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D'est'arte em doce passageiro engano
A vida mais feliz, mais pura, e nobre
Exhaure o brilho seu formozo, e ufano.

Sem que a Virtude, sem que o Pranto a dobre,
Sem que a Belleza lhe suspenda o passo,
Tudo em seu seio a negra Morte encobre.

Ou longo, ou breve da existencia o espasso,
A foice descarrega, e rompe altiva
Das mais saudozas relaçoens o laço.

De quantos bens com que rigor nos priva!
Dos mais firmes projectos escarnece,
Desfaz mil gostos, penas mil motiva.

Que triste scena aos olhos meus off'rece
Oh dura Morte a crueldade tua!
Submersa em ais minha alma desfallece.

Solta-se opranto meu, a voz recua,
Com fortes comoçoens palpita o seio
Tentando descrever a magoa sua.

Oh raro Espirito de mil graças cheio,
Armania singular já te naõ vêmos !
A'nos roubarte a cruel Morte veio.

Ai mizeros de nos! Tal bem perdêmos!
E há muito o susto de tamanha falta
Com taciturna negra dor soffremos !

Oh nobre Esp❜rito os vastos Ceos esmalta,
Acolhe os versos meus, a lyra escuta,
Que entre queixumes mil porti se exalta.

Te vi na acerba, na continua luta
De atroz doença taõ constante, e forte,
Qual a que em paz suaves bens desfructa.

A negra imagem da térrivel Morte
Vendo a miudo sopeaste o medo
Magoas poupando ao candido Consorte.

Suspiravas om lugubre segredo
Té que á celeste Regiaō subiste,
E te auzentaste d'entre nos tao cedo.

Bem que o final sentido adeos cubriste
De ais melindrozos, e saudozo pranto,
Quaō resignada a lethal foice viste !

Santa Religiao tu podes tanto!
Entre mil perdas e crueis tormentos
Adora-se o decreto sacrosanto!

Da vida aos mais queridos pensamentos
Aprezentaste rezoluta o peito,
Perdeste assim os ultimos alentos..

Meiga volvendo o graciozo aspeito
Ao respeitavel gemebundo Epozo,
Que soluçava em lagrimas desfeito;

Forças tomou teu coraçao virtuozo
E moribunda vozes taes soltaste,
De audaz rezignaçao penhor mimozo.

"Se em mim té hoje a tua dita achaste,
"Se escolha tua, e teu amor eu era,
"E a mim ligado os laços teus amaste;

"De hoje em diante maior dita espera,
"Farte-há feliz o omnipotente Nume,
"Que sobre a Terra, e sobre os Ceos impera.

« Illudido o Mortal em vaō prezume
"Na ventura terrestre achar firmeza,
"Segue-se aos gostos aspero queixume.

"Falso o deleite, varia a natureza,
"Nao te allucinem; teus dezejos ceva
"Nos bens celestes, na mais digna empreza.

"A' eterna Estancia o pensamento elleva;
"Alli te espero eu, alli um dia

"Divino laço reunir-nos deva!

Assim fallou, e em lucida alegria

Sua alma virtuoza dezatando

As corporeas prizoens aos Ceos subia,

}

Entre os Coros Angelicos pouzando
Te contemplo, oh modesta, oh meiga Espoza,
A mil virtudes justo premio achando
Gentil Armania os bens celestes goza.

Por um Portuguez.

LITERATURA ALLEMAM.

As Analogias de Carolina Pichler.

XIV.-As Drupas (Fructos de Caroço).

Hé pena, que tantas Cerejas e Abrunhos jazao sem proveito aqui sobre a terra, e apodreçao! me disse hontem Emilia no pomar, e mostrou-me uma quantidade de fructos semi-maturos, e outros damnificados pelos passaros, que ali jaziao espalhados pelo chao. Hé pena, continuou ella, que tudo isto se perca sem prazer, e debalde, pois se chegassem á madureza, ou nao soffressem prejuizo, dariao excellentes fructos! Debalde nao se perdem elles, lhe voltei eu; olha ainda um pouco á roda de ti. Nao ves brotando aqui da relva uma infinidade de tenros Arbustinhos, que apenas se levantao como o restolho, que os cerca? Como poderiaō elles aqui nascer, se ninguem os plantou? Repara, Emilia; os fructos, que por cauzas diversas cahem na terra, apodrecem n'ella; mas o tenro germen se dezenvolve na humidade, que o rodea. Ao brotar, lhe serve de primeiro e leve sustento a polpa do fructo, antes que possa extrahir do chao dura pelos seos vazinhos o conveniente alimento, á maneira do tenro infante que vive do leite materno, antes que a sua mimosa struc tura soffra mais forte sustento. Por fim se arraiga a plantazinha na terra; sua debil hastea se levanta pouco a pouco e assim brotao estas Arvorezinhas, que um dia hao de assombrar o Vergel com os seos ramos de melhor modo arranjados. Nenhum fructo pois cahe sem fim ; os poucos mesmo, de que nao brota germe, servem de comida ás Aves do Ceo, que tambem Deus ama, e das quaes igualmente cuida. Sim, minha Amiga, a Providencia he taō boa e sabia no pequeno, como grande. Nada se perde na sua propria economia, nada fica sem effeito, e effeito salutar para o todo. Nao hê debalde que a drupa cahe, e se corrompe, nem tao pouco se perde a mais

pequena consequencia de nossas acçoens, posto que nós, imprevistos mortaes, julguemos ver o contrario muitas vezes, e nos pareça, que muitas cauzas ficao sem consequencia, e muitas forças sem correspondente effeito. Cada acçao boa, ou má, cada incentivo para o mal, cada exemplo de silenciosa virtude, produz sem duvida uma alteraçao no circulo, que nos rodea; e sem ser notada, silenciosa se propaga esta, até que depois de longo tempo, quando já de todo nos tem esquecido a primeira occaziaō, vemos nós com prazer ou com terror os consequencias, que, nao vistas, nos rebentárao de pequenos e insignificantes germes. Ah! possaō nossas acçoens imitar sempre as nobres drupas, que sem estrepito cahem sebre a relva, mas que bem depressa passaō a ser arvores uteis, que um dia haō de dar aos nossos Evos o refrigerio e a sombra!

XV.-Os Pinheiros.

Eisaqui arrancados, e destinados para lenha, os já sêcos pinheiros, que tanto tempo zombárao da diligencia e culto do jardineiro, Todas as suas fadigas e cuidados forao inuteis com estas arvores, que vecejáraō e céssáraó de reverdecer. Sim, mesmo a pouca seiva, que tinhao, quando forao transplantados de seos viveiros, secou-se, e os pinheiros morrerao. Involuntario a final os arrancou o jardineiro do chao, que desfiguravao, por quanto achou, que elles tinhao poucas ou nenhumas raizes. Elles foraō, como as pequenas arvores, que se arrancao ou cortao nos arvoredos; e pouco importou, se os pobres pinheiros podiaõ medrar. Se elles tivessem ficado nos seos bosques maternos, continuariaõ á reverdecer, e em poucos annos alastrariaō ramos uteis, cujas sombras balsamicas seriaō gratas ao cansado viajante; e eilos aqui agora convertidos n'hum duro, e inutil feixe de lenha.

Assim acontece a muitas jovens e inexpertas donzellas, que mui cedo forao das sombras da caza paternal transplantadas para o grande mundo. De que uzo lhe pode ali ser o retrato da virtude, o costume, o exemplo ? De que lhe serve uma descriçao, que ainda nao tem resistido aos attractivos da Lizonja, uma honestidade, que nunca foi provada por alguma occulta VOL. XV. Y

óccasiaõ de pecar, uma innocencia, que ainda nenhumas tentaçoens tem vencido com valor e constancia ? As donzellas forao boas, por que nunca tiveraō occasiaō de incentivo para serem más. Agora porem no vortice das dissipaçoens, incitadas por uma falsa honra, sitiadas pela seducçao e attrahidas pelos grandes exemplos, como depressa perdem ellas os poucos bons sentimentos, que lhes serviaõ de principios, e se viciaō, como os individuos, que as rodeao! Se ellas pao fossem tao cedo arrancadas do seu protector retiro, ellas se sasonariaō na simplicidade e innocencia para serem dignas esposas. Um homem de bem acharia a sua suprema ventura em seos braços, e virtuosos filhos um dia lhe agradeceriaõ sua plena felicidade.

XVI.-As Ruas do Jardim.

Olha, amiga, como estas tenras arvores entrelaçaõ densamente seos visinhos ramos, como formaō sobre as nossas cabeças hum tecto verde-claro, atravez do qual o sol brilha, e disperge as variadas sombras das folhas, já sobre o caminho, já sobre os nossos brancos vestidos. De modo e altura igual estaō ellas em ambos os lados; plantadas ao mesmo tempo, attendidas com o mesmo cuidado cruzáraõ ellas já, como doceis, as vergonteas e seos raminhos tenros; crescêrao umas com outras, e para as outras; e se unirao fazendo sombria arcada, á proporçao que crescêrao, e se vigoráraõ. Enlaçadas e somidas umas com outras, augmentaō progressivamente seos laços, vigoraō a sua uniao a despeito dos tempestades, e umas as outras prestao fortaleza e vigor.

Doce imagem de intima amizade e de Amor entre almas da mesma tempra, e identicas relaçoens; em que nada mais se reclama do que se concede, nada mais se recebe do que se dá: em que nenhuma dissonancia pela differença de estado, de idade, e temperamento interrompe a bella harmonia; em que um pensa, ama, e vive como o outro, e as faltas de um desaparecem nas boas qualidades do outro; em que as duas almas se unem n'um bello todo, apezar dos revezes, e do que nao dura so para este mundo!

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Mas vamos um pouco mais adiante. Há tambem

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