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viu o monarca de Syracusa, com sua grande corpolencia, e seos olhos meios fechados, andar correndo as cidades e aldeas da Grecia, saltando, dançando, tocando tambor, e hir depois pela roda receber as mesquinhas esmolas que lhe dava a plebe, que o cercava.

Se tanto nos temos demorado com as 'desgraças de Denys, bem facil hé conhecer o motivo. Alem da grande liçao que ellas dao, a Europa igualmente tem visto o memoravel exemplo senao dos mesmos vicios, ao menos de quazi iguaes infelicidades. O Soberano legitimo de França tem andado errante pela Europa, á mercê dos destinos e dos homens.

Com tudo, se a perda de um reino florescente e de um povo numeroso, e a lembrança de umnascimento illustre erao mais que bastantes para agravar as dores de Luis, nunca poude recear, como os Reys da antiguidade, o excesso da indigencia. Esta differença nasce do estado relativo das Constituiçoens politicas. No tempo

antigo um principe fugitivo nao encontrava se nao republicas, que insultavaõ sua miseria; nos tempos modernos elle encontra ao menos outros principes que lhe ministrao o que hé necessario para a vida. Se acontecesse que a Europa toda se convertesse em republicas, o ultimo dos monarcas desenthronisados seria tao desgraçado como Denys.

Desde as primeiras idades do mundo até a catastrophe dos Bourbons em França, a historia nos offerece um grande numero de principes fugitivos, sofrendo todas as dores que sao proprias da geral especie humana. A frente da grande lista antiga está o Monarca Cégo, que andou correndo a Grecia pelo braço da sua Antigone. Vemos depois Theseo, legislador e defensor da sua patria banido por um povo ingrato: T

Orestes, acompanhado de um unico amigo : Idomeneu, expulso de Creta: Demaretes, Rey de Sparta, refugiado em caza de Dario: Hippias, morto nos campos de Marathonia, quando pelejava por recobrar sua coroa: Pausanias II, Rey de Sparta, condanado á morte, e escapando a ella, fugindo: Denys, em Corintho: Dario, fugindo só, e desemparado deante de Alexandre, e a final assassinado por seos Cortesaons: Cleomenes, digno successor de Agis, crucificado no Egypto, para onde se havia retirado: Antiocho Hieras, refugiado em caza de Ptolomeo, que o lança em Antiocho X, errante no paiz do Parthos, e pela Cilicia: Mithridates, buscando em vao um asilo em caza de Tigranes, seo genro, e forçado por fim à matar-se com peçonha.

uma masmorra:

Até aqui a Grecia; passemos á Roma. · Ahi veremos Tarquinio, expulso por Bruto, e debalde trabalhando para armar a Italia em seo favor. Depois delle encontra-se uma lista immensa de Imperadores de ambos os Imperios, mui longa

para se enumerar.

Entre os povos modernos acharemos na Africa á cabeça da lista Gelimer, expulso do throno dos Vandalos, e reduzido á cultivar um campo com suas proprias maons: na Italia, Lamberg, primeiro principe fugitivo da Europa moderna: Pedro de Medicis, que, a nao ser Felipe de Comines, nao teria um refugio em Veneza: o Imperador Henrique IV, fugindo deante de seo filho o Conde de Flandres, expulso por Artavelle: Carlos V de França despojado pela facçao de Carlos de Navarra: Carlos VII, reduzido a simples posse da cidade de Orleans: Henrique VI de Inglaterra, desenthronisado, restituido, e depois desenthronisado ainda: Eduardo IV, vagabundo pelos Paizes Baixos, sem soccorro

algum: Henrique IV de França, expulso pela Liga: Carlos II de Inglaterra, forçado a dormir escondido em um Carvalho, dentro de seos proprios Estados, na mesma occasiao em que sua propria familia, residente no continente era obrigada a conservar-se na cama por nao ter fogo para aquecer-se: Gustavo Vasa, escondido dentro das minas: Stanislao I, Rey de Polonia, fugindo disfarçado do seo palacio: Jacques II, que achou sim uma Corte em França, mas deixou descendentes que nao poderam achar um lugar em que repousassem suas cabeças: Maria Theresa, fugindo com seo filho nos braços, para refugiar-se entre os Hungaros: emfim, os Bourbons, que terminaõ esta longa lista de illustres infelizes.* Neste catalogo de miserias humanas cada um poderá satisfazer as propensoens de seo coraçao: a inveja só nelle verá Reys; a piedade verá infelizes; e a filosofia verá homens.

* Nesta lista, formada por Chateaubriand, ainda se podem acrescentar muitas nomes modernos de illustres infelizes. Stanislao Augusto, ultimo Rey de Polonia, desenthronisado por tres grandes potencias, que hoje sao os fundadores da Santa Alliança! Desterrado em Grodno foi morrer depois em Petersburgo, em 11 de Abril, de 1794.-Gustavo Adolfo, Rey de Suecia, expulso por seo tio e pelos Suecos, e hoje simples cidadaō de Basilea, com o nome do Coronel Sueco, Gustavo Adolfo Gustavson.-Carlos IV de Hespanha, desenthronisado pela Canalha de Aranjuez, em nome de seo filho, e hoje vagabundo pela Italia.-A Rainha de Etruria, desenthronisada por Napoleaō, e hoje á espera de um Ducado que the prometeram.Napoleaō Buonaparte, Imperador dos Francezes, captivo em Santa Helena.-Joze Buonaparte Rey de Hespanha, reconhecido pela Russia, &c., refugiado nos Estados Unidos da America.-Jeronimo Buonaparte Rey de Westphalia, fazendo a figura de Conde ou Marquez, na Alemanha.-Luis Buonaparte, desenthronisado por seo irmao Napoleaō Buonaparte, e agora tambem errante na Alemanha debaixo do titulo de Barao, ou de Conde.-Eugenio Beauharnois, quondam Vice Rey de Italia, hoje as sopas da familia de sua mulher na Baviera.-Emfim, Joaquim Murat, Rey de Napoles, reconhecido por quasi toda a Europa, espinguarVOL. XXII. 3 H

HISTORIA DE AGATHON,

Escripta por M. Weilland.

(Continuada da pagina 286 do No. antecedente.)

LIVRO II.

AGATHON EM CAZA DO SOPHISTA HIPPIAS.

CAPITULO I.-Quem era o homem que comprou Agathon?

O homem, que por dois talentos havia adquirido o direito de tratar Agathon como seo escravo, era um desses individuos famozos que andavao viajando por toda a Grecia e se denominavao sophistas, procurando por este modo ser convidados para mestres dos filhos das familias mais opulentas e nobres. A amabilidade de sua conversaçao, e a esperança que sempre davao a seos discipulos de os fazerem celebres na arte da guerra, na eloquencia, e na arte de governar os homens, lhes ganhavao geralmente muita consideração e dinheiro.

O titulo de Sophista, que elles tinhao applicado a si, significava na lingoa grega um homem que faz profissaõ de ser sabio; e com effeito gozavao desta alta reputaçaõ para com o maior numero de seos contemporaneos.

Mas sua sabedoria nao só era differente da virtuosa sabedoria de Socrates, mas até lhe era opposta. Os sophistas ensinavao a arte de esti

deado como um malfeitor na mesma terra em que tinha sido Rey! Todo este Appendice com o catalogo, que fica no texto, pode dar materia para se escrever um bom capitulo sobre a Legitimidade dos Reys. Os Redactores.

mular as paixoens humanas, Socrates, a arte de as acalmar. Os Sophistas ensinavao o modo de de parecer sabio e virtuoso; Socrates, o - modo de o ser na realidade. Os Sophistas emfim, inspiravao aos jovens Athenienses o desejo de ter empregos, e entrar na administraçao da republica; Socrates ensinava-lhes, que á todo o homem era necessario gastar metade da sua vida em aprender a governar-se a si proprio.

Nao contentes com estas liçoens, os Sophistas metiaõ á bulha a modestia e temperança de Socrates, que se contentava com um vestido mui simples, e uma meza mui parca, em quanto elles trajavao ricos vestidos de purpura, e guarneciao suas mezas com todo o luxo e profuzaō imaginiveis. A sabedoria de Socrates consistia em cuidar pouco de adquirir riquezas, a dos Sophistas, em as accumular. Estes ultimos lisongeiros por officio de todos os homens poderosos, e servos humildes dos empregados publicos, divertiao e cortejavao suas amigas, offerecendo incensos a quantos sentiao com dinheiro. Bem quistos, por consequencia dos principes, e das damas, tinhao sempre cabimento quer nos palacios, quer nos gabinetes das bellas. Nao era assim a sabedoria de Socrates, porque era austera e virtuosa, e por isso era insupportavel, porque sendo justa censurava os vicios. Os homens interessados a olhavao como inutil; os ociosos como absurda; e os devotos, até como perigoza. Seria um nunca acabar se quizessemos levar mais longe todas estás comparaçoens; e concluiremos com dizer, que a sabedoria dos Sophistas tinha uma grande superioridade sobre a de Socrates, a qual era-dar a seos adeptos riquezas, credito, consideráçao, gloria, e todas as comodidades da vida.

Hippias, novo senhor de Agathon, era um

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