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se menciona na sentença que testemunha alguma deposesse contra os prisioneiros: entao as proprias confissoens destes, extorquidas pelas torturas de horrendas prisoens, sao as unicas provas que se produzem contra elles; e em consequencia daquella sua propria accusaçao hé que elles sao condemnados! Que Jurado em Inglaterra acharia criminoso de alta traiçaõ um homem em consequencia de uma tal prova? E qual seria o Juiz Inglez que em tal cazo nao insinuasse ao Jurado ó absolver o prisioneiro por falta de provas legaes?

Porem tal hé a administraçao da justiça em Portugal, como se vê da mesma sentença. O escriptor diz que taes expressoens sao em desabono de seo Rey e paiz. Desta forma se dá elle por Portuguez. Se realmente o hé, entao lhe recomendaremos que aconselhe seo Rey e paiz a mudarem a administraçaõ da justiça; e neste cazo já se naō dirá couza alguma em menos cabo de um ou de outro. Porem quando pelos actos do seo paiz se envolve desnecessariamente, e sem cauza, um individuo n'uma pertendida ou verdadeira conspiraçao, hé entao necessario ter a credulidade dos que ainda esperao pela vinda d'ElRey D. Sebastiao para suppor, que um tal individuo, assim offendido, se nao justificaria.-Nós admiramos a moderaçao do Duque na sua resposta. Qualquer outra pessoa da sua jerarquia, que desta maneira fosse tratada por aquelles que formaram, corrigiram, ou approvaram aquella sentença, a nao ser dotada de tanta prudencia, trataria o negocio com menos delicadeza, e sem duvida de uma maneira adequada a rudeza do ataque.

Sou, Senhor,

Vosso mais obediente servo.
I. D. C. L.

(Morning Chronicle, 27 de Julho, 1818.)

REFLEXOENS SOBRE ALGUNS ARTIGOS DESTE NUMERO.

"Vitam impendere vero, et reipublicæ patriæ." ("Empregaremos a vida em defender a verdade, nosso Rey, e nossa Patria.")

LITERATURA PORTUGUEZA E ESTRangeira.

Na pag. 428 deste artigo demos principio a publicação da obra intitulada-A Guerra da Peninsula debaixo do seo verdadeiro ponto de vista, &c., e a continuaremos em os Nos. seguintes. O auctor desta obra interessante mostra ter um conhecimento mui profundo da historia da ultima guerra Peninsular, e das cauzas politicas que a motivaram e dirigiram; e debaixo desta consideraçao, hé um escripto summamente proveitozo, como documento historico, de que qualquer futuro historiador poderá tirar mui uteis auxilios. O escriptor aprezenta com effeito em um ponto de vista mui luminozo o que foi està guerra, e a parte gloriosa que nella teve o valente exercito Anglo-Luso; porque destroe todas as falsas cores com que até agora tem sido delineada, quer seja por individuos interessados em exaltar a penetraçao de Napoleaō e a invencibilidade dos exercitos Francezes, quer por outros que, ainda sem terem os mesmos motivos, seguiram a mesma vereda, e atribuem o prodigiozo resultado da guerra á pertinacia das Guerrilhas Hespanholas, ou aos estereis decretos das Cortes e Regencia de Cadiz. Na verdade hé faltar á todo o bom senso commum querer que o mundo acredite que a Peninsula deveo sua liber

VOL. XXII.

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dade ou seja á falta de vontade de Napoleaō em querer conquista-la, ou á resistencia que as tropas Francezas acharam nas Guerrilhas Hespanholas, e guerra ideal do governo de Cadiz. Que seria daquellas e deste se nao houvesse o exercito Anglo-Luso? Nao teriaō durado seis mezes; e Hespanha e Portugal, como bem raciocina o auctor, teriao ficado debaixo do dominios de dois Nicoláos, ou dois Massenas primeiros.

Repetimos pois, que este escripto hé mui util, porque nao só amplamente dissipa estas illuzoens, porem para isso menciona factos de grande interesse, e em geral pouco conhecidos dos estrangeiros. Para o fazer ainda mais interessante, o auctor lhe ajuntou muitas notas, que por serem demasiadamente extensas, as publicou separadas em Appendice; e concluiu tudo, com o interessantissimo Indice, ou Taboa Chronologica dos mais notaveis acontecimentos desde o anno de 1809 até 1814, Nós seguiremos a ordem do auctor; publicaremos primeiramente a Carta, dirigida ao Abbade F...; depois o Appendice das notas; e a final, o Indice ou Taboa Chronologica. Esta obra, que só agora vimos pela primeira vez, hé escripta em Italiano; e sem mencionar o lugar em que foi impressa, tem sómente, a baixo do titulo, o seguinte:-Italia, 1816.

REINO UNIDO PORTUGUEZ.-RIO DE JANEIRO.

Demos principio á este artigo, em pag. 458.com dois Documentos, a nosso parecer, da mais alta importancia, porque sao relativos a dois desgracados individuos, victimas dos ultimos aconteci

mentos politicos em nossa patria, e poderao talvez servir de exemplo para outras graças da mesma natureza. Assim sobre este ponto daremos imparcial e francamente a nossa opiniao, nao tendo em vista motivos alguns particulares, e levados só do dezejo de sermos uteis á cauza publica, que hé a cauza de El-Rey. Nestes termos julgâmos ser nosso dever declarar primeiro que tudo, que estas duas acçoens de piedade, feitas agora por El-Rey, honrao muito seo bom coração, e lhe dao maior gloria do que se houvesse ganhado uma grande batalha. Conquistar um inimigo externo nunca hé tao difficil, e portanto tao glorioso, como conquistar nossos proprios_resentimentos contra offensas particulares. El-Rey, naturalmente, deve ter sentido grande magoa por ter visto debaixo de bandeiras inimigas individuos que lhe deviaõ tudo e á seos antepassados; e nestas circunstancias perdoandolhes, ganhou indisputavelmente sobre seo coraçao uma victoria, que só grandes almas sabem ganhar. Com effeito vencer seos inimigos hé sempre um grande prazer, mas perdoar-lhes depois da victoria hé ainda, segundo nos parece, um prazer mais intenso, porque sua cauza hé mais nobre. Augusto, seguramente, nunca foi tao feliz em quanto proscreveu como quando perdoou este ultimo Acto verdadeiramente Real, foi o que lhe deu o nome de Pai da Patria, nome, que ainda hoje dura na historia.

Sendo pois inegavel que a acçao de El-Rey neste ponto naõ số hé Christam, mas mui piedoza e mui nobre, vejamos agora imparcialmente se teve motivos mui justos, e até politicos para assim proceder. A queda de Portugal em maons inimigas no anno de 1807 tem um caracter bem diverso de todas as catastrophes de semilhante natureza, porque nem foi obra de conquista, T

nem de plano, muito antes premeditado, de alguma parte considerável da naçao. Nao cahiu pois em maons de Francezes, como 'em outro tempo cahiu em mao de Hespanhoes por meio de uma conquista simulada, e de uma traiçao, e compra regular e sistematica, Os Francezes entraram em Portugal como- amigos, abriram-selhes francamente as portas, o povo teve ordem de bem os receber, e só em virtude de uma perfidia sem exemplo hé que Napoleaõ se declarou depois conquistador de um paiz, em que sem difficuldade entrára com capa de amigo. Os Portuguezes, com ordem de lhe nao resistir, acharam-se conseguintemente conquistados quazi sem o saber. Feita assim a conquista foi preciso obedecer: com effeito toda a naçao obedeceu, eem nome de Napoleao passaram todos os actos do governo, assim como debaixo do mesmo nome todos os tribunaes de justiça proferiram suas sentenças.

Nesta ordem de couzas passou parte do nosso exercito para França, e passaram tambem muitos individuos de diversas jerarquias por mandado expresso do chamado conquistador. Hé porem facil de ver que até aqui nao se pode imputar crime á todos os que por este modo extraordinario se acharam bandeados com o inimigo.

Em quanto tudo isso assim passava abriu os olhos a naçao, entraram a fazer-se insurreiçoeus parciaes, pediram-se auxilios estrangeiros, e a final deu-se a batalha de Vimeiro, e os Francezes fizeram uma convençao, e deposeram as armas. Quem nao esperaria entao ver estipulada em algum dos artigos da famosa Convençao de Cintra, de 30 de Agosto de 1808, a restituiçaõ dos nossos Portuguezes prsioneiros em França, ao menos em troca do exercito Francez que fora obrigado a capitular? Esqueceu, naō sabemos

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