas inconstancias. Que melhor ocasiaō podia achar o Brazil para opulentamente povoar-se do que esta em que vivemos, e em que a geraçao actual da Europa, ou cançada pellas guerras passadas, ou assas debil para digerir tanto bem como o que lhe estaõ fazendo os novos governos paternaes, anhela em grande parte por expatriar-se, e hir gozar de algum socego em o novo hemispherio? Mas há um fado bem fatal que de longo tempo nos persegue! Ainda nao entrámos bem na idea de sermos Portuguezes; uns dizem-nos que nada podemos ser sem o auxillio de Inglaterra, outros sem o auxillio de França, e outros (o que ainde he mais!) sem termos negros e escravos! Sejamos pois só, e unicamente Portuguezes, e amigos de todo o mundo, que nos prestar verdadeira amizade; mas para que sejamos só e unicamente Portuguezes, he preciso, que comecemos a ser uma naçao industrioza, rica, e por consequencia independente. Todavia esta independencia nao se pode ganhar, vivendo fracos, pobres, e indolentes; lançando

nos nos braços ora de uns ou de outros em tempos de perigo; e querendo povoar o Brazil só com heterogeneas raças de negros, ou com a povoaçaõ de Portugal, quando este hé o primeiro que precisa de ser povoado. Penetremo-nos pois bem desta sancta idea

de ser-mos Portuguezes; e facilmente acharemos. os meios de sermos uma grande naçaō..

O dia 2 de Maio, como já o annunciámos a pag. 474, foi marcado na historia Ingleza pela Cazamento da Princeza, Carlota Augusta de Galles com o Principe Leopoldo de Cobourg, que mereceo a mao da herdeira do throno, hoje, o mais poderozo do mundo. De certo este Principe, associado á tao altos destinos, bem pode dizer com o nosso Camões:

"Todas as Deosas desprezei do Céo,
"Só por amar das agoas a Princeza!

Aos seos antigos titulos, e que já em outra parte mencionamos, acresceo agora outro de novo-o de Field Marechal no exercito Britanico.

Os assumptos mais notaveis que em todo o mez de Maio se debateram nas Cazas do Parlamento, sao os seguintes :-Despezas da Lista Civil, que se mencionaram ser:

As de El Rey em Windsor
As da Rainha

As das quatro Princezas

Total das despezas de Windsor

Bolcinho particular do Principe Regente-
Concessao adiccional

£.

100,000 58,000 122,000

£. 280,000

Rendas que recebe do Condado de Cornwall
Das tiradas do Fundo Consolidado

60,000

10,000

15,000

43,000

Total das despezas da Caza do Regente, £. 128,000

Acrescem agora á estas despezas as da Gaza da Princeza Carlota e seo Marido

60,000

£. 468,000

As quaes somas todos juntas formaō
o total de

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Reflexoens, &c.

Pelo valor da nossa moeda Portugueza andao só todas estas quantias, pouco mais ou menos, por 4 milhoens de cruzados e tantas couzas, e a pezar disso ainda á muita gente parecem exorbitantes. Comparese porem esta soma com o que gestao outros Soberanos da Europa, que nao sao nem a metade tạo ricos como o de Inglaterra, e compare-se, alem disto, a bem diversa figura que todas elles fazem, e entao se verá quando convem aos monarcas ser bem governados e economicos. O maior mal que neste ponto há fóra de Inglaterra hé que o mais que elles gastao nao hé com as suas pessoas: quase tudo fica pelas maós dos seos mordomos que impunemente os roubao.

Mr. Brougham fez uma moçao sobre a Liberdade da Imprensa, a requereo um Bill que melhor segurasse e ampliar se esta mesma liberdade. Nao foi a avante a sua proposta; mas hé bom que saibao os nossos leitores estrangeiros, que nem todas as proposiçoens, que se fazem nas Cameras, saõ calculadas para terem algum effeito practico. Os oradores mui bem sabem que muitas nao seraō aprovadas, e todavia sempre as fazem nao só para terem sempre a alerta o espirito publico em assumptos importantes, mas porque muitas propostas perdidas pela maioria dos votos das Cameras saō nao obstante isto ganhas pela maioria da opiniao publica; e a aprovaçao deste tribunal hé a que sempre se tem em vista em um paiz livre como inglaterra.

Muito maior attençao merecerem nas duas cazas as propostas energicas á respeito da interferencia da força militar nas funcçoens publicas, ou em quaesquer negocios civis. Lord Essex, e outras mais pessoas distinctas haviaō passado pela afronta e desgosto de verem parar as suas carruagens na rua pêla força de uma baioneta ou de uma espada; e por effeito deste atrevimento militar, desconhecido em um paiz, que só respeita o valor dos soldados nos campos. de batalha, mas que sempre, e com. razao o abomina em tempos de paz, houveraō mui fortes e energicas queixas em ambas as Cameras. O rezultado foi, que lord Sidmouth annunciou officialmente na Caza dos Pares :-" que para o futuro

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nunca mais se empregariaō os militares em occasioens "civis sem uma expressa ordem da sua secretaria.”

Esta declaraçao, disse um Jornalista Inglez, dá-nos a maior segurança possivel, porque ella sahio da boca de um homem de bem. Um ministro nunca pode ambicionar mais lisongeiro elogio! Nada disto porem seria estranhado em Portugal aonde, por exemplo, em um dia de procissão os nossos soldados se preparam como para um dia de batalha, e dao nas ruas pranchadas e crônhadadas no povo, como se este se compozesse de batalhoens inimigos. Mas a razao disto consiste em que os Inglezes tem leis civis por onde se governaō, e que são suficientes; e em Portugal as leis civis sao tratadas de bagatella, e há mais gosto em recorrer á força militar, por que está hé inais pronta, e mais conforme ao habito de mandar, isto hé,-aos actos arbitrarios.

Mr. Grattan falou muito a favor dos Catholicos da Irlanda, e propoz:-" Que na proxima Sessao do ParJamento houvesse de tomar a caza em séria consideraçao o estado presente das leis a que estavao sugeitos os vassallos Catholicos de S. M. na Gram Bretanha é Irlanda, a fim de se adoptarem as medidas que mais uteis parecessem para satisfazer geralmente todas as classes dos vassallos de S. M." Houve porem na caza divizao de opinioens, e a favor da proposta houveram 141 votos; contra, 172: maioria contra, S1.

Ignal resultado teve a moçaõ feita por Sir S. Romilly á favor dos Protestantes Francezes, que muito tem sofrido no prezente Reinado. O orador pedia que se aprezentassem na Caza copias de todos os officíos que tinhaō havido entre o governo Inglez e o governo Françez açerca do estado dos Protestantes no sul de França; perdeo porem a sua moçao.

O Bill contra os estrangeiros, sobre que já temos fallado, foi fortemente combatido por Mr. J. P. Grant, Sir S. Romilly, Lord Milton, Mr. Ponsonby, e Sir J. Mackintosh. Faltao ainda os debates da terceirá leitura para que passe como lei na Caza dos Communs.

O Chancellor do Exchequer propoz que a Caza discutisse as vias e meios do Budget no anno prezente, e todas as suas despezas foraō calculadas em £.27,279,295.

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CORRESPONDENCIA.

Senhor Correspondente de Aldea Galega, em data do 1 de Maio.

Valha por esta vez a desculpa que se acha em um PS. da sua Carta. Fique porem entendendo que nunca mais produzirá o mesmo effeito. O meio de remeter papeis aos Redactores, se o Agente dos Paquetes ahi.os nao quer franquear, hé manda-los a algum correspondente em Londres que os receba, a depois os entregue. Dis o dictado Portuguez:-" que quem espera por sapatos de defuncto morre de fome." Alem disto, as correspondencias devem sempre vir em copia que se possa mandar immediatamente para a imprensa, intelligivel, e sem breves: os Redactores tem mais que fazer do que estarem copiando papelada infinita.

Sur. Henry Koster.

A sua correspondencia tem um dos defeitos a cima apontados, isto hé, nao está suficientemente inteligivel para se mandar para uma Imprensa Ingleza; e nao sabemos se teremos tempo e paciencia para a reduzir a caracter mais perceptivel para compositores estrangeiros.

Sur. D. F. F.

Farêmos por cumprir quanto nos pede a respeito dos papeis do seo amigo da Ilha de S. Miguel, porque tambem da nossa parte muito o dezejâmos obzequiar.

Sur. C. B. de L. Lobo.

As suas tres Memorias serão publicadas assim que houver occasiao. O Snr. Correspondente, por onde ellas nos chegaram, queixa-se de algumas omissoens nossas sem motivo racionavel. Primeiramente examine bem as datas de alguma couza que nos remeteo, e que já esperava ver impresso: em 2° lugar," Roma naō se fez n'um dia."

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