Sivut kuvina
PDF
ePub

Paris há de estender-se até Saint Cloud. Eu construo quinze náos cada anno, mas naõ hei de lançar uma só ao mar em quanto nao tiver cento e cincoenta. Hei de domina-lo assim como a terra, e entaō todos haō de passar por minhas maos para o commercio, e naō hei de admitir se nao o que me trouxer milhao por milhaō." Tal hé a sua unica theoria de Commercio, que já me tinha largamente desenvolvido em outra conversaçao que com elle tive na volta de Hespanha.

Esta tendencia para os thronos e para o poder nao hé exclusiva em Napoleaō: ella existe en toda a sua familia. Joze, Jeronimo, Luis, a Gram Duqueza, taõ galantemente denominada-a Semiramis de Luca, todos tem a mania de possuirem thronos, e nao pensaō nem ambicionaō senão honras soberanas. Nao há um só individuo desta singular familia, que se naō creia ab eterno destinado para reinar e commandar; que nao olhe a privação de um throno como a violação de todos os direitos divinos e humanos; que se nao julgue indispensavel para a felicidade dos povos: por mais que o mundo os repulse e afaste com horror, elles nao se julgao menos soberanos legitimos, necessarios, inprescriptiveis. Nao sei quem poderá explicar a facilidade com que se esqueceram do passado para nao verem mais que o futuro; mas hé certo que esta disposiçao de espirito existe em todos elles, e hé preciso absolutamente que reinem. Joze pensa, que todo o sangue e todo o airo de França sao bem e justamente empregados para o estabelecer no throno de Hespanha. Por mais que esta lhe grite com o sangue de dois milhoens de Hespanhoes, mortos para o expulsar, e com a voz de todos aquelles que o seo furor deixa respirar na quella terra desolada, que ella o nao quer; por mais que a França (que até o nao conhece se nao pela luxuria e desastres, que o acompanharam em todos os thronos em que se tem ensaiado) lhe faça saber que já basta de sangue Francez, derramado para o fazer senhor de um povo, que antes quer a morte do que tê-lo por Soberano; elle nao persiste menos em querer reinar em Hespanha. Luis hé maniaco com a soberania da Hollanda: a França, a Hollanda, e a Europa inteira o declararam decahido do throno, e elle continua ainda a julgar-se Rey de Hollanda pela graça de

Deos, e a conservar no interior de sua caza uma sombra de soberania a mais ridicula do mundo. Jeronimo hé, depois de Napoleaō, o mais ambiciozo de reinar: bem cuidou elle ser Rey de Polonia !

Esta mesma disposição existe no mais alto grão entre algumas mulheres desta familia. A Gram Duqueza merece um lugar mui distincto entre as pessoas do seo sexo, que mais se asignalaram pela voracidade das suas ambiçoens.-Hé Agripina, sempre disposta a proferir a verdadeira expreção do ambiciozo-Occidat modo imperet; "Morrâmos, com tanto que reinemos." A Rainha de Napoles nao lhe cede nada nesta linha de comportamento. Esta paixao não hé porem nesta familia, como entre os grandes homens, um motivo de grandes acçoens, de grandes virtudes, e o germen e desenvolvimento das qualidades elevadas, que distinguem os grandes ambiciozos; nao, nada há pessoalmente mais obscuro nem mais rasteiro do que esta recua de cobiçadores, e possuidores de thronos. Seo unico titulo hé seo irmao: desde que este foi feito Soberano, todos elles o quizerao tambem ser, e nao cessaram de o atormentar com suas pertençoens. Todos sabem a engraçada resposta que deo o Imperador a um destes reys, seos familiares, que se inflamava para o persuadir que lhe devia augmentar os seos estados: "Quem nos ouvir," disse elle, "há de pensar que vos privo da herança do defuncto rey nosso pai." A ambição do Imperador, mais elevada e poderoza, absorvia estas ambiçoens subalternas, reunidas em torno da sua, como satelites a roda de um planeta....

O auctor, depois de descrever os meios que empregou Napoleaō para adormecer o governo da Russia desde a paz de Tilsit até o momento da invasao deste Imperio em 1812, prova com toda a evidencia, que Buonaparte foi o auctor voluntario, e nao provocado, da dita guerra; e que o Imperador Alexandre fez quanto cabia na dignidade de um grande Soberano para evita-la. As seguintes passagens desta parte da obra me parecem dignas de ser conhecidas :

- Devemos confessar, que desde a paz de Tilsit, desta paz, em que a guerra ficou tao bem estabelecida, todos os que sabiao pensar viram formar-se e engrossar-se a nuvem de que devia rebentar a tormenta com que se

haviaõ de perturbar os dois Imperios; e marcaram a grande epocha da explosao, conhecendo, que a questaō se havia de estabelecer sobre o commercio com Inglaterra; e que Napoleaō, com o pretexto do seo sistema continental, havia de querer estender-se até o fundo do Baltico, deixando á Russia a escolha de resistir a todo o risco, ou de receber guarniçoens desde Riga até Arcangel. Isto era publico em Paris. Os que ouviao os Polacos naquelle tempo viao igualmente que a guerra era inevitavel. O Ducado de Varsovia era o ponto de esperança. Isto era como o segredo da Comédia, que o sabe todo o auditorio. O Imperador mo declarou mesmo na sua audiencia de Dresda; e a dizer a verdade, bem podéra poupar o trabalho dáquella revelação, por que havia já muito tempo que eu o sabia.

Em todo o inverno de 1811 para 1812 nao se ouviaō em Paris se nao o estrondo de preparativos, e os ameaços de guerra contra a Russia. Paris estava feita uma praça d'armas, e uma terra de tranzito para as tropas que vinhao de todas as partes do Imperio para esta expediçao. Os Polacos forao mandados vir do fundo de Hespanha; a guarda Imperial tinha partido de Paris; os contingentes da Confederaçao estavaō em movimento: nao se esperava mais que a apariçao do sol sobre um horizonte mais elevado para dar o sinal do combate.

Seja-me permitido fazer aqui uma comparaçao da conducta de Napoleaõ á respeito do Imperador Alexandre com a que elle teve com o desgraçado Principe das Asturias. Em ambos os cazos tratou de proceder por doble surpreza á respeito de um e de outro; surpreza de couzas, e surpreza de pessoas. Antes da expedição de Hespanha, o Imperador fazia espalhar mil boatos sobre o seo projecto:-era o cerco de Gibraltar, a invazao de uma parte da costa de Africa para interceptar completamente a entrada do MediterA desgraçada Côrte d'Hespanha só na ultima extremidade he que soube a sorte que lhe destinavao pela rapida carreira, que para isso fez um tal Ezquierdo, agente do Principe da Paz. Assim tambem, para enganar a Russia sobre os destinos das tropas Francezas, fizeraō circular, durante o inverno, boatos

raneo.

bem ridiculos á cerca de colonias imaginarias. Fala-' vao de reunioens de artistas, de horteloens, de relojeiros, de transporte de ricos vestuarios, e até dos trastes mais preciosos do guarda-moveis. Tudo isto eraō tentativas para desviar a imaginaçaõ do publico do objecto verdadeiro; e hé ao mesmo motivo que devemos atribuir os protestos, as caricias, e as negativas que se prodigalisaram em Paris e S. Petersburgo. Foi somente no instante de começar, que o Duque de Bassano, partio de Paris sem dizer nada, e deixou o Principe Kourakin, cançado de esperar por uma audiencia que lhe havia' prometido, assim como os seos tardios passaportes; porque levaram o disfarce até aquelle ponto, muito de proposito para o entreter. O plano do Imperador era doble entao como o havia sido com Hespanha. Por uma parte, queria chegar de repente ao exercito Russo para o esmagar por surpreza; e por outra, esperava fazer-se senhor da pessoa do Imperador Alexandre. Tinha tomado gosto em Hespanha á este modo de acabar com os Reys; e tudo quanto este methodo lhe havia custado ainda naō bastava para corrigi-lo: pelo contrario, esperava indemnizar-se na Russia do que a Hespanha lhe tinha custado. A' mim mesmo mo disse elle na Conferencia de Dresda.

O Imperador sahio de Paris a 9 de Maio. Eu parti no dia 10 com uma parte da Côrte. Metz, no dia 11, M. de Vaublanc veio ter comnosco, Ao chegar a e nos disse, que o Imperador, que se havia apeado no palacio da Prefeitura, passára o serao mui contente e The dicéra que hia restabelecer toda a Polonia. Notando porem que o Prefeito se admirava, continuou, dizendo:-" Toda a Polonia certamente, toda a Polonia; deseseis milhoens de Polacos." Depois disto, fallou largamente, comforme o seo costume, dos seos successos e consequencias que deviaõ ter.

Cheguei a Dresda no dia 17 de Maio depois de uma viagem muito incomoda, como sao todas as que se fazem com a comitiva do Imperador, nas quaes homens e mulheres, de qualquer estado, condiçaõ ou idade, devem correr de dia e de noite como se fossem correios de gabinete. O Imperador tinha tomado o caminho da Franconia para não passar por Weimar, residencia

da irmam do Imperador Alexandre. O governo de Saxonia tinha mandado concertar á sua custa todas as estradas desde a fronteira, á travez das montanhas, até Dresda.

- O Vós, que quereis ter uma idea exacta da prepotencia que Napoleaõ exerceo sobre a Europa, se dezejaes calcular os grãos de susto que dominavao em quaze todos os Soberanos, transportai-vos em espirito a Dresda, e vinde contemplar este Principe soberbo no mais alto grao da sua gloria, tao proximo ao de sua degradaçao.

O Imperador ocupava o quarto principal do palacio; tinha levado comsigo uma grande porçao da sua Caza; dava meza publica; e a excepção do primeiro domingo, em que El Rey de Saxonia deo uma funcçao, era em Caza de Napoleaō que os Soberanos e parte de suas familias se reuniao por meio de convites por escripto, feitos pelo Gran Marechal (Mordomo-mor) do seo palacio. Alguns particulares erao admittidos a estas assembleas; e eu gozei desta honra no dia em que fui nomeado Embaxador para Varsovia.

Os Levers (Côrte pela manham) do Imperador erao, segundo seo costume, ás nove horas da manham. Era ali que se podia ver em que numero, e com que submissao temoroza uma chusma de Principes, confundidos entre os cortezaos e apenas vistos por estes, espe rava o momento de apparecer diante do novo arbitro dos seos destinos. Aquelle espetaculo renovava em mim toda a afflicçao que me cauzavao as audiencias diplomaticas, que tinha prezenceado. Era preciso ouvir as perguntas triviaes que o Imperador lhes fazia, e as respostas humildes que sobmissamente lhe tornavao. Foi em um desses Levers que eu ouvi sahir da boca de Napoleão essas palavras dignas de occupar o primeiro lugar nos fastos do orgulho.

uza tantas vezes:

O Imperador, chegando-se para o Principe de Neufchatel, dice lhe com aquelle surrizo sardonico, de que "E entao que temos?" Tratava-se de uma conversaçao que este Principe devia ter tido com o Conde de Metternich á cerca da troca da Galicia pelas provincias Illyricas. Eu ouvi Neufchatel, que respondia?" Elle poem difficuldades, e nao quer." Entao o Imperador com aquelle ar e tom que VOL. XV.

'T

« EdellinenJatka »