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CAPITULO IV

A independencia e a separação

CAPITULO IV

A independencia e a separação

Ha cem annos, ainda vermelhava na rotina dos brasileiros o quadro sangrento da revolução de 17. Apesar disso, latejava em todas as consciencias nativistas o sentimento patrio. Prepara-se outra revolução, esta no Rio, devendo explodir em maio de 1821. O chefe era o jornalista Gonçalves Lédo, coadjuvado, efficazmente, pelo almirante Rodrigo Pinto Guedes, brigadeiro Felisberto Caldeira Brant, pelo juiz da alfandega Targini e desembargadores do paço Luiz José de Carvalho e Mello e João Severiano Maciel da Costa. Os galfarros da policia, porém, descobriram o trama, e em 5 de março de 1821 foram presos alguns dos conjurados. Iniciada a devassa, viu-se logo a impossibilidade de um castigo, pois entre os conspiradores figuravam amigos intimos de d. João VI, commensaes do Paço. O que havia de melhor no Rio de Janeiro pretendia a separação do Brasil, ou seja a desaggregação do reino unido. Além de fidalgos, juizes, altos funccionarios publicos, negociantes conceituados, na lista revolucionaria se achavam inscriptos os nomes de 38 officiaes das tropas do Rio de Janeiro. Aconselhado pelo conselheiro Thomaz de Villa Nova Portugal, que era o seo mentor politico, d. João VI, pela impossibilidade dum castigo, que inutilizaria para sempre até o proprio conde de Palmella, perdoou a todos, lavrando o decreto de 26 de março de 1821. Esse perdão, comtudo, em vez de apagar a fogueira separatista, acoroçoou-a. Gonçalves Lédo incumbiu a

Felisberto Brant de pedir na Inglaterra o auxilio da carbonaria inglêsa. Para os Estados Unidos, para pleitear o auxilio norte-americano e comprar armamentos, foi Severiano Costa. E para Lisboą, foi o dr. Custodio, irmão de Joaquim Gonçalves Lédo, tendo por intuito fiscalizar o movimento politico de Portugal e intrigar as Côrtes Portuguêsas contra o regente do Brasil.

Em carta de 3 de dezembro de 1821 escrevia Custodio ao seo irmão Joaquim, chefe da conspiração separatista:

Aqui tudo. vae maravilhosamente, pois começou a fervedura na panella politica. O Borges atacou com vehemencia José Bonifacio de Andrada, esse mesmo bragancista que, como verdadeiro chefe da juncta de S. Paulo, deu instrucções aos seos deputados para trabalharem com afinco pela união Brasil-Portugal. O momento é opportuno para agir. Procure a opportunidade para conseguir o apoio do teimoso conselheiro paulista. Faça chegar ás mãos delle o discurso do Borges proferido com applausos dos portuguêses numa importantissima sessão das Côrtes. O momento é propicio para agir. Inicie, pois, os preparativos do movimento separatista. >>

Intelligente e perspicaz, o conselheiro Thomaz Antonio Portugal já previra a fatalidade da separação. E em 6 de março de 21, fallou claramente ao seo amigo e rei as seguintes palavras:

<< A união do Brasil com Portugal não póde durar muito e a obrigação do governo é de a fazer durar o mais que fôr possivel; mas por fim, ha de realizar-se e ainda em tempo de Vossa Magestade. Si Vossa Magestade tem saudades dos berços de seos avós, regresse a Portugal; mas se quer ter a gloria de fundar um grande e poderoso Imperio e fazer desta nação uma das maiores potencias do globo, fique no Brasil. Aonde Vossa Magestade fi

car é seo; a outra parte ha de perder.. Outro conselho desejava eu dar a Vossa Magestade: desejava que Vossa Magestade visse que os brasileiros já estão muito esclarecidos para serem exclusivamente governados pelos portuguêses.» (193)

Esta carta impressionou sobremaneira d. João VI. Quiz ficar no Brasil. Porém, após muita relutancia, cedeu á vontade de Carlota Joaquina, a rainha dissoluta, odienta e má, que dizia preferir a companhia de uma farrista do bairro baixo de Lisboa a uma brasileira aristocratica da rua da Ajuda ou da rua do Conde. E d. João partiu. Mas antes de partir, prevendo o movimento separatista, aconselhou a seo filho, que, quando estoirasse, se pozesse á sua frente, delle tirando todo o partido possivel. Tal qual foi feito. O pesquizador que mergulhar os olhos em nosso passado, verificará que o quinquenio, precedente ao 7 de setembro foi revolucionario, principalmente os annos de 1821 e 22. Aliás, esse fervilhar patriotico de ha cem annos foi descortinado, não sómente pelos chronistas da Independencia, como tambem por escriptores estranjeiros. Um delles é o francês Angliviel de Beauville que aqui esteve em 1821. Em seo livro L'Empire du Brèsil, escripto e publicado em 1823, na pag. 90, diz elle:

«< A 4 de Outubro de 1821 um movimento esteve a ponto de estalar no Rio de Janeiro, sendo affixadas proclamações atrevidas...».

O velho Moraes retractou perfeitamente a epoca: << A independencia estava nos corações de todos os brasileiros; e o seu grito muitas vezes havia chegado aos labios dos que, algumas nobres, mas arriscadas tentativas fizeram em diversos pontos do Brasil para libertarem a patria da vergonhosa tutella de uma metropole. As circumstancias aplaina

e. apressaram esse acto, já impossivel de embaraçar-se por mais tempo. » (Mello Moraes, A Independencia, pag. 158).

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