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Quem diz pois tambem ás naçoens da segunda ordem, que as grandes Potencias Christans, e mais Christans porque sao mais fortes, nao tentem pouco a pouco hi-las encorpórando a si para as converterem, e darlhes um verdadeiro espirito Christao, ainda que de facto lhes destruaō sua independencia?

O que se passa entre a Austria e a Baviera indica que da parte da primeira há demaziado afferro ás fruiçoens terrenas; e se para as conseguir empregar a violencia ou os ameaços fica entao assás claro, que as Potencias menores não podem achar outro refugio se nao na sua intima e sincera uniaō. Quem tem forças demaziadas sente ordinariamente mais precisoens do que o fraco, e como nao encontra obstaculos em satisfaze-las, emprega sempre o seo poder com uma indifferença igual a facilidade que acha no desenvolvimento das suas faculdades. Quando Napoleão abrangia em suas maōs todos os recursos da Europa, a sua voracidade e apetite de dominio cresciao sempre a proporçao que augmentavao os seos dias de reinado; e por isso o vimos passar successivamente do Rheno ao Elbo, daqui ao Oder, ao Vistula, ao Niemen e ao Volga; e quem sabe se no seo pensamento já estava no Indo e no Ganges! Mas desgraçadamente esta doença nao tem só atacado a pessoa de Buonaparte; antes e depois delle mui altos e poderosos senhores tem adoecido da mesma enfermidade. As tres mesmas devotissimas Potencias, que hoje formaō a liga sagrada, já antes, para melhor Christianizarem a Polonia, a tinhaō dividido entre si; a Russia depois converteo a Filandia, e ensinou o mesmo catecismo a Suecia para converter a Norwega; e finalmente tambem a Austria e Prussia fizeraō conversoens admiraveis, uma na Saxonia, e outra na Italia. Ora pois se todas as Potencias fortes tem tamanha tendencia para esta especie de conversoens do seo proximo, nao temos mais que razao para inculcarmos ás potencias pequenas que, quanto antes, sincera e resolutamente se unao para nao serem obrigadas a mudar de catecismo quando menos o cuidarem?

Felismente Portugal, ainda que uma das potencias de segunda ordem, occupa todavia uma tao forte posiçao, e pode empregar tao efficazes recursos, que de

todas ellas hé quem está em todo o sentido mais seguro? Porem para que esta segurança rezulte de fundamentos verdadeiramente solidos, convem-lhe, que olhe de veras para o que hé, e para o que pode ainda ser, e derija todos os seos passos em consequencia destas duas consideraçoens. Que hé pois actualmente Portugal, ou para fallar-mos mais correctamente o Reino Unido de Portugal, do Brazil, e dos Algarves? Um reino fraco, pobre, e despovoado: um reino quase sem agricultura, sem commercio, sem artes e sem industria: um reino, finalmente, com bem pouca ou quaze nenhuma consideraçao politica na Europa e no mundo. Quando dizemos que nao tem agricultura, nem commercio, nem artes nem industria, naõ hé nosso intento que se entenda que nada disto possue; porem que só disto tem muito pouco ou quaze nada, comparativamente aos seos immensos recursos e faculdades. Estas terriveis verdades sao bem duras para se dizerem e se ouvirem: mas seria possivel que tivessemos tao pouco patriotismo para as occultar-mos ao melhor e mais bem intencionado dos Principes, que taō repetidas demonstraçoens já tem dado de querer o bem do seo povo, e o brilhante esplendor da sua corôa? Nao: Os mais leaes e amigos do seo Soberano sao e sempre forao os que dizem franca e respeituozamente a verdade: para o baixo emprego de aduladores já saõ sobejos os muitos, que sempre rodeaō os thronos, e que disso vivem e engordao! Para esses tudo vai bem; e o mundo, em que vivem, e em que accumulao enormes riquezas e honras hé sempre o melhor de todos os mundos possiveis.

Mas nao desesperemos: se este hé o actual estado da nossa patria, ella pode, quase em um momento, mudar-se e converter-se em uma das mais poderozas monarquias do mundo. Que pode por consequencia vir ainda a ser o Reino Unido Portuguez? Tudo quanto hé grande e sublime; porque hé governado por um dos melhores Principes da terra; e por que hé habitado por um povo, que nao tem igual em lealdade e valor! Com estes elementos quem ouzaria duvidar da futura e proxima grandeza e felicidade do Reino Unido Portuguez? He por tanto necessario começar por dar uma povoaçao sufficiente aos tres reinos, porVOL. XV.

N

que desertos immensos sem gente valem menos que algumas legoas deterreno bem povoadas. Para o augmento da povoaçao nos reinos da Europa naō se requerem mais do que boas leis ; liberdade racionavel e bem entendida; proporçao e igualdade de tributos; protecção de commercio, de industria, de artes, e sciencias; e para cumplemento de tudo, execuçaõ rigoroza e bem entendida dessas boas leis, que devem ser para todos, e tanta força e respeito devem ter dentro do palacio dos grandes como dentro da choupana dos pobres. Para o reino do Brazil ser competentemente povoado ainda mais alguma cousa se requer do que as circunstancias apontadas, hé preciso crear ali a povoaçao por meios extraordinarios, isto hé-convidando novos habitantes, como tem feito e ainda fazem os Estados Unidos d'America. A Europa pode suprir parte desta falta, empregando-se para isto muito discernimento e constancia: a outra parte pode igualmente supri-la o mesmo Brazil, convidando e atrahindo para a civilisaçao os Indios indigenas; para o que nao menor discernimento e constancia se requerem. O Governo do Brazil deve já ter bem conhecido pela experiencia, que uma povoação de negros escravos, misturados com brancos e senhores, nunca pode constituir uma grande e respeitavel naçao. Alem disto, pelas medidas actuaes, que tem adoptado toda a Europa, instigada por Inglaterra, hé forçozo que o commercio de escravos acabe de todo, mais cedo ou mais tarde; e neste cazo hé melhor que o Governo Portuguez por sua propria auctoridade lhe ponha termo do que compelido a final por todos os clamores da Europa. Nem se engane o nosso Governo a este respeito pelo que lê em muitos papeis publicos Inglezes; a opiniao hé aqui decidida e universal contra o commercio da escravatura: tudo quanto se tem escripto, que pareça contrariar nesta parte a politica do Governo Britannico, tende unicamente a censurar as más medidas ou abuzos, que neste ponto tem cometido os agentes Inglezes, como por exemplo, em Serra Leoa. O voto nacional já abolio solemnemente este commercio.

Ainda mais se o interesse e a politica faziao em outro tempo com que o Governo Portuguez desse preferencia á esta povoaçao heterogenea de negros

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escravos para os seos dominios do Brazil, as cousas estao já hoje de todo mudadas. Em outros tempos podia se desejar que o Brazil fosse pouco povoado, e que na maior parte só o fosse de escravos; mas hoje que a Monarquia e o throno parecem ter estabelecido o seo assento no Brazil, esta politica, longe de já ser proveitoza, hé ruinoza e fatal. O Brazil tem por todas as suas fronteiras occidentaes un povo immenso, rico, e que actualmente lucta pela independencia e liberdade. Quem sabe quaes seraõ ainda os destinos deste povo, qual a sua forma de governo, e a sua extensa influencia no continente Americano? Suponhamos que todo ou parte deste mesmo povo vem a ter ainda desavenças com o reino do Brazil, e que há uma guerra declarada: Será, nesta supposiçao, extraordinario que o primeiro acto hostil dos inimigos do Brazil seja a proclamação de promessas de liberdade aos negros escravos? E serao estes inseusiveis a tao perigozo e magico convite? Consideraçoeus tao sérias sao estas, que nem ouzamos dar-lhes a explanaçao que ellas merecem: todavia sempre dicémos bastante para ter em que meditar o Governo do Brazil.

Pelo que temos exposto, se as naçoens de segunda ordem muito tem que arrecear-se das confederaçoens das grandes Potencias, o Reino-Unido Portuguez acha-se com tao extraordinarias e felizes proporçoens, que só por grande innercia, e cumulo de vergonha, se tornara a ver em circunstancias de ser dominado ou influido pelos governos estranhos, qualquer que seja a sua força ou politica consideraçao. A natural alliança, que mais se comforma com os interesses e habitos do Brazil, hé a dos Estados Unidos da America: esta alliança hé pois hé a que em todos os cažos e em todas as circunstancias lhe pode ser realmente util. Com ella naō só nada tem que temer, porem até pode ainda vir a dar leis, (leis justas queremos dizer) a todos esses de quem até agora mal aconcelhado as tem desairoza. mente recebido..

RUSSIA.

Este Tratado, ou Sancta Uniao, que transcrevemos a pag. 59 traz comsigo caracteres tao novos e taō extraordinarios, que nem sabemos que juizo recto delle possamos fazer. A que proposito virá agora a solemne profissão de fé religiosa destes tres Potentados, que sempre quizerao passar no mundo por muito bons Christaons? Será que o castigo exemplar e queda fatal, que por seos crimes recebeo o peccadoraço Napoleaō Buonaparte, fizessem entrar em sentimentos de arrependimento estes poderozos Senhores, e queiraō agora patentear ao mundo a sua milagroza conversao? Estes prodigios da graça divina nao sao novos, nem raros na historia dos homens. Todavia quando elles apparecem, os novos convertidos executao a risca as maximas do Evangelho; e se tem engordado com o sangue dos pobres começao por fazer plenas restituiCoens, porque sem restituiçao do alheio naõ há sincero arrependimento nem valioza absolviçao. Esperavamos portanto, que antes deste Acto publico das suas confissoens, tivessem dito, por exemplo aos Polacos :— "Pecámos; e por isso vimos nossas terras e capitaes entradas, saqueadas e queimadas pelo Anjo exterminador do Senhor: agora tomai lá o que sem razaō, nem motivo, nem justiça vos tiramos: oxalá que a sombra do grande Sobieski nos perdoe!" Esperavamos mais que um delles tambem dicesse aos Saxonios: "Eu fui tao peccador como vós, porque, em quanto pude, auxiliei e segui as bandeiras de Belzebut: e entao porque me heide prevalecer agora de alguns dias em que primeiro de que vós renunciei á alliança do Flagello de Deos? Quanto mais, nem eu nisto tive merecimento: foi só um dos meos Generaes (o General York), que, desobedecendo-me, e seguindo nesta desobediencia a voz da naçaõ, me salvou a mim e o povo. Tomai lá outra vez a parte da vossa patria que eu havia lacerado; e perdoaime." Esperavamos finalmente que ainda outro dicesse :-" Nao sois vós, Venezianos, os mais antigos povos civilizados da Europa moderna; e a destruiçao da vossa independencia nao foi um dos grandes pecados de Napoleaõ

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