Sivut kuvina
PDF
ePub

CAPITULO VII

Civilizações mortas

Ha monumentos antigos que perturbam o espirito humano.

Na China vemos as celebres muralhas que protegiam o Imperio do Sol Levante e sobre as quaes assim fallou, ha quatro seculos, o classico Fernão Mendes, em sua << Peregrinação»:

«

<< Diz a Historia que em vinte e sete annos se fechou o extremo destes dois imperios de ponta a ponta, que é distancia de setenta jãos, que por nossa conta, a razão de 4 leguas e meia por jão, são ao todo trezentas e quinze leguas, na qual obra dizem que trabalharam continuos setecentos e cincoenta mil homens. Este muro vi eu em algumas vezes, e o medi, que é por todo geralmente de seis braças de alto, e quarenta palmos de largo no massiço de parede. »

E mais do que isso, a celebre Torre de Nankin, monumento de 60 metros de altura. As placas desta admiravel torre são de porcellana colorida de todas as côres e os tijolos dourados, que resistiram á acção destruidora de 30 seculos, ainda hoje se vêem com as juncturas tão perfeitas que só a lente as revela.

Na India, a phantastica gruta dos elephantes, em Bombay; o soberbo templo de Virnola-Sah; o formidavel monumento de Tandjore de Faggernat, ante o qual as maiores basilicas do Occidente se desprestigiam, humilhadas; os mysteriosos asylos de Tehianlonbrom, Mahabilopone; Madora; e outros.

No Iran, o glorioso Iran, cujas populações actuaes representam a sombra mesquinha de uma civilização morta, ha o templo de Susa, cujos capiteis causam a admiração profunda da arte soberba do seculo XX.. E ante um delles, que se acha no Museo do Louvre, em Paris, ouvimos a exclamação dum estatuario de Roma:

«Ma, questo è divino!»

No Egypto, o maravilhoso templo de Dendera, com suas estatuas magnificas que serviram de inspiração a grandes buriladores do seculo passado. E as pyramides? Ao defronta-las no grande mysterio do Deserto, a potente çivilização européa queda-se, humilhada...

Na America, na Bolivia, quasi em nossas fronteiras, o famoso templo de Tihuanaco, á beira do lago Titicaca, ostentando seus formidaveis monolithos, suas maravilhosas escadarias, gastas pelas peregrinações de milhares de gerações anteriores á descoberta do continente americano: suas immensas capellas assombram, suas enigmaticas imagens perturbam a imaginação do visitante; suas originalissimas torres espantam. E quem seria essa gente que arrancou da Cordilheira dos Andes immensos blócos graniticos de dezenas e dezenas de toneladas. e os transportou para a região de Tihuanaco, vencendo a distancia de 40 ou 50 leguas?

Na Europa, os monumentos de Meklenburgo, as descobertas archeologicas feitas em Hallstadt, na Alta-Austria, em Tena, na Suissa, offerecem um vasto campo aberto ás conjecturas dos nossos sabios.

Affirmemos, pois, a existencia de civilizações milenarias, anteriores á nossa, não sómente na Asia, como na America, na Africa e na propria Europa.

As trinta e tantas cidades soterradas pela areia no deserto de Gobbi, descobertas por Prejevalsky e estudadas proficientemente pelo sabio orientalista dr. Stein, com os monumentos incomprehensiveis, são

um extraordinario livro aberto para o estudo das civilizações mortas. E as formidaveis muralhas do rio Khan-Ke, no valle do Kara-Karoum, bacia do Tarin? E as ruinas majestosas de Tchertchen, a 4.000 pés acima do nivel do rio do mesmo nome, ruinas que escondiam tres mil e tantos esqueletos gigantescos de gente afastada dos nossos typos? E com elles, vasos de porcellana, guarnições de ouro, objectos de uso desconhecido, e outras mais coisas que assombraram os investigadores.

Considerando tudo isso, a etnographia moderna póde exclamar com o sabio Poussin:

<< Les races humaines dépassent les cataclysmes au milieu des transformations produites dans la structure terrestre, les suivent en quelque sorte; et à chaque convulsion géologique, succède une convulsion etnique, si nous pouvons nous exprimer ainsi. >>

Supponha-se (e a supposição não é absurda) que os quatrocentos e tantos milhões de chinêses, empurrando deante de si as barbaras populações do centro e do noroeste da Asia, se atirassem como formidaveis ruminóes sobre os europeos, ora enfraquecidos pelo terramoto social que se chamou expressivamente Conflagração...

Guiados por novos Gensiskans, Tamerlões ou Atilas, que não fariam elles? Si a herva não crescia por onde passava o corcel de Atila era porque o rastro desse corcel significava a ruina, o saque, o morticinio, o incendio, a destruição...

E esse mongol que se disse o flagello de Deos arrazou setenta cidades da Europa e mais arrazaria se não fôra o seo fim prematuro. Imagine-se um Atila chinês commandando 300 milhões de asiaticos, marchando triumphantemente sobre a extenuada Europa: destruiria, não 70, mas 700 cidades prosperas do velho mundo.

Os cataclysmos sociaes, não sómente os cosmicos, abalam e fulminam civilizações, que são como os sêres vivos: nascem, vivem, e morrem... E civilizações succedem-se a civilizações. O que acontece com as agoas do mar succede com os povos da terra: ha tambem fluxos e refluxos na multidão humana. E' isso o eterno vae-vem das cousas, o infindavel circulo vicioso que se observa em tudo, tanto na vida dos astros, com a lei de Schiaparelli, como na vida da materia, com a de Lavoisier: nada se crêa e nada se perde, seja na superficie da terra, seja na immensidão do Céo.

Mas, quantas civilizações já desappareceram na voragem dos milenios? Novél classificou-as. Jacolliot tentou expô-las.

1) civilização austral, 500 seculos antes de Christo; 2) attlantica, 450; 3) do Gobbi, 350; 4) do Thibet, 250; 5) da China, 150; 6), da IndiaVedica, 100; 7) do Egypto, 50; 8) da Babylonia, 10.

E da America? Talvez se distancie dezenas de seculos da civilização christã.

Sergi, um dos mais profundos etnographos modernos, acredita que a civilização européa tenha saído da Africa, de um povo extincto: os atlantes. Estes prosperaram numa região outr'ora feraz e rica, hoje a deserto immenso do Sahara. Ernest Bosc, o admiravel e erudito autor do «Dictionnaire d'Orientalisme>>> e da « Egyptologie », escreve que « autrefois le Sahara était un pays fertile et très peuplé, parce qu'il était arrosé abondamment avec des eaux provenant des lacs du centre de l'Afrique, lacs qui formaient les sources mêmes du Nil». (Doct. Es., vol. I, pag. 272). E' aliás a supposição de Scott Elliot, soberbamente exposta na «The History of the Atlantis ».

Os atlantes estendiam-se desde os montes Atlas até o lago Tchad, desde o mar Vermelho até o oceano Atlantico. Houve um formidavel cataclysmo

« EdellinenJatka »