CAPITULO VI

TITULO I

Partidos da Bahia no Imperio. Obras de interesse publico e de melhoramentos na cidade. Canalisação do rio das Tripas para formar o leito da rua da Valla. Pontes e estradas no interior da Provincia. Epidemia de febre amarella. Navegação do Reconcavo pela Companhia Bomfim. Receita e despeza da Provincia. Fabricas. Aldeiamento de S. Fidelis. Melhoramentos do Campo Grande. Halfeld no rio S. Francisco. Seus estudos. Canalisação d'agua na capital. 20. Presidente. Colonisação do territorio entre os rios Pardo e Jequitinhonha. Inicio da construcção de estradas de ferro. Rua da Valla. Casa da Providencia

O presidente Gonçalves Martins, leu em 1.o de Março perante a Assembléa Provincial a sua Falla de abertura, dando parte saliente aos trabalhos de interesse publico e progresso material, revelando-se o habil e sensato administrador que sempre foi.

Já se achavam em via de formação os dois grandes partidos que se constituiram durante o imperio e que foram até o fim delle, partidos copiados do systema constitucional da Inglaterra, tomado como typo pelos nossos homens de Estado.

Nunca foi perfeita a vida destes partidos como lá e póde dizer-se que isso mesmo não era possivel, se bem que sempre aspirassem esta perfeição os homens publicos superiores, que foram, em sua maioria, bahianos. Chamaram se no principio do Imperio corcundas e caramurús, mais

tarde raposas e-perús e afinal-conservadores e-liberaes como na Inglaterra.

A Bahia foi a terra dos estadistas e tinha o primado na organisação politica do paiz.

Tanto no partido liberal, como no partido conservador, nomes, como acima foi referido, que tinham tomado as opiniões politicas, as quaes se haviam combatido com as mais disparatadas, chulas e violentas aggremiações nas provincias, tinha sempre a Bahia figuras indispensaveis no ministerio.

Começava-se tambem, a dar a denominação de situações aos periodos em que dominavam o partido liberal ou o conservador.

Notava-se, o anachronismo, porém, de não subirem estas opiniões politicas ao governo pela força que lhes viesse da opinião publica, mas sim pela que lhes vinha da coroa.

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Em 23 de Julho de 1840, por uma revolução pacifica do partido liberal, havia-se feito a maioridade, antecipando a epoca prevista pela constituição para entregar ao principe menor a autoridade, mas o respeito e estima que cercavam este principe nacional, haviam conservado o throno, sem os abalos do periodo da regencia.

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Uma pleiade de homens de merecimento, muitos dos quaes bahianos, tinha pela sua experiencia, pela sua dedicação á causa publica, pela sua honestidade, feito uma muralha que salvaguardou a monarchia constitucional e a consolidou. Elles constituiram uma escola de sabia e prudente administração.

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O imperante, por seu turno, estudioso e applicado aos negocios, apezar de muito moço, foi um elemento de paz, de ordem e de estabilidade no paiz.

O que tornava, porém, a machina politica diversa no seu modo de funccionar do seu modelo inglez é que as eleições, cá no Brasil, não passavam de uma ficção .

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voto e das suas opiniões, reside o vigor do systema representativo, como na pureza dos juizes e na sinceridade dos jurados reside a moral dos julgamentos do jury.

A eleição cá era uma burla, como é até agora; na monarchia por causa dos partidos, após a republica por ou

tras causas.

E' o que explica a minha asserção, exarada, de que a elevação dos partidos ao poder não vinha da nação, mas sim dependia da coroa. O imperador, desde cêdo, pendia para os conservadores e por mais tempo os manteve na administração.

Gonçalves Martins era conservador e a esta circumstancia deveu a Bahia ter por mais tempo á frente da administração este homem, que tinha aptidões para governar e que amava a sua terra.

De 26 de Março a 4 de Abril de 1850, Martins deixou o governo e teve a administração o vice-presidente Alvaro Tiberio de Moncorvo e Lima e de 20 de Abril a 4 de Setembro governou outra vez Alvaro Tiberio.

De 3 de Maio até 23 de Setembro de 1851 tornou a governar Alvaro Tiberio e de 3 de Maio até 20 de Setembro de 1852 governou de novo o mesmo vice-presidente Alvaro Tiberio.

Correspondem estes periodos aos das sessões legislativas, em que Martins foi para o Rio de Janeiro exercer o mandato de deputado geral.

O presidente se dedicou a obras de interesse publico durante tres annos, melhorando, quanto a consolidação e calçamento, a ladeira da Misericordia, uma das mais transitadas vias publicas da cidade, calçando toda a parte da cidade baixa entre a Fonte do Pereira e o Guindaste dos Padres, (hoje entrada do Plano Inclinado), assim como todo o espaço desde a igreja da Conceição da Praia até a ladeira da Preguiça e desde a igreja da Conceição até Santa Barbara, assim como a Calçada do Bomfim até a Jequitaia, e ainda a Rua Nova do Commercio (hoje Conselheiro

Dantas) e a Rua Direita do Commercio (hoje Conselheiro Saraiva), assim como a Praça do Commercio e o Julião, emfim toda a Cidade Baixa.

Na cidade alta as ruas de Santa Thereza. Sodré e travessas adjacentes, lhe devem os seus primeiros melhoramentos e calçadas.

Ainda se notava a falta aqui de uma obra de summa necessidade.

Haviam os hollandezes represado o rio das Tripas para augmentar o dique, ou antes fazer um dique entre a cidade e os môrros proximos, de onde podiam vir inimigos.

Os portuguezes deixaram o fôsso aquatico, sem delle cuidarem convenientemente, e os brasileiros, ainda menos.

Era portanto, um charco de aguas lodosas no verão e um alagadiço no inverno, e que se estendia desde os fundos do convento de S. Bento, ou Hortas de S. Bento até a Baixa dos Sapateiros.

Havia em certos pontos pinguelas, pelas quaes se passava, fazendo milagres de equilibrio, de uma parte para outra, isto é, do bairro da Saúde e do de Sant'Anna para o da Sé, sitio onde a cidade primitivamente fôra fundada.

Era preciso transformar a parte baixa entre os môrros, encharcada e immunda, numa rua, canalisando o rio das Tripas e fazendo-o correr por baixo de uma abobada, para aproveitar o espaço e fazer alli a communicação entre a parte velha e a nova, da cidade. (Nota 1).

E foi esta a obra que formou a rua da Valla, actualmente chamada rua Dr. J. J. Seabra, trabalho que se fez em diversas administrações, aliás.

Fóra da cidade estendeu o presidente Gonçalves Martins a sua actividade productora de melhoramentos.

Foi lançada uma ponte sobre o rio Pojuca, em Santo Amaro, e construido um caes em Nazareth.

A ladeira da Muritiba, que é a communicação deste povoado com o de S. Felix, foi melhorada sensivelmente

para commodo dos viajantes, e a estrada que vae do Rosario do Orobó para Andarahy tambem foi concertada.

Foram lançadas as pontes do Beijú e Apicum na villa de S. Francisco, assim como a do rio Mombaça em Santo Amaro. Uma outra foi construida sobre o rio Joannes, e outra sobre o Calolé, melhorada a ladeira de Capoeirussú, consolidada a estrada do Urubú, em Maragogipe, posta uma ponte sobre o rio Gereba, e reconstruida a ponte de desembarque do porto de Maragogipe.

Ao mesmo tempo era adeantada a estrada de Valença para Minas Geraes, no trecho de 28 leguas, entre Valença e o termo da Villa de Jequiriçá, na margem esquerda do rio de Contas. (Nota 2).

Infelizmente esta serie de melhoramentos foi perturbada pela desapiedada epidemia de febre amarella de 1850, a qual foi trazida pelo brigue americano Brasil, vindo de Nova Orleans.

Tendo alguns tripulantes fallecido durante a viagem, foram outros doentes do mesmo navio transportados para terra, para o hospital da Misericordia, transmittindo-se a molestia de modo pavoroso e chegando a epidemia ao seu auge de desenvolvimento em 1850, quando declinou.

Os documentos officiaes calculam a mortalidade da capital em 1310, ou antes 1600 pessoas, contando com as freguezias suburbanas.

Quanto ao Reconcavo e interior, calcula-se a mortaiidade em 549 pessoas.

O flagello tinha grandemente prejudicado a producção e o commercio da provincia.

Entre as medidas de hygiene, apontadas como as mais seguras, figuram os melhoramentos das moradias e a diminuição dos enterramentos nas igrejas. A Santa Casa de Misericordia já havia construido o cemiterio do Campo Santo e alli se installaram carneiros de irmandades. (Nota 5).

O governo tinha tambem a intenção de construir um