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propagar esse apetite desordenado dos empregos dos governos, que por toda a parte se vê. Nao há um só empregado publico que nao seja um verdadeiro tributo. Mas como sao elles todos tratados, e com que facilidade sao depostos, e arrojados em um estado de obscuridade e de miseria? Os novos planos succedem rapidamente uns a outros, há um movimento continuo em todos os ramos administrativos, e apenas se sente a mais pequena precisao pecuniaria no Estado, publicao-se logo as reducçoens e as suspensoens de pagamentos. Nada obsta á estas decisoens ministeriaes, as formalidades variao todos os dias, eternisaō-se as demoras, o mais pequeno esquecimento de certos formularios suspende a posse dos direitos mais legitimos, e toda a vida se gasta em pedir, em esperar, e quazi sempre em nada receber. Tal estado como este hé horroroso, e desgraçadamente hé o da maior parte dos Europeos. Seria espantozo o calculo, quando se podesse fazer, de todas as pessoas que há vinte annos perderam suas fortunas, seo estado, suas occupaçoens, e que na esperança de tornarem a subir a outro qualquer gráo de honra ou de riqueza se definhao por abrir caminho por entrea chusma de outras pessoas novamente em voga, e que por haverem já antes sofrido os mesmos desastres sao agora insensiveis ás degraças alheias.

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Nao esqueçamos que, a excepçaõ de Inglaterra, todos os bancos do Estado tem falido; que muitos governos por varias vezes se tem renovado; que os ministerios ainda constantemente se mudao; e que seos agentes vao envolvidos em todas estas mudanças: tendo á vista esta idea, poderemos entao conjecturar quaō numerosa deva ser a lista das victimas..

Desigualdade entre a riqueza e as luzes do maior numero dos Europeos.

A educação de todas as classes da sociedade hé quasi a mesma, e toda a gente pouco mais ou menos a recebe igual; todavia, nem toda a gente adquire um igual gráo de fortuna. Entre as pessoas que partecipao dos mesmos meios de instrucçao, umas, logo ao acabar seos estudos, encontrao com a pobreza e todos os seos horrores; outras com a riqueza e todas as suas delicias. Acontece porem muitas vezes que os desgraçados pela fortuna naõ sao os mais desgraçados pela natureza, e que saõ iguaes, ́se naõ superiores, em talentos e em jinstrucção a aquelles entre quem vao viver em tao desproporcionada situação social. Que sentimentos nao se devem entao elevar dentro de seos coraçoens! e que trabalhos e que planos nao formao para igualar seos talentos com a fortuna que lhes falta! Se neste cazo se lhes aprezentassem entao sempre bons meios, como isto devia acontecer para o o bem da sociedade, e estes bons neios fossem tambem sempre os primeiros, tudo hiria muito bem: nao succede porem assim; e que comparaçoens e projectos de ambiçao e de odio nao rebentao logo dentro em suas almas, e lhes inflamao as paixoens! Hé desta origem que pro cede pois toda essa nuvem de homens sempre propensos para toda a casta de revoluçoens, e que sempre prontos a servir todo o poder que se eleva entulhao todas as entradas dos lugares em que esse mesmo poder tem dominaçao ou influencia Se desgraçadamente vimos tantos individuos perseguirem com tenacidade e rancor as classes que lhes erao superiores, as distincCoens que nunca poderám obter, e as propriedades de que nunca gozaram; á esta só cauza

devemos atribuir tao terriveis effeitos. O ciume poz a mascara do patriotismo, e com ella tornando-se sophista, espoliador, e até mesmo barbaro e feroz, só cuidou entao em equilibrar sua fortuna com os talentos que julgava possuir.

Resulta do quadro das differentes cauzas, que temos exposto, que existe na Europa uma desordem social muito grande. Esta desordem vai sempre crescendo, e mais cedo ou mais tarde há de dar resultados mui funestos para a ordem social.

A situação dos Europeos está pois mui longe de ser boa; e podemos dizer que, tomados em massa, saō realmente muito infelizes, porque tem mais luzes do que felicidade. Nao se conclua porem que as luzes sao as cauzas que lhes tem feito perder a sua felicidade: pelo contrario, elles só sao infelizes por nao serem governados segundo o estado das luzes do seculo. Sim a multiplicação dos exercitos, a multiplicação dos tributos, e a multiplicação das despezas, com a multiplicação de todas as vexaçoens individuaes, e das desordens e roubos de administraçao naõ sao actos conformes com as luzes, porem diametralmente opostos a ellas. Conseguintemente, em virtude destas luzes se elevao as reclamaçoens e as queixas contra taes actos, e se ouvem tantos clamores cegos e inconsiderados. Mas as desordens vao hindo sempre seo caminho. E porque? Porque as luzes tem contra si a opposiçao dos interesses particulares, das paixoens, e dos prejuizos, que, auxiliados pela força, unicamente se ocupao em desviar ou destruir os effeitos saudaveis que as mesmas luzes necessariamente haviaõ de produzir se ellas sos dirigissem os governos dos homens.

(Continuar-se-há em o No. seguinte,),

REVOLUÇOENS ANTIGAS E MODERnas.

Destruiçaõ da Constituiçao Atheniense.-Governo dos trinta Tiranos.

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Já vinte annos de guerra tinhao assolado a Attica, e a peste, nao menos destruidora do que a guerra, tinha devorado grande parte de seos habitantes, e abismado o resto em um vasto pelago de vicios. Já nao existia Pericles; e Alcibiades fugitivo, depois da infeliz expediçaõ da Silicia, e depois de haver dirigido por algum tempo a Liga do Peloponeso contra a sua patria, vivia retirado em Caza de Tisaphernes, Satrapa da Lydia.

Ali tocado das desgraças de que, em parte, fôra instrumento, começa a voltar os olhos para a Patria. Ao mesmo tempo, os cidadaons de Athenas, oprimidos com o pezo de suas calamidades, e tendo que luctar a um tempo com todas as forças do Peloponeso e da Asia, nao viaō outro recurso se nao no genio de seo illustre compatriota. Entraram em negociaçoens com Alcibiades; mas este banido pelo povo recusou voltar á Athenas a menos de se mudar primeiramente a forma do governo, e de, em vez da constituição democratica, se lhe substituir a oligarquia. O tirano queria preparar sua cama antes de se hir deitar nella.

Mas uma pronta reconciliaçao, custasse o que custasse, era de necessidade absoluta. Agis, com as forças de Lacedemonia bloqueava Athenas por terra, e occupava todos os seos arrabaldes, donde os babitantès tinhao fugido para hir refugiar-se na Capital. Nessa mesma epocha o

* Havia uma tregoa que devia durar 50 annos, e que só durou 6 annos e 10 mezes.

exercito Atheniense occupava a ilha de Samos, que havia conquistado; e por esta forma os habitantes da Attica estavao divididos em duas partes, servindo uns nas expediçoens externas, e outros em caza na defeza da Cidade.

A proposta de Alcibiades, apezar de tao calamitozas circunstancias, achou grande opposiçao no povo e nos soldados; mas como só havia este recurso para escapar a uma ruina, quazi inevitavel, naō houve remedio se nao consentir sa aboliçao da democracia.

Então começaram em Athenas essas scenas tragicas, que bem cedo se renovaram no governo dos trinta Tiranos. Nao pode haver posição mais horrorosa do que a desta desgraçada cidade, e que mais se assemelhe com a da França no governo da Convençao. Atacada externamente por mil inimigos, e quazi a ponto de cahir debaixo das armas estrangeiras, perdeu internamente, por meio de uma aristocracia devoradora, o resto de seos habitantes. Principiou-se por decretar que todo o povo seria soldado, e que só haveriao 5,000 cidadaons que podessem ter parte nos negocios da republica. Os conjurados, para se livrarem por uma vez de todas as opposiçoens, cuidaram logo em se desfazer de todos os individuos que tinhao por affeiçoados a antiga constituição. O povo e o Senado juntavao-se ainda, mas se alguem ousava dar um parecer contrario ao partido dominante, erà immediatamente assassinado. Os cidadaons, cercados de espioens e traidores, temiaõ de fallar uns com outros o irmao desconfiava de seo irmao, o amigo calavase deante do seo amigo, e o silencio e terror dominavao em toda aquella aflicta cidade.

Depois de estabelecida esta tirania provisoria, passaram os conspiradores a organisar uma constituiçao. Nomeou-se em consequencia uma

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